“Nós, como atletas, defendemos uma nação inteira durante as Olimpíadas”, diz o medalhista Italo Ferreira

Campeão mundial, primeiro medalhista olímpico do surfe e apaixonado por fotografias, o atleta fala sobre a vida dentro e fora do esporte

Foto: Gabriel Bertoncel

A lembrança do ouro nas últimas Olimpíadas está marcada na pele do surfista Italo Ferreira por meio de uma tatuagem com o símbolo dos jogos. Para ele, essa é uma maneira de recordar um dos momentos mais especiais de sua vida. Para o resto do mundo, no entanto, não é preciso muito esforço para que seu nome seja lembrado.  

 

Camisa Vilebrequin

 

Basta começar a falar sobre surfe que a menção a Italo ocorre, carregando o título de primeiro medalhista olímpico do esporte na história (visto que as Olimpíadas 2020 em Tóquio representaram o ano de estreia do surfe como esporte olímpico). Para quem acompanha a modalidade, também está fresca a vitória do surfista potiguar no WSL, o maior campeonato mundial de surfe, em 2019. Já em 2024, no último mês de junho, o surfista foi campeão em Saquarema (RJ), numa das etapas do WSL, o que o colocou em quarta posição para a final. Agora é torcer para que a penúltima fase, em Fiji, seja bem concluída e, em setembro, na Califórnia, tenhamos mais uma chance de vitória de Italo no WSL.  

 

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Em 2024, nas Olimpíadas de Paris, participará de outro ângulo: por conta de um acidente, está fora da competição e fará sua contribuição como comentarista na Globo. Uma boa oportunidade para que os espectadores o conheçam além da prancha de surfe. Fora do mar, Italo é um entusiasta da fotografia e possui uma ótima relação com as câmeras. Com orgulho de sua origem, também se dedica fortemente ao Instituto Italo Ferreira, que colabora com a educação de crianças e jovens de Baía Formosa, município do Rio Grande do Norte, onde o surfista nasceu e cresceu.

 

Tricô e calça Ferragamo

 

Aos 30 anos, o esportista ainda almeja conquistar muita coisa, mas já pode viver com a certeza de que tem o seu legado tatuado além de sua pele – na história do país. Em entrevista para a matéria de capa da Versatille, ele relembrou um pouco sua história e falou sobre Olimpíadas, sonhos, gostos e inspirações dentro e fora do esporte. Confira a seguir.

 

Versatille: Quando você se aproximou do surfe? 

Italo Ferreira: Sempre tive proximidade pelo fato de morar de frente para o mar, mas meu primeiro contato real foi surfando com a tampa da caixa de isopor que meu pai utilizava para guardar os peixes que pescava. Virou meu passatempo ficar na água brincando, ainda mais porque eu tinha muita energia para gastar [risos]. Com cerca de 8 anos eu ganhei uma prancha de verdade do meu pai e logo já fui participar do meu primeiro campeonato de surfe local. O presente foi dado porque eu era competitivo, e foi assim que me aproximei do esporte. Comecei a competir em outros campeonatos que me davam premiações em dinheiro e me permitiam ajudar a minha família, porque não tínhamos muitas condições financeiras. O esporte nos impulsionava em alguns momentos.   

 

Jaqueta Ami Paris

 

V: E qual foi o maior desafio da sua carreira? 

IF: O maior desafio da minha carreira foi conseguir ir às competições. No início, eu não tinha tantas condições, então era difícil conseguir verba para viajar. Eu fazia provas pelo Nordeste, que era o que conseguia bancar, mas era em São Paulo e em Santa Catarina que estavam as maiores. O Sudeste tinha muitas oportunidades, mas eu não conseguia chegar. Acabei me destacando na minha região, consegui o meu primeiro patrocínio aos 13 anos e aí sim percebi que essa era a minha chance de evoluir como surfista. Com essa oportunidade, fiz a minha primeira viagem internacional, o que é muito bom para a minha profissão. Em Baía Formosa, as ondas são pequenas, então foi durante as viagens para outros estados e países que eu aprendi a surfar ondas maiores.  

 

 

V: Você era muito jovem nessa época. Como foi ter que lidar com tantas mudanças sendo tão novo?

 IF: Eu competia nas categorias de pessoas mais velhas que eu. Na época que eu tinha 15, por exemplo, competia com uma faixa etária de 25 a 30 anos. Pessoas experientes já. Eu não tinha o mesmo conhecimento que eles, mas surfava e vencia, então para alguns atletas isso era incômodo. Algumas vezes me deixavam um pouco de lado por conta disso. Era chato, mas eu sabia do meu potencial e o que precisava fazer se tivesse a oportunidade.  

 

V: Ao longo de toda a sua trajetória, qual foi a maior conquista? 

IF: A maior conquista, sem dúvida, foi ter ganhado o ouro nas Olimpíadas. Ainda mais por ter sido na estreia do surfe como esporte olímpico. Na época, nós sabíamos que quem ganhasse a primeira vez estaria marcado para sempre na história.  

 

Blazer, regata e calça Ferragamo

 

V: Como é a preparação para as Olimpíadas? 

IF: É bem diferente da preparação para um campeonato mundial de surfe, que tem provas todos os meses e exige um treino full time. Para o circuito mundial, eu dediquei a minha vida inteira. Já as Olimpíadas não existiam no radar do surfe. Então tivemos pouco tempo. De qualquer forma, a preparação é sempre a parte mais difícil. Você abre mão de muita coisa. A competição é a parte prazerosa, principalmente quando tem um bom resultado no fim.  

 

V: Quais as expectativas para essa nova experiência como comentarista nas Olimpíadas de 2024? 

IF: Infelizmente, não é o meu momento de participar e defender o Brasil, mas de alguma forma vai ser legal estar próximo e poder acompanhar tendo uma visão de fora. Vai ser uma experiência diferente assistir aos atletas competindo de um outro ângulo. Isso sem dúvida vai impactar na forma com que eu vou voltar para a competição. Espero voltar sabendo o jogo de cada um. 

 

Camiseta polo James Perse, jaqueta e calça Ami Paris

 

V: Como você enxerga o reconhecimento do país pelos atletas olímpicos? 

IF: Nós, como atletas, defendemos uma nação inteira durante as Olimpíadas, então as pessoas acabam abraçando a nossa história. Receber essa força é mais que positivo. Nos últimos jogos estávamos na época da pandemia de Covid-19, então estava todo mundo na internet acompanhando. Eu recebi muitas mensagens bonitas, e isso foi me dando forças para conseguir a medalha de ouro.  

 

V: O que é o surfe para você? 

IF: O surfe é a minha alegria. É o que me preenche no dia a dia. 

 

 

V: Você possui algum hobby que as pessoas não imaginam? 

IF: Fotografia! Eu gosto muito. Sempre que estou viajando faço muitas fotos. Também adoro participar de projetos de fotógrafos, o que inclusive resultou naquela foto famosa do eclipse. Aquela foto, do Marcelo Maragni, teve uma repercussão tão grande quanto as Olimpíadas [risos]. O mundo inteiro compartilhou. No meu caso, eu gosto de fotografar animais e natureza, principalmente quando se trata do pôr do sol. 

 

Camisa e calça Vilebrequin

 

V: Para você, como é um dia perfeito? 

IF: Um dia viajando em um destino de surfe. Acho que a minha viagem mais marcante foi para as Maldivas. Por mais que não pareça, é um destino com boas ondas. Foi uma das melhores viagens da minha vida.  

 

V: Qual a importância do Instituto Italo Ferreira na sua trajetória?  

IF: Meu instituto é uma das minhas maiores conquistas. Atendemos cerca de 120 crianças lá em Baía Formosa, o lugar onde eu nasci e criei memórias incríveis. O instituto fica na minha casa antiga e são meus pais e minha irmã que cuidam da iniciativa no dia a dia. Eu passo o ano viajando muito, mas quando posso estou lá. Sempre que estou em casa, visito para poder estar próximo das crianças e, de alguma forma, interagir com elas. É uma conquista muito legal. No fim de tudo, é isso que realmente importa.  

 

Jaqueta e calça Ami Paris

 

V: Quais são os seus planos e metas?  

IF: A minha cabeça não para. A todo tempo estou pensando em algo, mas creio que o que vem na minha cabeça é poder ser campeão nas Olimpíadas novamente. Se eu ganhar essa medalha de novo, posso pendurar na parede e descansar [risos]. Brincadeira. Creio que, se eu conseguir isso, vou querer de novo.  

 

 

texto: beatriz calais 

edição: giulianna iodice

fotos: gabriel bertoncel 

direção de arte: marcella fonseca

tratamento de imagem: aldo guimarães 

stylist: eduardo centurion 

produção-executiva: deborah park 

grooming: pablo felix 

produtos: lowell e shiseido

filmmaker: jack lima 

camareira: camarim sp

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