Uma questão de escolha

O colunista Murillo de Aragão fala sobre o impacto das escolhas no decorrer da vida humana

(Foto: Pexels/Andres Ayrton)

Albert Camus diz que a nossa vida resulta da soma de nossas escolhas. Parece uma constatação banal, mas não é. Uma reportagem do jornal inglês The Mirror menciona uma pesquisa que aponta que uma pessoa comum costuma tomar mais de 700 mil decisões ao longo da vida, entre as quais, provavelmente, se arrependerá de cerca de 20%. O estudo constata que um adulto típico toma cerca de 27 decisões por dia, ainda que, provavelmente, venha a se arrepender de pelo menos cinco.

 

A questão não para aí e pode tomar proporções gigantescas. Em um estudo publicado em setembro de 2018, a pesquisadora Eva M. Krockow constata que podemos olhar – o “eye popping” – e fazer escolhas 35 mil vezes ao dia, o que pode significar mais de 2 mil por hora. Esse total englobaria opiniões e julgamentos sobre objetos, roupas, pessoas, fatos, clima, trânsito, trabalho etc. Nem sempre se trata de escolhas propriamente. Muitas vezes são juízos sobre se gostamos ou não do que vemos, se a forma ou o conteúdo de algo agrada ou não, entre outras nuances, o que, sem dúvida, termina podendo embasar uma decisão. 

 

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No século 20, instalou-se no mundo uma civilização baseada no consumo em que abundam ofertas de produtos e serviços. Antes eram poucas as opções no mercadinho da rua. Hoje, megassupermercados oferecem milhares de opções de compra. No livro The Paradox of Choice – Why More Is Less (2004), o psicólogo americano Barry Schwartz argumenta que reduzir as possibilidades de escolha pode diminuir bastante a ansiedade dos compradores. 

 

O livro analisa o comportamento de diferentes tipos de consumidores diante da excessiva quantidade de ofertas nos tempos atuais e conclui que o exagero de opções, em vez de se transformar em solução, vira, para muitos, uma obsessão. E Schwartz indica que, paradoxalmente, a obsessão deflagrada pela multiplicidade de opções pode nos encorajar a escolher aquilo que nos faz sentir pior, e não melhor.

 

Não vejo assim. Acho que a impossibilidade de conseguir fazer a escolha almejada pode aumentar o sentimento de fracasso e frustração. Muitos se sentem pressionados por não ter a calça jeans da marca que desejam ou uma bolsa da Louis Vuitton. Não à toa, alguns, ao comprar produtos falsificados, buscam justamente aplacar a frustração de não ter o original exibindo um objeto similar. Na linha do que disse Camus, a medida do sucesso de um indivíduo resulta da soma de escolhas acertadas que ele faz ao longo da vida. 

 

O desafio que se apresenta não é trivial, já que a opção certa pressupõe que se tenha expectativas adequadas sobre o que se está escolhendo. É ruim decidir-se por um carro que não se pode pagar. Ou amar quem não nos ama. Portanto, o que nos separa do sucesso é saber equacionar nossos desejos e nossos anseios frente às decisões que devemos tomar. Como palavra final, escolha ser feliz, porque, ao fim de tudo, é o que importa. 

 

Por Murillo de Aragão, advogado, jornalista, professor, cientista político, presidente da Arko Advice Pesquisas e sócio-fundador da Advocacia Murillo de Aragão

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