Da bandeira para as roupas: conheça a tendência brazilcore

A ascensão do brazilian aesthetic destaca o país no circuito da moda e traz de volta o sentimento patriota coletivo

Anitta representando o brazilian aesthetic (Foto: Getty Images)

Brasil, meu Brasil brasileiro. Brasil do futebol, da natureza, do samba, da alegria, do verde e amarelo. Em 2022, chega a vez do Brasil da moda. Camisetas da seleção vintage, bonés, Havaianas, biquínis, regatas e bermudas são alguns dos elementos visuais que têm dominado as redes nos últimos meses, trazidos à tona pela ascensão do braziliancore, também conhecido como brazilian aesthetic. Embora denote a simples representação da essência brasileira por meio das cores da bandeira, a construção desta nova tendência simboliza um momento de transformação social. A trend ainda é predominante no Brasil, mas o TikTok, responsável por viralizar estéticas nos tempos atuais, indica sua crescente popularidade uma vez que a hashtag “brazilcore” já acumula mais de 20 milhões de visualizações.

 

Hailey Bieber (Reprodução)

 

Antes de tornar-se a febre do momento no Brasil, o estilo já era adotado nas periferias, espaço onde surgem de fato diversas tendências, muitas vezes desvalorizadas pelas classes sociais mais altas da sociedade. O ano de 2022, sem dúvidas, marca a história do país com eventos essenciais para disseminar a estética que, apesar de sua controvérsia, não deixa de unir a população brasileira. Além da Copa do Mundo de futebol, é claro, comemora-se o bicentenário da Independência do Brasil, bem como as eleições mais acirradas desde a redemocratização da república.

 

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“Eu vejo que existe uma ideia de fazer as cores do Brasil serem legais novamente”, diz Renata Brosina, jornalista de moda e fundadora da Portrait Fashion Magazine. Não é segredo que esses símbolos foram adotados de forma política e, por conta da polarização nos últimos anos, tornaram-se elementos mais sensíveis a serem adotados, principalmente fora do contexto esportivo. Ao ocupar essa esfera da moda, com uma abordagem estética mais elaborada do que apenas a de torcedor, o estilo traduz uma tentativa de ressignificar símbolos brasileiros para resgatar o sentimento patriótico sem que ele carregue algum tipo de peso.

 

No Brasil, modelos e influenciadoras digitais têm se destacado justamente por essas criações fashionistas virais. Malu Borges, por exemplo, que soma mais de 3 milhões de seguidores em seu TikTok e 487 mil no Instagram, fez postagens vestindo a jaqueta do Brasil com calça cargo, wide legs e até scarpin. Lele Burnier, por sua vez, que acumula mais de 2,5 milhões de seguidores no TikTok e 692 mil no Instagram, já apareceu em posts com combinações de peças de alfaiataria, tricô, vestido curto, clutches e camisas de seda, todas mesclando as cores nacionais. Até mesmo a modelo Juliana Nalu, nova namorada de Kanye West, publicou fotos em seu Instagram vestindo uma jaqueta puffer com a estampa da bandeira do Brasil – que conta inclusive com a expressão “Ordem e Progresso” – confeccionada à mão pelo designer capixaba Shalon Txai, usada por ela para a última temporada da New York Fashion Week. 

 

Lele Burnier (Reprodução)

 

Embora tais nomes tenham papel importante no impulsionamento da estética nas redes atualmente, é inegável a importância da Anitta nessa difusão, que tem enaltecido, nacional e internacionalmente, o braziliancore antes mesmo de ele viralizar. “Ela é o maior nome da cena pop que o Brasil já teve e que alcançou algo inédito. Anitta usa as cores do país e lembra muito das suas origens do Rio também na forma como se veste”, diz Renata. Em sua primeira participação performática este ano no Coachella, festival de música que acontece no Coachella Valley, na Califórnia – mais um marco para sua carreira – ela vestiu um figurino  nas cores da bandeira e fez uma abertura inteira enaltecendo o funk, em meio às favelas como cenário. 

 

As marcas brasileiras e de fora também contribuem, claro, para o fortalecimento da tendência. Em agosto deste ano, a Nike e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lançaram a coleção de camisas da seleção inspiradas na onça pintada com a campanha intitulada de “Veste a Garra”, que contou com esportistas renomados, ídolos da cultura pop nacional e atletas da nova geração. A Misci, por sua vez, tem se destacado por trazer um Brasil bem literal nas coleções, com cores em tons terrosos e coloridos, palha nos calçados e outros elementos inspirados no território nacional. A PIÑA, do estilista carioca Abacaxi, também utiliza cores e símbolos brasileiros em suas criações. Um exemplo é a coleção apresentada em março deste ano na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com peças que incluíam recortes cut-out, amarrações, transparência e combinações das cores verde, azul, amarelo e branco com a bandeira do Brasil.

 

No cenário internacional, indícios da tendência foram explorados pela Balenciaga em 2020, que lançou uma coleção inspirada no futebol e trouxe de volta as camisas de time para o street style. Nos looks atuais, é possível identificar também a influência  da estética dos anos 70 e 2000 que trazem as famosas cinturas baixas e cores vibrantes, entre elas, o verde e o amarelo.  Na Semana de Moda de Copenhague, que ocorreu em agosto, o brazilian aesthetic também ficou em evidência: durante o evento, vários convidados e visitantes foram vistos com os chinelos Havaianas, popularizados na região recentemente por posts da influenciadora escandinava Matilda Djerf.

 

Um ponto a ser observado, todavia, é que as aparições virais do braziliancore muitas vezes se limitam à coloração ou até a um toque glamourizado em looks complementados por elementos de luxo, como joias e bolsas de grife.  “Não vejo elementos que saiam muito desse das cores da bandeira. Obviamente, o Brasil tem uma série de outros elementos nacionais que poderiam simbolizar esta trend, mas não tenho percebido isso acontecendo. Por exemplo, não vejo palmeiras nas estampas ou referências mais ilustrativas do que pode caracterizar o país”, diz Renata. 

 

Juliana Nalú (Reprodução)

 

Algumas personalidades gringas, no entanto, chamaram a atenção por exaltar o Brasil não só pela vestimenta, mas também pela arte e pelos famosos símbolos gastronômicos, que carregam tanto afeto coletivo. A cantora Dua Lipa, ao chegar no Brasil para se apresentar em shows individuais e no Rock in Rio, publicou, no Instagram, imagens no Instituto Bardi | Casa de Vidro, em São Paulo, e segurando uma sacola de pão de queijo e um brigadeiro. Já a modelo Hailey Bieber, que veio ao país para acompanhar o cantor Justin Bieber, seu marido, que também se apresentou no festival, postou fotos vestindo a camisa da seleção com uma latinha de Guaraná em mãos, além de takes de feijoada e, de novo, de brigadeiro.

 

Dua Lipa (Reprodução)

 

“Dentro do cenário que eu conheço, a imagem e a estética do Brasil são vistas com um olhar atraente. Talvez seja esse seja um momento de colocar o país no circuito da moda como forma de disseminação das cores, por serem menos casuais (verde e amarelo juntos não são tão usuais no dia a dia). E essa ousadia, além de ter as cores da nossa bandeira, pode dar aquele toque de alegria presente na essência pela qual o Brasil é conhecido” conclui Renata. 

 

Por Laís Campos |Matéria publicada na edição 128 da Versatille

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