Obras inéditas de Alfredo Volpi serão expostas e leiloadas

A exposição inicia nesta segunda-feira (23), em São Paulo, com seis pinturas do acervo pessoal do artista ítalo-brasileiro

O pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi em dezembro de 1981

Seis obras inéditas e icônicas do grande pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896 – 1988) serão expostas e, posteriormente, leiloadas, no mês de outubro, em São Paulo. Antes que toda a coleção seja vendida, haverá uma única oportunidade para conhecê-las na exposição que acontece entre os dias 23/10 e 30/10, no escritório de arte do leiloeiro James Lisboa. A praça está marcada para o dia 31 de outubro, às 21h, online, no site Leilão de Arte e no Canal Arte1.

 

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“É como comprar uma obra direto das mãos de Volpi”, pontua Lisboa sobre a grandiosidade do evento. Para a filha do artista, Djanira Volpi, trata-se, claramente, de um momento especial: “Tenho prazer em leiloar as obras do meu pai, fico emocionada, mas muito feliz. Uma oportunidade para disseminar ainda mais seu trabalho.”

 

Alfredo Volpi, Sem Título, (1970), 67,5 x 135,7 cm, têmpera sobre tela

Alfredo Volpi, Sem Título, (1970), 67,5 x 135,7 cm, têmpera sobre tela (Reprodução fotográfica de Luan Torres)

 

Nascido em Lucca, Itália, veio para o Brasil ainda bebê, em 1897, e se consagrou como um dos mais importantes do Brasil e do mundo. As seis obras que estavam em comodato no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e serão leiloadas, faziam parte do acervo pessoal do artista e adornavam as paredes de seu lar, como conta o curador Olívio Tavares Araújo: “Quanto à casa – um sobradinho no Cambuci, bairro de pequena classe média não longe do centro de São Paulo – os que ainda estamos vivos e tivemos o privilégio de frequentá-la nos lembramos dos poucos quadros nas paredes – mesmo porque o espaço era pequeno e não comportava mais nada”.

 

Alfredo Volpi, "Casas, Mastros, Barcos e Mar" (1944), 34,5 x 27 cm, têmpera sobre tela

Alfredo Volpi, “Casas, Mastros, Barcos e Mar” (1944), 34,5 x 27 cm, têmpera sobre tela (Reprodução fotográfica de Luan Torres)

 

Olívio também relata que, por frugalidade, Volpi não tinha vocação de colecionador de suas próprias obras, ou de outros. Ele conta que o artista possuía cinco quadros trocados com amigos – como um Milton Dacosta, um Barsotti –, e uma dúzia de sua autoria. Destes, seis se encontram reunidos na exposição.

 

Alfredo Volpi, "Judite" (1940), 72,6 x 116 cm, têmpera sobre tela

Alfredo Volpi, “Judite” (1940), 72,6 x 116 cm, têmpera sobre tela (Reprodução fotográfica de Luan Torres)

 

Entre eles, um dos destaques é a obra “Judite", uma tela em homenagem à grande companheira do artista, Benedita da Conceição, que tinha o apelido de Judite, e permaneceu na parede de sua casa por mais de quarenta anos. Segundo a filha do artista, sua amada (que faleceu antes) permaneceu com ele até o fim. “Essa obra ficava na sala de casa e ficou com meu pai até o final da vida. Era a ‘preferida’ dele, o coração da casa.” Criada nos anos 1940 – Olívio explica que curiosamente Volpi não costumava datar suas obras – ‘Judite’ é uma têmpera sobre tela e traz uma iluminada nudez feminina. “As luzes sobre o corpo de Judite são quase como recortes brancos feitos num impulso. A despeito do assunto supostamente lírico, o quadro é vigoroso e um pouco dramático. É provável que Judite tenha posado, mas poderia tratar-se perfeitamente de trabalho de imaginação”, revela o curador. Com valor mais alto desse leilão, a obra terá lance inicial em R$6 milhões.

 

Alfredo Volpi, "Retrato de Hilde Weber" (1940), 115 x 88 cm, têmpera sobre tela

Alfredo Volpi, “Retrato de Hilde Weber” (1940), 115 x 88 cm, têmpera sobre tela (Reprodução fotográfica de Luan Torres)

 

Outro destaque do leilão é “O Retrato Hilde Weber”, que tem lance inicial de R$5,5 milhões. O curador Olívio o define como levemente mais antigo, mas ousado, e talvez até mais moderno, que “Judite”. Hildegard Wilhelmine Weber (1913-1994), mais conhecida como Hilde, foi uma desenhista alemã com estudos feitos em Hamburgo. Chegou ao Brasil em 1933 e foi a primeira mulher chargista da imprensa brasileira. Ela fez ilustrações para publicações como A Cigarra, O Cruzeiro e Manchete, e jornais como Tribuna da Imprensa e O Estado de S. Paulo.

 

Alfredo Volpi, "Fachada" (1970), 30,6 x 22 cm, têmpera sobre tela

Alfredo Volpi, “Fachada” (1970), 30,6 x 22 cm, têmpera sobre tela (Reprodução fotográfica de Luan Torres)

 

Dono de uma simplicidade ímpar e muito característica, Volpi, mesmo depois dos títulos de excelente artista, nunca abandonou suas origens e métodos que o levaram a ser o ícone que é ainda hoje. “Para trabalhar, continuava usando os mesmos tamancos dos tempos de operário, picava o fumo e enrolava seus perfumados cigarrinhos de palha”, diz Olívio. O curador fala também sobre uma técnica que o artista usava antes de finalizar seus trabalhos, a qual se baseava em pequenos estudos sobre cartão para testar novas composições ou novos coloridos em composições preexistentes, para então realizar as versões definitivas em tamanho grande.

 

Alfredo Volpi, "Dom Bosco" (1960), 47,8 x 66 cm, têmpera sobre papel

Alfredo Volpi, “Dom Bosco” (1960), 47,8 x 66 cm, têmpera sobre papel (Reprodução fotográfica de Luan Torres)

 

Foi a partir desta técnica que surgiu a obra “Dom Bosco” (1961), uma têmpera sobre papel de 47,8 x 66 cm, a qual tornou-se uma obra feita por Volpi in loco, no Palácio Itamaraty. “A homenagem a Dom Bosco se explica pelo fato de que coube-lhe profetizar, em 1883, que naquele local um dia se ergueria uma grande cidade. O painel foi executado in loco pelo próprio Volpi utilizando a difícil técnica renascentista do afresco, a mais adequada à pintura mural”, diz Olívio. Segundo o curador, o artista impregna em superfícies de reboco ainda não solidificado, os pigmentos que, depois de secos, adquirem longa durabilidade. Para o leilão, o estudo de “Dom Bosco” parte com lance de R$1 milhão.

 

Serviço

 

Exposição Alfredo Volpi – Obras inéditas

Local: Rua Melo Alves, 397 – Jardins
Período expositivo: 23 a 30 de outubro
Horário: das 10h às 18h
Entrada franca

 

Leilão

Data: 31 de outubro
Horário: 21h Online no site www.leilaodearte.com e no Canal Arte1

 

Por Redação

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