Quem era Gilberto Chateaubriand, um dos maiores colecionadores de obras de arte do Brasil

Um dos principais apoiadores do Museu de Arte Moderna do Rio, Chateaubriand faleceu nesta semana, aos 97 anos

(Reprodução MAM)

Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em Paris em 24 de maio de 1925. Filho de Assis Chateaubriand, magnata da imprensa brasileira e fundador do Museu de Arte de São Paulo (Masp), ele puxou a paixão de seu pai pela arte, mas isso não quer dizer que eles tenham tido um bom relacionamento. Por mais que possuíssem gostos parecidos, a relação conflituosa entre os dois até chegava a envolver disputas por pinturas, como a briga por um quadro de Candido Portinari que já foi relatada na biografia Chatô, o Rei do Brasil.

 

Crescer com seu nome sempre ligado a uma das maiores figuras da cultura nacional não era uma tarefa fácil, mas Gilberto fez o dever de casa com maestria. Aos 97 anos, ele era dono de mais de 8 mil obras e considerado um dos maiores colecionadores do Brasil. Além disso, era um dos principais apoiadores do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM-Rio). Na última quinta-feira (14), Chateaubriand morreu de causas naturais em sua fazenda, na cidade de Porto Ferreira, no interior de São Paulo. Para trás, ele deixa seu filho único, Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand – que hoje é presidente do MAM –, e um grande legado na história da arte nacional.

 

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Sua primeira aquisição foi um Pancetti, que ele comprou em 1952 no ateliê do artista em Salvador. Depois, como diplomata em missão, ele voltou a sua terra de nascença – a França –, e, embora tenha tido contato com outros artistas, como a escultora Maria Martins, mulher do então embaixador brasileiro no país, não ficou satisfeito com as obras que adquiriu durante o período. Em 1962, de volta ao Brasil, desfez-se das aquisições europeias e começou a se dedicar à arte moderna brasileira.

 

Foi a partir dessa reviravolta que Chateaubriand começou sua emblemática trajetória como colecionador. Com o objetivo de enaltecer os brasileiros, sua atenção era totalmente voltada a artistas como Tarsila do Amaral, Djanira e Di Cavalcanti. Mais tarde, sua coleção abrigou algumas das obras mais emblemáticas do modernismo dos anos 1920, como Urutu, de Tarsila, e O Farol e a Japonesa, de Anita Malfatti.

 

Urutu, Tarsila do Amaral (Reprodução MAM)

 

A maior parte da coleção de Chateaubriand foi cedida em regime de comodato para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1993 e tornou-se permanentemente acessível ao público, sendo mostrada com regularidade também em outras instituições do Brasil e do exterior. Sua doação foi fundamental para revitalizar o espaço, que, em 1978, perdera grande parte do acervo original em um incêndio. A partir disso, nomes importantes das artes plásticas, como Lasar Segall, Guignard, Candido Portinari, Iberê Camargo, Lygia Pape, Lygia Clark e Hélio Oiticica, passaram a fazer parte do museu.

 

Por mais que o colecionador não tenha se empolgado com as aquisições europeias, a riqueza de sua coleção – considerada uma das mais importantes para a arte brasileira moderna – fez com que seu trabalho fosse valorizado no mundo inteiro. Ele foi membro do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), da Fundação Cartier para Arte Contemporânea (França), da comissão administrativa da Fundação Bienal de São Paulo, do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), do conselho do Paço Imperial, do MAM-Rio e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP).

 

O Farol, Anita Malfatti (Reprodução MAM)

 

Esse pequeno resumo já diz tudo sobre o impacto de sua trajetória. Mais do que uma conquista pessoal, seu trabalho foi fundamental para os artistas contemporâneos e para a valorização da arte brasileira no modernismo.

 

Por Beatriz Calais

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