Prestes a estrear o filme Tempo, Gael García Bernal reflete sobre cinema e trajetória

O mexicano é um dos atores mais versáteis da atualidade, indo das animações da Disney aos melodramas de Pedro Almodóvar

Gael García Bernal
Gael García bernal em cenas do filme "Old" (Divulgação)

O mexicano Gael García Bernal é um dos atores mais versáteis da atualidade. Seja nas animações da Disney, nos melodramas de Pedro Almodóvar, em uma motocicleta explorando a América Latina, no longa Diários de Motocicleta ou até como maestro de orquestra sinfônica em Nova York, na série Mozart in the Jungle, é difícil pensar em algo que ele já não tenha feito ou que não se enquadre. E arrisco dizer que, talvez, essa seja a razão de estar sempre com algum projeto novo, seja na frente, seja por trás das câmeras.

 

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Seu filme mais recente é Tempo (Old), dirigido por M. Night Shyamalan, o diretor de O Sexto Sentido, e tem estreia marcada para 29 de julho. Além de García Bernal, o elenco também conta com Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff e Eliza Scanlen. O filme é inspirado nos quadrinhos Castelo de Areia (Sandcastle), de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters. A trama acompanha uma família que, durante as férias, vai para uma praia isolada. Poucas horas lá, eles começam a envelhecer muito rápido, ao ponto que suas vidas inteiras são reduzidas a apenas um dia. O ator interpreta o pai da família e, assim como os outros personagens, deve lidar com os desafios de lutar contra o tempo, literalmente.

 

Ao ter a oportunidade de conhecê-lo é até um desafio imaginá-lo em um filme de suspense. Simpático, brincalhão e sempre com um sorriso, García Bernal contou para a Versatille um pouco dos bastidores da produção e de sua carreira – sem entregar spoilers, é claro. Confira a entrevista exclusiva.

 

Versatille: A gente entende que é impossível saber o que vai acontecer em um filme de M. Night Shyamalan. Como foi sua primeira reação?

Gael García Bernal: Eu realmente fiquei muito surpreso quando li o roteiro. Como é bom, interessante e desafiador. Logo depois que li, praticamente, eu tive a oportunidade de conversar com o Night, para que ele pudesse me dar mais informações sobre a forma que ele queria filmar. Ele me mostrou o seu ponto de vista da história e a sua interpretação dela. Como gostaria que cada coisa fosse posicionada no enredo. E foi ótimo. Eu realmente curti este trabalho. Mas, obviamente, eu não posso falar muito sobre o que o filme é, pois estaria trapaceando. 

 

M. Night Shyamalan dirigindo o filme

M. Night Shyamalan dirigindo o filme (Divulgação)

 

Versatille: Manter o suspense é importante. Como foi segurar todos os segredos do filme, até mesmo para as pessoas que são próximas a você?

Gael García Bernal: Eu acho, na verdade, muito fácil não falar sobre o que estou fazendo. Não sei, é uma crença que tenho nos deuses do cinema. Falam que se você conta sobre o que você ainda não fez dá azar. Então, antes de filmar, não há problemas. E, enquanto eu estava gravando, o filme formou um corpo próprio. É bom não ter de colocar muitas palavras para descrever isso. Obviamente que, entre todos os atores e a equipe, a gente conversava muito, mas não falávamos com pessoas externas. Bem, não em detalhes. Em termos gerais, claro que eu poderia dizer. 

 

Versatille: Por falar em deuses do cinema, você já trabalhou com uma legião de grandes cineastas, como Pedro Almodóvar, Walter Salles e agora M. Night Shyamalan, que criou um gênero próprio dentro do suspense. Como está sendo essa sua primeira experiência em ser dirigido por ele?

Gael García Bernal: Foi realmente muito legal trabalhar com ele. Não sei quantos filmes ele já fez, uns 20 talvez. Sei que são muitos para alguém tão jovem. Ele é muito bom na forma como aborda o trabalho, o universo que ele cria, mas também o vocabulário que ele usa para as falas. Ele é extremamente inteligente, experiente e talentoso. Também tínhamos um time de atores maravilhosos, todos muito bons. De verdade, nos divertimos muito fazendo este filme. E também foi interessante, porque a gente não conseguia parar de pensar no que estávamos fazendo, onde estávamos e todos esses pontos do filme.

 

Gael García Bernal

Vicky Krieps, Thomasin Mckenzie e Nolan River contracenando (Divulgação)

 

V: Você fala muito abertamente que Hollywood não deve ser o objetivo principal de atores latinos. Atualmente, e cada vez mais, há uma presença maior de latinos na indústria americana. Como você vê esse cenário, já que foi um dos pioneiros?

G.G.B.: Acho que o mais legal é que há cinema sendo feito em diferentes partes da América Latina que estão ressoando muito hoje em dia. É um longo processo. Eu tive sorte de poder trabalhar com diretores em projetos que eventualmente o mundo inteiro iria ver. O mundo também ficou um pouco mais aberto com isso. Não só porque os filmes eram bons de fato, mas finalmente o público começou a se abrir a um novo panorama de cinema. Pessoas da América Latina estão crescendo vendo filmes do mundo todo, as nossas referências são incrivelmente vastas e isso é ótimo. Além disso, o fato de que os filmes estão sendo feitos e junto ao movimento há uma comunidade de pessoas tentando inovar e simultaneamente estão tentando formalizar e profissionalizar mais a indústria. Tudo isso é um bom sinal, para continuar fazendo as nossas histórias. E sobre o que Hollywood significa ou o que seja, eu não tenho nem ideia. É difícil para mim falar nesses termos industriais. Porque não é a forma como eu abordo o cinema, então não sei. 

 

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V: E já que a Versatille é brasileira e sabemos que você trabalhou com vários brasileiros na frente e por trás das câmeras, queremos saber: como você vê o cinema brasileiro?

G.G.B.: Para mim, o cinema brasileiro é um dos pilares da indústria latino-americana. Há excelentes filmes que foram feitos recentemente. Assisti a alguns ótimos. Também, uma das minhas maiores e melhores amigas é a atriz brasileira Alice Braga. Ela é como minha irmã. Trabalhamos juntos algumas vezes e mal posso esperar para que isso aconteça de novo. Espero que seja em português, e, de preferência, no Brasil. Ela tem de me convidar. O Wagner Moura também. Há tantos atores e diretores maravilhosos, muita gente que eu admiro e gosto muito. Espero que um dia eu possa trabalhar em português. 

 

V: E como está seu português?

G.G.B.: Bom, eu não bebi o suficiente para falar bem agora. Mas com um pouquinho de cachaça começa a fluir bem. 

 

O personagem Charles ganha vida através de Rufus Sewell

O personagem Charles ganha vida através de Rufus Sewell (Divulgação)

 

Estamos na torcida para que logo saia algum projeto com o Brasil e em português. Ademais, Tempo entra em cartaz no dia 29 de julho. É uma produção da Universal Pictures. 

 

Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 120 da Versatille

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