“Eu brinco que não sou turista, sou viajante. Não exploro um lugar, desbravo”, diz Daniela Filomeno, capa da Versatille

Com quase 60 países visitados, Daniela Filomeno, à frente do CNN Viagem e Gastronomia, compartilha memórias e aprendizados adquiridos ao longo da carreira

Foto: júlia von zeidler

Conversar com pessoas que possuem um vasto repertório é sempre interessante. Quem coleciona conhecimento, seja ele adquirido a partir de livros, filmes ou vivências, costuma compartilhar aprendizados em uma simples troca de palavras. Para Daniela Filomeno, foi esse desejo por espalhar suas experiências pelos quatro cantos que a tornou uma comunicadora nata.  

 

Primeiro no mercado corporativo, depois em um blog de viagens próprio, batizado de Viagem e Gastronomia, e agora na CNN, onde o seu site pessoal ganhou um programa televisivo e uma aba própria na plataforma do canal de notícias. Tendo visitado quase 60 países ao longo da vida, Daniela equilibra a rotina de viajante com outras demandas de “businesswoman” – como o podcast O Prato Delas, que apresenta ao lado das CEO’s Beatriz Ramos e Simone Sancho –, além da vida pessoal ao lado da família e dos amigos.  

 

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Confira, na sequência, a conversa.  

 

Versatille: Qual a sua relação com o turismo?  

Daniela Filomeno: Para mim, o turismo é uma forma de aprender cultura e história. Eu sou disléxica, então a única maneira que consigo guardar alguma informação é por meio da vivência. Cada viagem que a gente faz nos muda um pouco, tanto no quesito aprendizado quanto na questão da humildade, porque você conhece outras realidades. Eu passo isso para os meus filhos hoje em dia.  

 

 

V: Como você lidou com esse diagnóstico de dislexia?  

DF: Na época, a minha mãe decidiu não me contar. Eu sempre arrumei desvios para aprender, mas tinha muita dificuldade para decorar, e era isso que a escola exigia. Com o tempo, meus pais começaram a me levar para viajar muito pelo Brasil, e eu ia assimilando as informações que via na escola. Nunca foi uma coisa consciente: vou viajar para aprender. Mas acontecia e acontece até hoje.  

 

V: E qual o seu estilo de viagem?  

DF: Eu não gosto de viagens muito rápidas, com visitas a vários países em poucos dias. Uma vez fiz um roteiro assim com meus pais, e na hora de arrumar o álbum de fotografias não lembrava mais onde as fotos tinham sido tiradas. Nós nunca lembramos tudo de uma viagem, mas ficar mais tempo em cada destino nos ajuda a criar memórias e sentimentos, então é isso que eu tento fazer. Eu brinco que não sou turista, sou viajante. Não exploro um lugar, desbravo.  

 

 

V: Como você organiza suas viagens?  

DF: Eu sou muito aleatória (risos). Faço listas dos lugares que quero conhecer ao longo do ano, mas isso vai mudando no meio do caminho. Durante a viagem, meus planos também mudam. Recentemente, fizemos uma viagem surpreendente para a Ruanda. Chegamos em Kigali, a capital do país, com um itinerário, mas a caminho do Museu do Genocídio conheci um sobrevivente… a partir daí, o programa tomou um outro rumo. Chegamos a visitar um restaurante-escola com jovens que querem trabalhar no setor da gastronomia para impulsionar o turismo e a economia da cidade. Foi enriquecedor. Ter essa sensibilidade faz toda a diferença.  

 

V: Tem alguma viagem que mais marcou você? Por quê?  

DF: A Islândia sempre foi um sonho, mas conseguiu superar as expectativas. Tem vulcão – que inclusive entrou em erupção quando estávamos lá –, geleiras e praias de areia negra. Um mix de paisagens muito interessante. Além disso, a gastronomia me surpreendeu muito. O cordeiro da Islândia é surreal. Já no Brasil, eu voltaria milhões de vezes para os Lençóis Maranhenses e para os cânions de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.  

 

V: Como uma grande conhecedora de hotéis, o que é hospitalidade, em sua visão?  

DF: Serviço e pessoas. Você pode estar no melhor hotel do mundo, mas se alguém tratar você mal, a experiência cai por terra. Ser bem recebido, em um local aconchegante, é algo que transforma tudo.  

 

 

V: Qual o seu maior aprendizado nessa vida de viajante?  

DF: Eu tenho filhos pequenos e, durante a pandemia, descobri que não consigo ser professora (risos). Quando o turismo começou a voltar, eu os levei para conhecer o Brasil. Na Amazônia, eles puderam aprender com biólogos. Também visitamos escolas indígenas. Passeios para eles entenderem cultura, história e gastronomia. Mesmo quando viajo sozinha, trago para casa lembranças que vão agregar no aprendizado. Assim, eu os aproximo do meu trabalho e os faço compreender melhor a minha ausência. Acredito que meu maior aprendizado foi na construção desse equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

 

V: Você tem algum hobby que as pessoas nem imaginam?  

DF: Eu amo cozinhar, ler e montar Lego. Monto os profissionais, com muitas peças, como o Taj Mahal e o Coliseu, mas não tenho mais onde colocar em casa (risos). Quando quero relaxar, a receita é: uma taça de vinho, Lego e música.  

 

V: Você também é ativa em trabalhos sociais. Qual o papel desse pilar na sua vida?  

DF: No Brasil, ainda precisamos adquirir o hábito de fazer mais trabalhos sociais. Já aprendi que doamos o que podemos: dinheiro, roupa, comida ou tempo. O importante é ter essa consciência. Hoje, sou conselheira do Instituto Gerando Falcões e da ONG Alimentando o Bem, além de mentora no programa de empreendedorismo feminino Winning Woman, na Ernst Young Brasil. Recentemente, também me tornei embaixadora do programa Asmara, que foca a criação da renda a partir da doação de roupas e sapatos.  

 

 

V: Fazendo uma breve retrospectiva da sua vida, qual você acredita ser a sua maior conquista?  

DF: Ficar mais tempo com a minha família. Muita gente não sabe, mas eu já tive uma vida louca executiva, trabalhando até 12 horas sentada em um escritório. A minha escola é a comunicação corporativa, então passei por muitas empresas. Tínhamos um acordo silencioso de que a expectativa era dormir na mesa do escritório. Ninguém falava sobre, mas a gente sentia a pressão. Então a minha maior conquista hoje é fazer o que eu amo e ter mais tempo com meus filhos.  

 

V: Se pudesse voltar no tempo, o que diria para a Dani de anos atrás?  

DF: Você ainda vai viajar muito. Fica tranquila (risos). 

 

texto: beatriz calais

edição: giulianna iodice

fotos: júlia von zeidler

direção de arte: marcella fonseca

stylist: eduardo centurion

produção-executiva: deborah park

beleza: pablo felix

filmmaker: luana chagas

camareira: camarim sp

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