Especialistas opinam sobre as relações humanas no pós-pandemia

Conversamos com psicólogas para entender como as pessoas tenderão a se comportar socialmente em um mundo sem Covid-19

Por Gabrielle Torquato

 

Durante todos esses meses de isolamento social, é quase certo afirmar que em algum momento você ouviu a seguinte frase: “Quando a pandemia acabar, eu vou…”. Os planos para um mundo pós Covid-19 começaram desde a primeira semana de confinamento, mas enquanto aguardávamos pelo fim, vimos o mundo mudar, descobrimos novas formas de nos relacionar. E assim que tudo passar, podemos nos deparar com um universo bem diferente do que deixamos. A questão que fica é: voltar à rotina será tão fácil quanto imaginávamos?

 

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Para a psicóloga Carla Guth, o momento exigirá alguns cuidados. “É natural que haja receio por parte de algumas pessoas, porque estamos isolados há mais de 100 dias e esse confinamento também trouxe um monte de incertezas e mudanças”, afirma. Segundo a especialista, é normal que em um primeiro momento surjam questões quanto à proximidade e ao toque. “São dilemas que irão ocorrer no início, mas que ao longo do tempo serão deixados para trás”.

 

 

Ela também ressalta que não se pode generalizar. “Haverá pessoas que começarão na linha de ter medo, mas também terá um outro grupo absolutamente sedento, que vai sair e retomar a vida como se não tivesse acontecido nada”, comenta, referindo-se também às notícias recentes de aglomerações durante a pandemia.

 

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Impactos na saúde mental

Para além de um receio inicial, um impacto menos efêmero será naqueles que já têm ou venham a desenvolver algum tipo de transtorno mental, como depressão, ansiedade ou pânico. Em maio, apenas dois meses depois do início da pandemia, a Organização da Mundial da Saúde (OMS) já divulgava dados preocupantes sobre o aumento dos índices de depressão.

 

Um estudo no Reino Unido apontava que 32% dos jovens concordavam que a pandemia havia piorado sua saúde mental. Na China, outra pesquisa mostrou que os profissionais de saúde relataram altas taxas de depressão, ansiedade e insônia. Enquanto isso, no Canadá 47% dos profissionais na linha de frente relataram necessidade de suporte psicológico.

 

 

De acordo com a psicanalista e psicoterapeuta Blenda de Oliveira, essas pessoas podem apresentar dificuldade de sociabilização e desenvolver gatilhos em situações que envolvam aglomerações. “Não podemos esperar que a pandemia passe para começar o tratamento. É muito importante que se cuide disso no presente para que as sequelas não sejam tão paralisantes no futuro.”

 

Além de problemas sociais, o desenvolvimento desses transtornos também pode afetar a saúde física do corpo. “Quantos mais medos e ansiedade você tem, mais se desprotege em relação ao seu próprio sistema imunológico e muda a forma como lida com a realidade. A saúde mental é tão importante quanto a física. Elas caminham juntas”, explica.

 

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Relacionamentos a distância serão mais frequentes?

Enquanto o mundo real tira um tempo para se restaurar, o virtual ganhou novos adeptos, principalmente quando o assunto é relacionamento. Em 29 de março, o aplicativo de relacionamento Tinder registrou 3 bilhões de matches em um único dia. “Encontrei muitos casos assim fazendo atendimento clínico. E o mais impressionante é que algumas pessoas acabaram se aproximando mais, tendo conversas mais profundas, por falta do toque e da conversa presencial. Se a gente fosse pensar em uma condição normal, talvez esse relacionamento fosse mais líquido, menos profundo”, observa Carla.

 

 

 

Para as especialistas, relacionamentos online vieram pra ficar, mas não irão excluir os namoros e amizades presenciais. “A presença física e o encontro presencial são insubstituíveis. O ser humano pode tolerar isso por um tempo, mas não pra sempre. Eu não acredito que isso permaneça do jeito que está, mas talvez ganhe mais espaço do que já estava ganhando antes da pandemia”, finaliza Blenda.

 

 

Ilustrações: Reprodução Instagram Giulia Rosa (@giuliajrosa)

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