7 filmes recentes que exploram o universo musical
Lançados entre 2024 e 2025, filmes que celebram a música despontam nas telas e até garantem espaço nas grandes premiações
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Os filmes musicais sempre exerceram certo fascínio na indústria e nos espectadores. Amado por muitos e odiado por tantos outros, o gênero é uma forma de arte própria. Há quem diga que é o mais completo entretenimento, avançando narrativas por meio de canções, números de dança e personagens icônicos. Apesar de dividir opiniões, marcou a história do cinema. Afinal, sem longas do gênero, nomes lendários como Fred Astaire, Marilyn Monroe, John Travolta, Audrey Hepburn, Julie Andrews e Barbra Streisand não teriam despontado nas décadas passadas. Mas, olhando para o presente, ao que tudo indica, nos anos de 2024 e 2025 o gênero volta com tudo, com lançamentos importantes.
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Zoe Saldaña em Emilia Pérez
O gigante do streaming Netflix, em coprodução com a Saint Lauren, causou emoção no Festival de Cannes com o seu grande musical ou ópera-moderna: Emilia Pérez, uma produção francesa, falada e cantada em espanhol, estrelando Karla Sofia Gaston, Zoe Saldaña e Selena Gomez. As três levaram juntas o prêmio de melhor atriz e seguem sendo indicadas às grandes premiações de cinema. Não há forma melhor, senão com elementos musicais, para contar uma história que aborda amor, família, sexualidade e narcotraficantes do México. Mesmo que as canções originais não sejam as melhores composições do mundo, o filme tem um visual extremamente exagerado e figurinos espetaculares, elementos que garantiram o sucesso perante os olhos atentos do público e dos críticos, a ponto de se tornar uma das produções favoritas deste ano.
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A maior “concorrência” entre os musicais não é pouca coisa: Wicked: Parte 1, a adaptação cinematográfica da Universal de um dos maiores sucessos da Broadway, estrelando Ariana Grande e Cynthia Erivo. Entrou em cartaz no fim de novembro de forma avassaladora. O musical explora temas de amizade, preconceito e uma pitada de política na história das bruxas de O Mágico de Oz e tudo o que acontecia naquela terra antes da chegada de Dorothy. A produção teatral já conta com uma legião de fãs de carteirinha, está em cartaz há mais de 20 anos em Nova York e há quase anos similares em Londres. Já foram criadas versões em outros idiomas, com produções em diversos países, incluindo o Brasil – após duas temporadas de sucesso, está em pré-produção para a terceira.
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cenas de Wicked: Parte 1, Ariana Grande, como Glinda
O filme nutre a expectativa dos fãs ao selecionar Jon M Chu como diretor e manter uma forte participação do mesmo time criativo do teatro, caso do compositor Stephen Schwartz e da roteirista Winnie Holzman. Na produção, transformaram os dois atos da peça em dois filmes, permitindo que os personagens e as canções sejam mais desenvolvidos – isso sem contar os efeitos visuais e não ter que se limitar ao tamanho do elenco para as grandes cenas. Os atores Jonathan Bailey, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum e Peter Dinklage fortalecem o elenco, sem contar com os cameos (breve aparição de personalidades) lendários do teatro.
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Cena de Wicked: Parte 1, cenas de Wicked: Parte 1, com Cynthia Erivo, como Elphaba
Coringa: Delírio a Dois, no original, Joker: Folie à Deux, de Todd Philipps, está aí para comprovar que nem tudo são flores quando o assunto é musical. Ao contrário do primeiro filme, que foi um dos maiores sucessos de bilheteria, a sequência foi o oposto. Ao trazer um estudo de uma loucura de duas pessoas ao mesmo tempo, o filme usou a música como forma de ilustrar esse comportamento. O repertório se limitou a canções americanas famosas, como os standards Bewitched, Get Happy e outras, como When the Saints Go Marching in e a popular For Once in My Life. Apesar da boa seleção musical, a direção musical optou por fazer tudo mais lento e quase sem grandes acompanhamentos musicais, transformando o filme num musical sombrio (dark musical) e longo demais. Além disso, ao mesmo tempo que a produção aproveita o talento de Lady Gaga, a escolha também expõe as falhas de técnica vocal de Joaquin Phoenix, que não é um cantor profissional.
E, por falar em tragédia, não foram só as obras de ficção que marcaram presença musical neste ano. O filme Back to Black acompanha a vida de Amy Winehouse, passando por sua adolescência, a ascensão na música e os acontecimentos que levaram à sua morte. Dirigido por Sam Taylor-Johnson, traz uma interpretação impecável da britânica Marisa Abela no papel de Amy. A trilha sonora é uma mistura dos seus maiores hits com referências musicais de Amy, que vão de jazz até rezas em hebraico. Mesmo que não tenha sido um dos maiores sucessos do ano, deixa uma bela homenagem à curta vida e carreira de uma grande cantora.
De uma história digna de ópera para a de uma diva da ópera, Maria é a última produção de cinebiografias de mulheres icônicas do diretor chileno Pablo Larraín. Após explorar a vida de Jackie Kennedy Onassis e Lady Di, a personagem da vez é Maria Callas, interpretada por Angelina Jolie. A narrativa acompanha os últimos dias da vida da grande diva da ópera por meio de uma mescla de memórias, alucinações e recriação de registros históricos. O formato permite ao público vê-la em sua vulnerabilidade, para recuperar a sua voz e enfrentar vícios e problemas de saúde, ao mesmo tempo que recria momentos de sua personalidade forte e sua grandiosidade e reproduz frases icônicas um dia proferidas. Mesmo que não tenha sido a escolha mais óbvia para o papel quando pensamos em aparência física, Angelina Jolie materializa o entretenimento e o drama necessários para a construção da personagem – até mesmo aprendeu a cantar ópera para interpretar a La Divina.
Os homens também estão bem representados nas cinebiografias, com duas lendas com o mesmo primeiro nome artístico: Bob Marley e Bob Dylan. Dirigido por Reinaldo Marcus Green, o filme Bob Marley: One Love retrata a vida e obra do grande ícone do reggae, interpretado por Kingsley Ben-Adir, trazendo um pouco de sua vida pessoal e seu processo artístico, bem como o envolvimento político que o levou ao exílio na Inglaterra e ao retorno à Jamaica. Bob Dylan, por sua vez, tem seu início de carreira explorado em Um Completo Desconhecido, dirigido por James Mangold. O cantor folk é interpretado por Timothée Chalamet. A trama recria momentos em que o cantor estourou hits mundialmente, vida própria e um pouco da história da música, com outras lendas musicais como Joan Baez e Johnny Cash.
É impressionante que todas essas produções foram lançadas numa só temporada. A música se tornou uma personagem principal no cinema, seja ela o tema ou apenas o formato como as histórias são contadas. Mas, se pararmos para pensar, há alguma forma mais poderosa de provocar emoções do que por meio de uma melodia? Por isso, faço das palavras de William Shakespeare as minhas: “Se a música é o alimento do amor, não parem de tocar”.
Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 137 da Versatille