“Os 50 anos são um marco de sucesso para as mulheres”, diz a chef Silvia Percussi
No novo quadro 3X4, a chef de cozinha por trás do clássico italiano Vinheria Percussi fala sobre sua trajetória e suas metas de vida
Formada em decoração de interiores e apaixonada pela arte, Silvia Percussi mal imaginava que sua vida um dia se encaminharia para o lado da gastronomia. Foi apenas em 1988 que ela decidiu se juntar ao restaurante que seus pais, Luciano Percussi e Maria Grazia, haviam inaugurado em 1985: o Vinheria Percussi. Localizada no bairro de Pinheiros, a casa gastronômica se tornou referência de cozinha italiana na capital paulista – e tudo isso, principalmente, por conta do talento nato de Silvia para ser chef de cozinha, algo que ela só descobriu quando colocou o design de lado para criar menus de dar água na boca.
No novo quadro 3X4 da Versatille, Silvia discorre sobre sua trajetória e seus objetivos de vida. Confira, a seguir, a conversa completa.
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Versatille: A realização profissional sempre foi uma prioridade em sua vida?
Silvia Percussi: Quando eu era pequena, lembro de estar no colégio e falar para minhas amigas que queria ser uma pessoa independente. Lembro disso como se fosse hoje. Devia ter uns 9 anos. Mesmo assim, não aspirava a essa questão profissional como acabou acontecendo. Estudei desenho industrial, cursei decoração de interiores e adorava essa área por ser uma pessoa bem ligada à arte. Mas foi só quando entrei no mundo dos restaurantes, em 1988, que tudo fez sentido para mim, como se ocorresse uma conjunção de astros que unisse todas as coisas de que eu mais gostava na vida: comida, pessoas e ambientes. Eu gostava de recepcionar as pessoas. Sou canceriana (risos). Então tive muita sorte nesse aspecto.
Nessa época em que acabei virando chef e dona de restaurante, eu nem tinha ideia do que isso ia se tornar. Ao longo dos anos, fui me profissionalizando cada vez mais, então sempre brinco que fui escolhida por minha profissão. Na realidade, minha família era minha prioridade, não o trabalho. No início do restaurante eu me doei por inteiro, mas, depois que casei e tive minha filha, minhas prioridades mudaram. Teve muita coisa que não aceitei para ficar com eles, não queria ir além, então em primeiro lugar era minha família. Depois vinha o restaurante. Realmente foi a profissão que me escolheu.
V: Quando decidiu que queria seguir a carreira de chef e compartilhar isso em suas redes sociais?
SP: Minha carreira como chef aconteceu naturalmente, e a produção de conteúdos digitais também. As redes acabaram facilitando minha comunicação. Eu sou uma boa comunicadora: gosto de partilhar minhas experiências de vida e minhas receitas e dar dicas de curiosidades que foram legais para mim. Sendo assim, foi fácil começar a me comunicar com as pessoas de maneira on-line. O restaurante vai reabrir em novembro, então essa área de minha vida está um pouco mais lenta, mas logo volto com mais carga em meus conteúdos também.
V: Qual considera seu maior desafio em sua trajetória profissional como mulher?
SP: O desafio da mulher não termina nunca. Somos profissionais, mães, esposas, familiares e amigas. É muita coisa para pensar, e ainda por cima a sociedade é muito cruel com a gente. Não podemos envelhecer, engordar nem ter cabelo branco. Graças a Deus tem muitas mulheres inteligentes e bacanas mudando esse estigma e essa imagem, mas eu acho que tudo acaba sendo desafiador para a mulher por conta disso. Para o homem, tudo é normal, mas para a mulher tem essa carga de desafio. É mais difícil ser ouvida e respeitada, por exemplo. Meu maior desafio sempre foi este: mostrar competência.
V: Para a mulher, quão determinante é a idade para alcançar a realização profissional e pessoal?
SP: Não tem idade para a mulher alcançar a realização profissional. Tem profissionais superjovens já realizadas, assim como mulheres mais velhas se descobrindo. Já a realização pessoal, que eu chamaria de serenidade, leva um tempo.
Quando chegamos aos 50 anos, fechamos um ciclo enorme. A mulher com 50 já pode ter sido mãe, passado por casamentos e ter tido uma profissão. Ela se aceita, valoriza sua trajetória e não se compara mais aos outros. Essa mulher pode até recomeçar com mais serenidade, se quiser. Os 50 anos são um marco de sucesso para as mulheres.
V: Quais projetos têm desenvolvido atualmente?
SP: Um dos projetos em que estive muito envolvida recentemente foi o delivery do Vinheria Percussi, que está superbacana. Nós o separamos do salão, então fizemos toda uma comunicação especial e única para o delivery. Nos dedicamos bastante a isso. Nesse meio tempo, também mudei de casa. Saí de uma casa que eu morava há 28 anos e vim para um apartamento, que foi um projeto que comprei na planta e estava há quatro anos cultivando. Estou superfeliz com essa mudança. E agora também estamos reformando o espaço do nosso restaurante, que deve reabrir em novembro. Nesta semana começo a desenhar o novo cardápio. Estamos curtindo esse renascimento. Está sendo um ano produtivo, com muitas mudanças.
Por Beatriz Calais