Desbravador discreto: conheça a trajetória do produtor de Hollywood Rodrigo Teixeira

A trajetória estrelada (e por trás das câmeras) de Rodrigo Teixeira, produtor que se tornou o brasileiro mais bem-sucedido de Hollywood.

CINEMA por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 116 da revista Versatille.

 

 

Já faz mais de 20 anos, mas uma geração inteira de brasileiros ainda fica resignada quando se fala naquele fatídico Oscar de melhor atriz que a gente sonhava ver nas mãos de Fernanda Montenegro, mas foi parar nas de Gwyneth Paltrow. Pois quem sabe esse simpático carioca da imagem possa realizar nosso sonho de ver um conterrâneo com a estatueta em mãos?

 

Como ele é muito discreto, talvez você não tenha associado o nome ao rosto, então vamos às apresentações: este é Rodrigo Teixeira, 47 anos, produtor envolvido em filmes que foram sucesso de público, de crítica (ou ambos) nos últimos anos – inclusive Me Chame Pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino, que concorreu a melhor filme na premiação da Academia em 2018. Entre as mais de 50 produções que tem no currículo se encontram também o terror A Bruxa, de Robert Eggers, e o blockbuster Ad-Astra – Rumo às Estrelas, de James Gray, coproduzido e estrelado por Brad Pitt.

 

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Tudo isso já nos permitiria dizer que Teixeira é o brasileiro mais bem-sucedido no cinema americano. Tem mais: ele também produziu com a lenda Martin Scorsese, de quem se recorda de maneira divertida. “Quando estive com ele da primeira vez, meu inglês sumiu”, lembra, dando risada. “Não conseguia dar conta de interagir direito, porque ele fala rápido demais, daí eu queria prestar atenção e responder.” Com o tempo, recuperou seu segundo idioma e teve a oportunidade de ver o grande diretor em ação nas gravações da série Vinyl, da HBO, em 2016. “Foi inacreditável. Eu assinei um projeto com o Scorsese e o vi dirigindo o set. Isso não tem preço. E ele me tratou muito bem, com todo o respeito e carinho. Meu lado fã só aumentou quando nossa relação começou.”

 

Com Brad Pitt, também teve um momento de choque no primeiro dia de filmagem. “Eu não parava de olhar para ele. E, puxa, eu era produtor, estava sendo fã. Tanto que ele ficou desconfiado de quem era aquele cara jovem, sentado com eles, porque só tínhamos nos visto duas outras vezes. Aí alguém disse: ‘É o Rodrigo’, e ele: ‘Ah, bom’”, ria. O produtor conta que as gravações renderam boas gargalhadas, apesar do calor de 50 graus, e que o galã até o defendeu das piadas do diretor James Grey. “O James sacaneava todo mundo, e estava fazendo uma imitação minha, então, para me defender, o Brad começou a imitar o James. Foi um daqueles momentos que você pensa: ‘Cara, não acredito que estou vendo isso’.”

 

Mas, afinal, o que faz um produtor? Pode parecer uma pergunta básica, mas poucas profissões são ao mesmo tempo tão comuns e tão pouco conhecidas do grande público. No caso do cinema, é o profissional que viabiliza o projeto. Um desbravador, como Teixeira gosta de dizer. A pessoa que administra todas as áreas, partes e – haja sangue-frio – todos os egos. “É o capitão do barco. Se ele afunda, é você quem está no comando”, compara. Para ele, que fez carreira nisso, a inspiração e a motivação para encarar todas as pressões de uma produção são simplesmente “a vontade de ver esse filme na tela”.

 

Cinéfilo assumido desde criança, Rodrigo sempre imaginou trabalhar nessa indústria de sonhos. No entanto, sua trajetória profissional começou no mercado financeiro, onde durou apenas um ano. Pouco tempo depois, deu seus primeiros passos como empreendedor no meio criativo, com a Geração Conteúdo, empresa que viabilizava a realização de projetos literários por meio da aquisição e do investimento em direitos autorais. Nem sempre os direitos eram de obras prontas; funcionava como uma incubadora que ajuda autores a transformarem suas ideias em realidade.

 

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Mas a intenção, claro, era chegar às telonas, o que aconteceu em 2005 com O Casamento de Romeu e Julieta, dirigido por Bruno Barreto, estrelado por Luana Piovani e Marco Ricca. O longa foi um desdobramento de seu primeiro grande projeto literário de sucesso, o Camisa 13, série em que renomados autores do Brasil contavam histórias de seus times locais. No mesmo ano, abriu a produtora RT Features, hoje uma potência do mercado e responsável por títulos nacionais e internacionais recentes. Entre os nacionais mais famosos estão O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia, e A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, com Gregório Duvivier, Carol Duarte e – olha ela! – Fernanda Montenegro.

 

Teixeira conta que sua entrada no mercado americano foi uma “oportunidade cambial”, o encontro da situação econômica favorável com o instinto para investir nos títulos certos. “Senti uma facilidade para encontrar filmes em que eu quisesse trabalhar. De alguma forma, conseguia pensar como um americano, só que tinha o distanciamento de estrangeiro. Isso permitia que eu conseguisse encontrar coisas que o americano geralmente não vê, mas que os bons queriam fazer”, afirma. Talento que foi reconhecido por seu primeiro agente, Richard Klubeck. Após abrir as portas iniciais, chegou o desafio real: provar de fato sua habilidade de fazer acontecer.

 

“A desconfiança é sobre sua capacidade de entrega. Depois que você prova que consegue, aí é a questão da qualidade do resultado.” Ele considera isso algo natural do mercado com novos profissionais, principalmente com aqueles que não vêm de algum polo tradicional e clássico de cinema. “Eu era bem pioneiro mesmo, não havia outros brasileiros querendo produzir cinema americano. Depois vários entraram, e hoje somos sete ou oito.”

 

Todas as conquistas o inspiram a querer trabalhar por muito tempo. “Meus objetivos são grandes”, diz. “Quero continuar fazendo, e em boa performance. E não envelhecer meu gosto, não perder o toque. Talvez minha relação de frequentar o ambiente de produção seja um pouco diferente. Porque quero estar mais perto de meus filhos, quero acompanhar minha namorada, que é uma pessoa que está em minha vida e eu quero estar mais perto dela. Fui muito ausente nos últimos anos. E pretendo ter uma presença física maior neste momento. Acho que faz parte de minha maturidade focar nisso”, reflete sobre seus próximos passos profissionais. A gente torce, Rodrigo! E não se esqueça de trazer nosso Oscar, hein!

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