Era uma vez uma história de amor, um destino, um artista ou até mesmo uma empresa. Esse é o ponto de partida da Assouline, uma marca de lifestyle de luxo que tem a cultura como essência e sua origem na paixão por livros compartilhada pelo casal francês Martine e Prosper, os fundadores. Embora fossem ávidos leitores, os dois se sentiam inquietos por não encontrarem exatamente o que buscavam em obras já existentes. Por isso, em 1994, lançaram seu primeiro livro, La Colombe d’Or, com textos de Martine e fotografias de Prosper, que conta a história do hotel homônimo como uma homenagem ao papel que ele teve no desenvolvimento cultural francês. 

 

Dois anos depois, foi lançada a primeira série de livros chamada Memoire, que incluía livros focados em marcas e indivíduos, desde Chanel até o lendário Oscar Niemeyer. O sucesso foi tamanho que resultou em mais de 8 milhões de cópias vendidas. Em 1999, o casal abriu um escritório em Nova York e, nos anos seguintes, o reconhecimento da companhia cresceu ainda mais. Em janeiro de 2011, Prosper recebeu o prêmio Chevalier des Arts et des Lettres, do Ministério da Cultura francês, por seu trabalho editorial. Já em 2016, o French Institute Alliance Française concedeu a ambos o prêmio Art de Vivre, direcionado a líderes influentes de diversas indústrias. O propósito da Assouline era ambicioso: aprimorar o estilo e design editorial e ultrapassar os limites da interpretação bastante clássica da cultura na época em que foi fundada.

 

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Martine e Prosper não só atingiram essa meta – com mais de 1.700 títulos publicados pela Assouline até 2020 –, mas também foram responsáveis por consolidar a ideia de luxo na cultura. “No início dos anos 1990, as publicações impressas estavam vendendo muito bem globalmente em empresas como Virgin ou Borders – isso antes da invenção do iPhone e da tecnologia digital. O conceito de luxo não estava ligado ao mercado editorial, e os livros sobre moda eram raros e caros”, explica Alex Assouline, chefe de operações, marca e estratégia e filho do casal fundador. Segundo o executivo, nesse período, os assuntos abordados por livros ilustrados se limitavam muitas vezes a áreas como arte, decoração e turismo. 

 

O aspecto luxuoso da Assouline está presente na excelência empregada no processo de manufatura dos produtos e na construção de um lifestyle em torno deles. Atualmente, além de ser uma editora, a label comercializa estantes de livros – desenhadas em sua maioria por Alex, que também é “library designer” – e itens de papelaria e faz colaborações com as maiores grifes e varejistas de moda. “Os novos temas que propusemos, além do fato de concebermos os livros como ‘objetos’, significaram uma profunda pesquisa e foco nos materiais, na escolha dos melhores papéis, na integração de tecidos inesperados, no jogo de cores, e, por vezes, na criação de tipografia”, conta.

 

 

Para criar de fato um “estilo de vida Assouline”, o encantamento que envolve um ambiente de livraria ou biblioteca foi essencial. Nas lojas onde os produtos estão expostos, especialmente na flagship, em Londres, há velas perfumadas, objetos raros, iluminação cuidadosamente definida e uma trilha sonora ideal para complementar essa atmosfera de leitura luxuosa. “Assim como luz, cor, fragrância e música se harmonizam em um esforço para montar a ambientação perfeita, nós nos esforçamos para fazer o mesmo ao criar nossos livros, com design, texto e imagens atraentes.” É justamente esse cuidado com todos os detalhes que marca a memória do leitor e faz as obras despertarem emoções quando são folheadas ou apenas contempladas novamente.

 

Em entrevista à Versatille, Alex Assouline compartilhou detalhes sobre a curadoria dos livros, o processo de manufatura e as colaborações já feitas pela grife.

 

Versatille: A curadoria dos produtos da Assouline é um grande destaque. Quais são os critérios para um livro ser vendido na Assouline?

 

Alex Assouline: Selecionamos cuidadosamente cada tópico com base no que conhecemos e amamos. Familiaridade com o assunto é sempre uma obrigação. Temos muito interesse nos assuntos sobre os quais escrevemos e nos conectamos profundamente com eles. Para aprimorar ainda mais nosso trabalho, priorizamos a seleção dos melhores e mais notáveis ​​autores relacionados a qualquer temática a ser abordada. Precisamos ser inspirados por um tema para contar sua história com o ângulo certo, e, então, embarcamos em um projeto de um ano para a sua realização.

 

V: Quais colaborações a marca já fez?

 

AA: Uma das nossas collabs mais notáveis ​​na moda foi com o verão Zara menswear – nove peças com estética inspirada na série de livros de viagem, lançadas em abril de 2021. Também colaboramos com outras marcas incríveis, incluindo a empresa de óculos Oliver Peoples, a de sapatos slippers Stubbs and Wootton e a confeitaria Ladurée, para citar algumas.

 

V: A aparência dos livros revela sua essência luxuosa. Como é o processo de manufatura?

 

AA: Ele é cuidadosamente curado pela nossa maravilhosa equipe, localizada em Nova York, e o processo de impressão é feito em Milão, por um parceiro com quem trabalhamos nos últimos 30 anos. As imagens são coladas a mão, uma por uma, com papel de qualidade artística. Depois, o livro é encadernado também a mão e enviado em um lindo estojo artesanal.

 

 

V: Quando e por que a marca decidiu oferecer, além dos livros, móveis e artigos de papelaria?

 

AA: Isso faz parte da Assouline desde que abrimos nossa primeira loja, em Paris, em 2005, onde começamos a adicionar objetos decorativos e peças vintage para criar mais profundidade na oferta dos produtos e na experiência de compra com ambientação, cheiro e música específicos. O sucesso dessa estratégia nos levou a projetar nossas peças e nos fez levar mais tempo para criar uma marca de lifestyle de luxo, que é o que somos hoje. Nos próximos dois anos, apresentaremos novas categorias de produtos que marcarão isso.

 

V: Como você descreveria o momento atual da Assouline?

 

AA: A Assouline é uma marca contemporânea que está se tornando cada vez mais relevante. Somos uma “luxury storyteller’’ que está aqui para inspirar o público, aprimorar interiores e levar cultura e conhecimento às pessoas. 

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 128 da Versatille