Velocidade, luxo e tradição: tudo sobre o império da Ferrari

Nas pistas, a equipe de corrida mais antiga e mais vitoriosa da história. No mercado, a marca mais valiosa do mundo. Confira o nascimento e a ascenção da Scuderia Ferrari

(Foto: Reprodução Instagram @ferrari)

Por Maria Alice Prado

 

Com um valor estimado de US$ 9,1 bilhões, a Ferrari se consagrou, pelo segundo ano consecutivo, como a marca mais valiosa do mundo, segundo a consultoria Brand Finance.

 

E não é para menos: somente no ano de 2019, a montadora faturou 3,8 bilhões de euros em receitas líquidas e possui o recorde de venda de carro mais caro da história em seu nome. Em junho de 2018, um exemplar do Ferrari 250 GTO de 1963 – conhecido como o Cálice Sagrado dos automóveis – foi negociado por nada menos que 70 milhões de dólares.

 

A ascensão do reinado de Enzo Ferrari, no entanto, até se tornar o mito mundialmente conhecido dos dias de hoje, tem muitas reviravoltas a contar. Quem é fanático pela marca sabe que, ao contrário do que muitos pensam, a história da Ferrari não teve início no mercado automobilístico. O então jovem Enzo, o commendatore, fundador da marca, deu start no seu império dentro das pistas de corrida.

 

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Quem foi Enzo Ferrari?

(Reprodução/The Official Ferrari Magazine

Enzo Ferrari nasceu em uma família humilde na cidade de Módena, na Itália, e cresceu com pouca educação formal. Seu pai produzia peças de metal em uma fábrica que montara na casa da família.

 

Com apenas dez anos de idade, o menino já havia se apaixonado pelo automobilismo quando assistiu no circuito de Bolonha a corrida de carro de 1908. O fundador da Ferrari trabalhou como mecânico até ao início da Primeira Guerra Mundial e, nesta época, passou a ser piloto de testes em uma empresa automobilística italiana.

 

Aos 21 anos tentou um emprego na Fiat, mas foi recusado. Em 1929, ingressou na fabricante de carros Alfa Romeo – foi motorista de teste e vendedor, até chegar a chefiar a divisão de corrida Alfa Corse como piloto da fabricante pela Scuderia Ferrari, fundada para atuar como equipe de corrida da Alfa Romeo. 

 

Início do império Ferrari e o logo do “cavallino rampante” 

(Foto: Unsplash/Jannis Lucas)

Em 1923 nasce o escudo da Ferrari. O “cavallino rampante” (cavalo empinado) foi um presente vindo dos pais do falecido piloto de aviões Francesco Baracca, tido como herói da Primeira Guerra Mundial – os Baracca afirmaram que traria sorte à Scuderia Ferrari. 

 

Nove anos depois, a Alfa Romeo – a equipe pela qual a Ferrari competia – permitiu que a Ferrari utilizasse o logotipo em seu carro para o Spa 24 Horas de 1932. 

 

O ano era 1929 quando Enzo Ferrari decide fundar a marca na cidade de Maranello, na Itália. Em seus primeiros anos, a fabricante apenas patrocinava pilotos e carros de corrida já produzidos, ainda pelo nome de Scuderia Ferrari. 

 

Em 1938, a Alfa Romeo tomou a decisão de entrar nas corridas com seu próprio nome, que antes concorria como Scuderia Ferrari. Enzo Ferrari não concordou com esta mudança na política e foi demitido pela Alfa em 1939.

 

Ingresso da Ferrari no mercado automobilístico

(Reprodução/Ferrari.com)

A produção independente da Ferrari como empresa automobilística nasce apenas em 1947. Neste mesmo ano, a Segunda Guerra Mundial tinha chego ao fim, e com a queda do regime de Mussolini, a marca renasce sob a designação Ferrari e repleto de iniciativas. 

 

Assim, o primeiro modelo da marca do cavalinho empinado, a Ferrari 125S, é concebido, com motor V12 de 1500 cc. A estreia do carro foi marcado com a vitória no Grande Prêmio de Roma, em 1947 – o primeiro carro de rua, o 166 Inter, no entanto, foi lançado somente em 1948.

 

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Primeira vitória na Fórmula 1

(Foto: Unsplash/Macau Photo)

Em 1951, a Ferrari consegue a sua primeira vitória na Fórmula 1 e, em 1955, Juan Manuel Fangio ganha o campeonato mundial ao volante de uma Ferrari. 

Clássico duelo Ford vs Ferrari

A década de 1960 foi um período turbulento para a empresa de Maranello. A montadora norte-americana Ford chegou a tentar comprar a Ferrari, de olho no alto desempenho da fabricante em competições automotivas, mas as negociações não foram adiante.

 

O fracasso na tentativa de arrematar a Ferrari fez com que Henry Ford II se inserisse em uma grande missão: privar a Ferrari de sua hegemonia nas provas de longa duração. Tarefa no mínimo desafiadora, tendo em vista que a rival italiana havia conquistado o primeiro lugar em todas as edições das 24h de Le Mans, uma das mais tradicionais corridas automobilísticas do mundo, na década de 1960.

 

Ferrari 330 P3 (1966) (Reprodução/Ferrari.com)

 

 O resultado se materializou na criação do Ford GT40. O carro de Ford conseguiu, após seis anos e três versões reforçadas deste mesmo modelo, acabar com o domínio da marca italiana nas pistas, que corria com a Ferrari 330 P3. 

 

A Ford se consagrou como a primeira empresa norte-americana a vencer as 24 horas de Le Mans. Nos quatro anos que se seguiram, apenas os carros da Ford subiram ao pódio e o GT40 conquistou o apelido de Ferrari Killer – ou, matador de Ferrari’s.

 

O duelo automobilístico ficou tão famoso que atualmente existem filmes e documentários que retratam esta história, como o hollywoodiano “Ford vs Ferrari”, de 2019. 

 

“Ford vs Ferrari (2019) (Reprodução/IMDb)

 

Problemas econômicos e nova fase da Ferrari

Ao final da década, em 1969, e já com o nome de Ferrari SpA, a família Ferrari resolve vender 50% das ações para a Fiat, devido à diversos problemas econômicos. Atualmente a Fiat detém 90% das ações da fabricante de luxo.

 

O falecimento de Enzo Ferrari, em 1988, aos 90 anos, deixou o legado da marca para Luca Cordero di Montezemolo, antigo funcionário e amigo do fundador. De início, ele resolveu investir no antigo nome da marca nas pistas de corrida, o que resultou no vice-campeonato de Fórmula 1 de Michael Schumacher e no sucesso do nome Ferrari na competição.

 

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Carros mais famosos da Ferrari

Ferrari 250 MM (1953) (Reprodução/Ferrari.com)

 

Ferrari 250 – Um dos modelos mais valiosos da fabricante do cavalinho empinado, estreou no mercado em 1953.

 

Ferrari F40 – O modelo foi produzido em comemoração aos 40 anos de existência da Ferrari. Lançado em 1987, o carro foi equipado com motor V8 de 2,9 litros de 478 cv de potência. Considerado um dos mais emblemáticos superesportivos já construídos, a F40 é um carro difícil de se encontrar no mercado atualmente. O veículo marcou o nascimento do supercarro moderno e incorporou o espírito do automobilismo da Ferrari em um carro de estrada.

 

Ferrari F40 1987 (Reprodução/Ferrari.com)

 

Ferrari Enzo – Criado em 2002, teve apenas 400 unidades produzidas. Inspirado pela tecnologia da Fórmula 1, o modelo de dois lugares era alimentado por um motor 6.0 V12 de 660 cv.

 

LaFerrari – Primeiro supercarro híbrido, foram produzidos apenas 499 exemplares. O modelo de 2013 tem motor 6.3 V12 que gera 800 cv e que trabalha junto de um motor elétrico que rende mais 163 cv.

 

De onde surgiu o famoso “vermelho Ferrari”

A cor vermelha da Ferrari vem da tradição das corridas de automóveis. O rosso corsa (ou vermelho de corrida, em tradução do italiano) é a cor nacional dos modelos de competição italianos. 

 

(Foto: Unsplash/Joshua Rawson)

O uso dessa cor teve início nos anos 1920, quando a organização das competições automobilísticas obrigava o uso de uma cor para cada país: carros azuis representavam a França, laranja para a Holanda, prata para a Alemanha, branca para os Estados Unidos, verde para a Inglaterra, amarela para a Bélgica e vermelha para Itália.

 

Apesar de fortemente associada à Scuderia Ferrari, os demais fabricantes conterrâneos italianos como Maserati, Alfa Romeo e Lancia, sempre pintam seus exemplares de vermelho do início do automobilismo até os dias de hoje, vinculando o tom vibrante à pátria italiana.

 

A obrigatoriedade de utilizar a cor em nome dos países acabou, mas a Ferrari manteve a tradição e nunca mudou sua cor principal.

 

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