Simon Porte Jacquemus: das redes sociais para o closet

Talento fashion e faro para o que vai causar impacto na internet estão entre os elementos que fazem de Simon Porte Jacquemus um dos mais bem-sucedidos de sua geração

 

Um sonho real. Essa é a definição dos desfiles do estilista francês Simon Porte Jacquemus dada por uma brasileira que costuma frequentá-los, a influenciadora digital paulistana Francesca Monfrinatti. “Cores, cheiros, música e cenários em torno de peças tão alegres fazem a experiência ser fantástica”, diz ela, uma das clientes que tiveram o prazer de ver de pertinho a apresentação mais recente da marca, num campo de lavanda no Sul da França.

 

Foi assim, com uma enorme passarela rosa instalada entre as plantas – e sob um sol de 32 °C –, que o mais quente nome da nova geração de costureiros franceses celebrou os dez anos da marca. A imagem ganhou imediatamente as redes sociais, como quase tudo o que Jacquemus criou nos últimos anos, e da vida digital tornou-se desejo imediato de consumo para clientes estreladas, como Rihanna, Beyoncé, Hailey Bieber, Miley Cyrus e as Kardashian. Estas, por sua vez, lançam moda para milhões de pessoas, e sua chancela está entre os elementos que consolidaram a ascensão vertiginosa da marca.

 

Mesmo quem não sabe ainda o nome do estilista, provavelmente foi impactado, via redes sociais, por uma de suas criações que mais viralizaram nos últimos tempos: a bolsa Le Chiquito, de exíguos sete centímetros. Comporta um cartão de crédito, e olhe lá! Sucesso absoluto de vendas, deu origem a uma versão ainda menor, a Micro Le Chiquito, que parece acessório de boneca. Por outro lado, numa brincadeira com proporções, Jacquemus apresentou ao mundo enormes sombreiros e sacolas de palha, que viraram sensação nas redes sociais em selfies inusitadas – em muitos casos, (tentativas de) nus artísticos tendo as peças como cobertura de partes estratégicas do corpo.

 

 

Nem só de internet vive a imagem da marca. A trajetória de Simon Jacquemus é pontuada também pela aprovação de nomes poderosos da indústria da moda. Em 2016 foi classificado pela plataforma Business of Fashion, que é referência no segmento, como “o mais quente jovem designer em Paris”. Um ano antes disso havia sido contemplado com o prêmio LVMH na categoria Talento Revelação, que consistiu em um cheque de 150 mil euros e mentoria para seus negócios. “Tenho o maior orgulho dele”, diz a jornalista de moda Lilian Pacce, que foi parte do júri. “Ele tem um trabalho solar, com a alegria da Provence, e um frescor de que a moda estava precisando.”

 

Simon nasceu no vilarejo de Mallemont, não muito longe de onde aconteceu o desfile nos campos de lavanda. Filho de fazendeiros, aos oito anos, já demonstrava sua vocação midiática: numa carta ao estilista Jean-Paul Gaultier, pediu a chance de ser seu stylist, argumentando que renderia mídia. Não rolou, mas ficou a história bonitinha, que ele conta quando fala da infância. Igualmente encantador era o ofício a que se dedicava: vendendo legumes na beira da estrada durante os fins de semana.

 

Entrou aos 18 na École Supérieure des Arts et Techniques de la Mode (a ESMOD), mas ficou pouco devido a uma tragédia: um mês depois de começar as aulas, perdeu a mãe, Valérie, num acidente de carro – Jacquemus era o nome de solteira dela. Logo criou sua marca. Pagou 100 euros a uma costureira de uma loja de cortinas para fazer uma saia e encenou um “protesto” em frente à Dior, na Avenue Montaigne, durante a Paris Fashion Week.

 

 

Enquanto dava os passos iniciais da grife, trabalhou como assistente de stylist na revista Citizen K. Depois, na loja da Comme des Garçons. Esperto, já que não teve formação como estilista, assimilou rapidinho noções básicas e essenciais sobre moda. Foi lá que ganhou a atenção do presidente da CdG, Adrian Joffe, especialista em detectar talentos.

 

Jacquemus costuma dizer que o trabalho ali foi sua escola, e isso é visível em suas criações, sobretudo dos anos iniciais – apenas em desfiles mais recentes a influência de Rei Kawakubo sobre ele se diluiu um pouco. Estar ali serviu também para se enturmar na cena parisiense, da qual se considerava (com razão) um outsider. Em 2012, já desfilava na semana de moda francesa. Determinado a surpreender, buscou momentos “uau” desde então: mostrou suas coleções numa piscina, vestiu os convidados com uniformes (outra obsessão), fez aparição para agradecer, descalço e trazendo com ele um cavalo branco. “Jacquemus tem uma proposta com luz sobre a elegância tradicional francesa, um sexy mais despojado”, afirma Camila Yahn, editora de moda da plataforma FFW.

 

 

Ter centenas de lojas mundo afora não está entre suas aspirações, repete em entrevistas. Também jura que largaria tudo caso não se sentisse mais feliz em fazer o que faz – como bom millennial, coloca a satisfação profissional e o reconhecimento rápido entre suas prioridades. Fato é que os números de sua marca dão pouco incentivo para ele desistir: as vendas, que duplicaram em 2017, devem fechar 2019 na casa dos US$ 20 milhões, segundo a revista New York. A equipe que trabalha com ele num charmoso predinho decorado com um limoeiro, em Paris, saltou de 30 para 60 pessoas.

 

A fruta aparece também em uma experiência nova à qual o estilista se dedicou recentemente: ele assina a decoração do restaurante Citron, na Galeria Lafayette. Como nas roupas, o trabalho tem frescor e simplicidade – usou limões sicilianos, madeiras claras e azulejos. Só. Não é pre-ciso dizer que deixou mais gente encantada.

 

*Por Mário Bolzan 

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