Urban jungle: projetos inspiradores com plantas em diferentes ambientes da casa
A invasão do verde marca a transformação dos lares na quarentena
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Os lares foram profundamente transformados com a quarentena. A casa deixou de ser um espaço fugaz na rotina das pessoas e ganhou um significado de permanência, de convívio com o próprio morador. Um dos resultados obtidos dessa nova relação é a invasão das plantas, no fenômeno que também ficou conhecido como urban jungle – apartamentos em centros urbanos que mais parecem selvas.
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A busca por plantas no último ano cresceu em números expressivos. As floriculturas tiveram de fechar de acordo com as restrições impostas aos estabelecimentos, mas passaram a funcionar por delivery. “Na pandemia, eu me reinventei”, afirma Leda Welter, fundadora da Blumenfee, localizada em São Paulo. “A procura foi enlouquecedora. O fornecedor não deu conta e eu fui até o interior buscar plantas. Cheguei a fazer 200 entregas por dia. Nunca trabalhei tanto em minha vida quanto de março a agosto. Eu me dedicava 20 horas por dia, mesmo sem abrir a loja.”
Para Leda, o fato de ambientes ao ar livre como parques e praças ficarem fechados influenciou na procura pelo verde. “Antes a casa servia apenas para dormir. Agora as pessoas precisam passar mais tempo dentro dela”, explica.
Na Blumenfee, uma espécie que teve uma saída acima da média foi a jiboia, considerada o carro-chefe da loja. “Nunca tenho suficiente dela. Ela ajuda a limpar e umedecer o ambiente. Produz um efeito enorme”, conta.
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Com ponto de vendas no Botanique Café Bar, a Borealis reforçou o serviço de entrega de plantas para interiores na quarentena (Eduardo Macarios/Divulgação)
Já na floricultura Borealis, de Curitiba, as espécies mais procuradas foram a maranta e a begônia. No entanto, segundo a proprietária, Patrícia Belz, o aumento nas vendas foi generalizado, visto que a loja é especializada em plantas para interiores. “A gente cresceu muito no on-line e, conforme as pessoas foram saindo de casa, o negócio permaneceu forte na Internet”, diz.
Inspire-se a trazer o verde para dentro de casa com projetos de Clariça Lima, Virginia Albertini e David Bastos, que vão da varanda à sala de jantar. A Versatille também conversou com o paisagista Lucas Teixeira, da Taperebá Arquitetura e Paisagismo, e separou dicas de cuidados com plantas em ambientes internos. Confira a seguir.
Abraço verde
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O jardim de 7 metros quadrados apresenta diversas espécies como flor-de-cera, primavera e lambari-roxo (Renato Navarro)
O escritório da paisagista Clariça Lima, localizado em uma casa antiga no bairro do Bixiga, em São Paulo, respira a essência e os valores da profissional. Quando ela idealizou seu espaço de trabalho, focou em criar um ambiente com muito verde e que recebesse bem seus clientes, fornecedores e prestadores de serviço. A casa tornou-se um reflexo de seu dia a dia.
Na sala, as espécies presentes são filodendro-verde, comigo-ninguém-pode, barriga-de-sapo, jiboia, filodendro-laciniato, guaimbê e dracena-bambu. No jardim de 7 metros quadrados, flor-de-cera, primavera, lambari-roxo, Ficus lyrata, chifre-de-veado, cróton, trepadeira-jardim-dos-açores, columeia-batom e rhipsalis.
“As escolhas das espécies têm um lado funcional, de privacidade e conforto térmico”, afirma a paisagista. “Estudamos as alturas, as texturas, as cores, a necessidade de espaço e a previsão de crescimento das plantas. Pensamos na iluminação e criamos uma cenografia, com o propósito de trazer o jardim para dentro da casa.”
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Elementos da natureza
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Um imponente jardim vertical é destaque da área externa da cobertura projetada por David Bastos e Alex Hanazaki (Tuca Reinés)
O apartamento de 1.400 metros quadrados na cobertura de um edifício em São Paulo tornou-se ainda mais imponente com a criação de um jardim vertical na área externa. O arquiteto David Bastos combinou esforços com o paisagista Alex Hanazaki para desenhar o projeto. “O objetivo principal do uso das plantas foi criar um ambiente mais leve e fresco, deixando a piscina urbana com ar de natureza”, afirma Bastos.
As espécies – samambaias-de-sol, jabuticabeiras, gardênias e costelas-de-adão – foram definidas com base na resistência ao sol, visto que a luz solar é direta durante o dia. Todas as paredes verdes são irrigadas com um sistema inteligente que usa informações captadas de acordo com a umidade do ar, para garantir a sobrevivência dos seres vivos. “Elas purificam o ar, possuem poderes curativos, inspiram criatividade, fornecem energia e ajudam na concentração.”
Aconchego no lar

Este projeto de David Bastos tem visual moderno com o benefício de um ambiente mais fresco (Rômulo Fialdini)
Dar mais “cara de casa” e criar um oásis em meio à natureza: esse foi o desejo do morador para o projeto de seu apartamento dúplex de 350 metros quadrados em São Paulo. O arquiteto David Bastos colaborou novamente com o paisagista Alex Hanazaki para compor a área externa da cobertura que antes era “seca e sem vida”, como caracteriza Bastos. Resistentes ao calor e ao sol, palmeiras-cica, palmeiras-fênix e lavandas foram empregadas, junto de um sistema inteligente de irrigação, para sobreviver às condições da varanda. O resultado é um visual moderno, com o benefício de um ambiente mais fresco. “O próprio morador relatou que as plantas se tornaram essenciais para o dia a dia do apartamento”, conta o arquiteto.
Praticidade e elegância
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Neste projeto de David Bastos destaca-se a resença de espécies de baixa manutenção e grande resistência (Rômulo Fialdini)
Para o projeto deste apartamento de 300 metros quadrados em São Paulo, um dos primeiros e principais pedidos dos moradores foi o uso de plantas. A preferência era por espécies com baixa manutenção e grande resistência. Por isso, o arquiteto David Bastos utilizou a pacová e a Ficus lyrata, que oferecem um toque de cor aos tons neutros no ambiente de leitura, sem perder a elegância. O intuito do uso é purificar o ambiente e proporcionar relaxamento. “O verde traz a sensação de paz e conexão com a natureza”, diz.
Pontos focais
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A parede da sala de jantar projetada por Virginia Albertini é constituída por um revestimento de musgo natural preservado (Júlio Buccier)
Um toque de verde pode fazer toda a diferença no ambiente. A parede da sala de jantar deste apartamento de 50 metros quadrados em Campinas ganha vida com o revestimento de musgo natural preservado (Moss, da Castelatto). O motivo por trás da escolha da arquiteta Virginia Albertini foi a dificuldade em manter plantas vivas dentro do local, que é climatizado artificialmente. De alta resistência e durabilidade, a espécie oferece a vantagem de não exigir manutenção. “Dessa forma, conseguimos atender a um pedido do proprietário, que queria um painel de plantas no ambiente”, comenta Virginia. Para a profissional, o verde traz uma sensação de frescor e incrementa a textura no espaço.
Dicas para cuidar das plantas
Segundo o paisagista Lucas Teixeira, da Taperebá Arquitetura e Paisagismo, é preciso analisar as necessidades hídricas e climáticas de uma espécie antes de comprá-la para casa. Características como luminosidade, vento, umidade e temperatura do ambiente devem ser levadas em consideração. “Procure informações básicas e, ao levar a planta para casa, observe o comportamento dela, principalmente no primeiro mês”, diz. “Coloque água, mexa nas folhas, tire a poeira, olhe a terra. Plantas de uma mesma espécie podem não se comportar da mesma forma.”
Entre as plantas recomendadas por Teixeira para ambientes internos estão: cróton, ráfia, fitônia, copo-de-leite, zamioculca, palmeira leque e pleomele. O profissional afirma que as espécies, fáceis de encontrar, se adaptam bem dentro de casa, com menos claridade e radiação solar.
“Normalmente, plantas que se adaptam bem a lugares fechados pedem uma boa circulação de ar, não necessariamente vento, apenas uma brisa”, comenta o paisagista. Ele conclui que o segredo para as plantas não morrerem dentro de casa é a atenção e o estudo do comportamento.
Por Mattheus Goto | Matéria publicada na edição 118 da Versatille