A arquitetura no ato de morar

O colunista Sig Bergamin fala sobre como a arquitetura e a decoração das novas gerações estão ligadas às memórias afetivas, à sustentabilidade e principalmente ao conforto

(Foto: iSAW Company/Pexels)

É interessante perceber como de fato estamos vivendo e entrando em novos tempos. E isso não é uma falácia jogada aos sete ventos. Percebemos, sim, novos hábitos de consumo, de uso da mídia, alimentares, tecnológicos… Tudo ao nosso redor mudou. Eu mudei e você que está lendo também.  

 

O que também foi transformado, como já venho falando há muito tempo, foi a forma de morar. Estamos diante de uma arquitetura e decoração muito mais atreladas às memórias afetivas, à sustentabilidade, ao compartilhamento e principalmente ao conforto. O Instagram e o TikTok acabam influenciando esse novo morar, que precisa ser visto, revisto, curtido, salvo – mas, sobre esse aspecto, deixarei para as novas gerações explicarem. 

 

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A CasaCor de São Paulo, em 2022, é um reflexo de todas essas transformações que estamos vivenciando, e isso não é uma tendência. Aliás, eu odeio essa palavra, pois isso não existe. O que é real é você entrar no ambiente e sentir algo. Gostar, não gostar, sorrir, ficar triste, alegre. Se você sentiu, algo em você foi mexido, e é isso que eu e os diversos profissionais em quase 60 espaços fizemos ou tentamos fazer. O que temos de evitar é a indiferença. Bons projetos provocam emoções! Bons profissionais exploram isso.  

 

Agora, falando da mostra, as surpresas acontecem desde o local. O emblemático Conjunto Nacional, localizado na Avenida Paulista, do grande arquiteto David Libeskind, é um dos primeiros edifícios do Brasil de uso misto – residencial, comercial, de serviço e lazer. Tudo integrado, aberto e fluido desde 1958, em seus 111 mil metros quadrados de área construída. É notório perceber que hoje estamos retomando a construção de edifícios de uso misto, ainda que timidamente. Passamos décadas negando essa solução, que hoje sabemos bem que promove segurança, valoriza o entorno e também oferece qualidade de vida. 

 

A CasaCor utiliza 10 mil metros quadrados que estavam havia dez anos abandonados no primeiro piso do edifício. Com um ousado masterplan atrelado a um belo projeto paisagístico, criou-se um fluxo que respeita a história do prédio, assumindo a “ruína” de uma década de abandono. Já o elenco, cada um a sua maneira, tira partido ou oculta esse cenário estabelecendo relações que jamais vi em nenhuma outra CasaCor.  

 

E, falando do elenco, é louvável como a arte está presente! E como pequenos gestos afetivos e curadorias sensíveis dão vida a cada espaço, fazendo dessa edição uma das mais expressivas que já presenciei. Mas eu, como um amante de cores, senti falta de um azul, de toques de amarelo ou um vermelho intenso. O branco-bege-cinza reina absoluto, mas vejo que cada vez mais as pessoas (e os arquitetos) estão se permitindo experimentar um mundo mais colorido. 

 

Concluo com algo que disse lá no início: arquitetura e decoração são para ser vivenciadas, sentidas. É sobre despertar emoções. Até 11 de setembro, vocês podem ter um gostinho disso na Paulista. 

 

Por Sig Bergamin, arquiteto e designer de interiores

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