10 perguntas para o CEO: Guilherme Paulus, o principal empresário de turismo no Brasil

O fundador da CVC e do Grupo GJP hoje comanda outros negócios neste setor – e falou com exclusividade para VERSATILLE

Por Raquel Drehmer

 

O espírito empreendedor é a marca registrada de Guilherme Paulus desde quando fundou a CVC, em 1972. Depois de consolidá-la como uma das maiores operadoras de viagens do mundo – são mais de 1.400 lojas em todo o país –, criou o Grupo GJP Hotels & Resorts, que controla dez hotéis próprios no país.

 

Hoje, Paulus é o principal empresário do setor de turismo no Brasil e comanda outros negócios neste mercado. Destacam-se a construção de condomínios de alto padrão, como o Village Iguassu Golf Residence (em Foz do Iguaçi, PR), e de hotéis boutique, como o Castelo Saint Andrews (em Gramado, RS). único exclusive house do país.

 

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Também é membro do Conselho Nacional do Turismo, 1º vice-presidente  do Conselho de Administração do São Paulo Convention & Visitors Bureau, vice-presidente de relações institucionais da ABAV (Associação Brasileira das Agências de Viagens) e presidente do Conselho Deliberativo do Visit Iguassu.

 

Guilherme Paulus falou com exclusividade à VERSATILLE sobre sua trajetória, o mercado de turismo e a situação atual do setor no Brasil.

 

VERSATILLE: O mercado de turismo brasileiro começa a se reerguer depois da paralização causada pela pandemia de Covid-19. Como é a visão empresarial deste cenário neste momento que vivemos? Positiva?

Guilherme Paulus: Sim, sempre positiva. O turismo tem uma capacidade única de se reerguer, já que movimenta mais de 52 setores da economia. O mercado de viagens é responsável por mais de 8% da economia no Brasil e gera empregos para cerca de 7 milhões de trabalhadores. De acordo com a última pesquisa divulgada em 2019 pelo WTTC [sigla em inglês para Conselho Mundial de Viagens e Turismo], o impacto do setor gerou uma participação de US$ 8,8 trilhões ao PIB mundial (10,4%), uma alta de 3,9%, superior à expansão da economia global (3,2%).

 

Como está sendo e como será, daqui para a frente, a retomada do turismo brasileiro?

GP: Estamos em um momento de semi-normalidade, que já é realidade em alguns destinos brasileiros. As principais cidades turísticas vão reabrindo aos poucos, mas a partir de dezembro e na temporada de verão é que teremos o desafio ainda maior de recebermos o nosso cliente. A retomada é faseada, primeiramente com as viagens de lazer para curtas distâncias – aquelas escapadas da cidade para o campo, para a praia ou para as montanhas. Depois virão as viagens interestaduais, e finalmente o turismo internacional, após a reabertura das fronteiras. E o turismo corporativo, quando houver eventos presenciais, congressos e conferências.

 

Divulgação/GJP

 

Não é a primeira vez que o mercado de turismo brasileiro dá a volta por cima durante uma crise. Qual é a fórmula de sucesso deste ramo para sempre encontrar forças para se recuperar?

GP: O turismo já passou por diversas crises ao longo dos anos, sejam ligadas à economia ou a fenômenos naturais, como a destruição de destinos inteiros por chuvas, furacões e terremotos. E se reinventaram em tempo recorde. Temos esse diferencial, essa capacidade única de se reerguer, gerando emprego e renda por onde passamos.

 

As fronteiras de países fechadas fortaleceram, de fato, o turismo nacional?

GP: Sem dúvida. O turismo nacional se fortalece ainda mais neste cenário. A alta do dólar também é outro fator impeditivo neste momento, mas que favorece muito o turismo doméstico, assim como os cruzeiros marítimos, que devem demoram um pouco mais para retornar, beneficiando diretamente o consumo dos resorts.

 

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O brasileiro gosta de viajar para o exterior. Já existe uma movimentação no mercado de turismo neste sentido, mesmo com fronteiras fechadas?

GP: As viagens internacionais ainda não decolaram, fronteiras permanecem fechadas e as viagens de longa distância ainda não estão na preferência de consumo neste momento. Os turistas ainda não estão confortáveis para viajar por longas horas.

 

Como fica o mercado de turismo de luxo no panorama atual?

GP: Há muito espaço para o turismo de luxo, é um mercado que não foi afetado diretamente. Reabrimos o Castelo Saint Andrews, em Gramado (RS), com 70% da nossa capacidade. Treinamos nosso time para os novos protocolos de segurança: todos com máscara, luvas, álcool em gel em todas as áreas, agendamento de horário para uso de piscina e sauna de forma privativa, nos restaurantes providenciamos o distanciamento correto de mesas e cadeiras. Adquirimos máquinas alemãs e italianas de higienização para os apartamentos e áreas comuns.

 

Vista aérea do Castelo Saint Andrews, em Gramado, RS (Divulgação)

 

Quais são os destinos de luxo, nacionais e internacionais, com mais apelo para o público brasileiro?

GP: Gramado é um destino muito especial para o turismo de luxo, temos roteiros exclusivos na Serra Gaúcha para quem aprecia boa gastronomia e ótimos vinhos, especialmente no inverno. As praias do Nordeste também têm excelentes roteiros de charme no Ceará, Rio Grande do Norte, em Pernambuco e na Bahia. No exterior, os clássicos nunca erram, como Paris, Nova York, Roma, Maldivas, Saint Barts, Emirados Árabes Unidos e Grécia, entre outros. Também merecem destaque as estações de esqui da França (Courchevel) e dos Estados Unidos (Aspen).

 

A CVC é conhecida pelas parcerias estabelecidas com empreendimentos hoteleiros, gastronômicos, culturais, de vestuário e de compras em seus destinos. A sinergia entre os negócios é afetada pelas crises econômicas?

GP: Ah sim, uma crise como esta que estamos vivendo afeta todos os setores da economia, absolutamente todos, não há quem fique de fora. Mas o turismo tem uma capacidade única de se reinventar. É a hora de ter paciência, planejar, ouvir e se relacionar com os clientes mesmo de casa, neste momento em que ainda estamos em home office.

 

“Quando falamos em crise, devemos retirar o S, ficando CRIE” – Guilherme Paulus

 

Olhando para o histórico de sua carreira, pode citar algum acontecimento que no momento tenha parecido negativo, mas no médio prazo provou ter sido importante?

GP: A lição é nunca colocar os ovos numa mesma cesta. Isso se aplica às diversas crises econômicas ao longo dos anos que quebraram grandes empresas do setor que apostavam apenas no mercado internacional, por exemplo. A diversificação de produtos e destinos é o fator-chave para o sucesso das empresas que trabalham com turismo. Enquanto o internacional está mais lento, especialmente neste momento, vamos apostar no turismo doméstico e desbravar o Brasil.

 

Para finalizar: Que mensagem, recado ou dica o senhor deixa para os investidores brasileiros que olham com simpatia para o mercado de turismo?

GP: De acordo com dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), de janeiro a dezembro de 2019, o número de desembarques nacionais nos aeroportos do país cresceu 1,8% em relação ao mesmo período de 2018. Foram 97,1 milhões de passageiros viajando no Brasil no ano passado, quase 2 milhões a mais que o registrado em 2018 (95,5 milhões). O brasileiro tem o hábito de viajar e já incorporou esse hábito em sua cesta de consumo, seja num fim de semana ou durante o período de férias. Há muito espaço para crescimento.

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