Empatia que nos falta
O colunista Murillo de Aragão fala sobre como a empatia para tratar de questões como a desigualdade não é só uma questão de dignidade, como também de inclusão econômica e geração de prosperidade
Anos atrás escrevi para o Blog do Noblat um texto sobre a empatia. O gancho era o fato de a Dinamarca estar introduzindo, em 2016, a matéria “Empatia” na grade escolar. E eu acreditava tratar-se de uma iniciativa que deveria ser adotada nos currículos nacionais. Obviamente, porém, a sugestão não mereceu nenhuma atenção.
Em um país que mal educa os seus e que mantém uma das maiores desigualdades do planeta, ensinar empatia está longe de ser prioridade. Fato é que o mundo, de 2016 para cá, ficou ainda mais intolerante e menos empático.
No Brasil, as campanhas eleitorais ficaram mais agressivas, e o debate político ainda mais rasteiro do que o habitual. Tudo amplificado pelas narrativas das redes sociais. São tempos de intolerância.
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O combate à intolerância envolve empatia. Não apenas aquela vinda de uma natural expressão do ser humano, mas também a ensinada como disciplina, reproduzida como comportamento essencial. Em especial, na política, que termina por balizar o comportamento da sociedade.
Ter empatia na política é reconhecer os outros. Vale lembrar a frase com que Scott Fitzgerald abre o romance The Great Gatsby: “Sempre que tiver vontade de criticar alguém, lembre-se de que nem todo mundo teve as oportunidades que você teve.” No entanto, em um mundo cada vez mais orientado por interesses e não por princípios, não é fácil se colocar no lugar do outro e imaginar o que ele sofre ou vive. Pois está em curso uma disputa entre princípios e interesses.
A questão é paradoxal, já que todos podem saber de tudo ao mesmo tempo. Sabemos mais sobre tudo do que as gerações anteriores. As redes sociais ampliaram a difusão da informação. E, também, os meios de exercer a empatia, por meio de ações de solidariedade a causas e pessoas.
Por outro lado, a empatia se perde quando discutimos políticas públicas que beneficiam poucos e prejudicam, pela falta de efetividade, a maioria. O exercício da democracia fraqueja ao não concretizar uma eficiência que seja empática, no sentido de atender à necessidade do próximo e promover a redução da desigualdade.
Tampouco devemos imaginar que o exercício da empatia tenha que se desdobrar em assistencialismo e/ou paternalismo. O passo essencial é exercitá-la a partir dos princípios básicos do humanitarismo, os quais visam à melhoria da condição humana.
No Brasil, ter empatia para tratar de questões como a desigualdade não é só uma questão de dignidade, como também de inclusão econômica e geração de prosperidade. Afinal, pensar nos outros não é bom apenas para a humanidade. É bom também para a economia. Temos um contingente expressivo de brasileiros que pode consumir mais e melhor.
Aos poucos, e cada vez mais, o mundo dos investimentos poderá considerar a empatia no julgamento de suas escolhas. Não é um movimento simples nem rápido. Tampouco inexorável. Dependerá de um entendimento mais sofisticado da sociedade e da economia. Afinal, a prosperidade econômica e a justiça social dependem da liberdade, da democracia e da empatia.
Por Murillo de Aragão, advogado, jornalista, professor e cientista político