Peru: um destino repleto de história, cultura e gastronomia

Machu Picchu atrai milhares de turistas durante o ano, mas o país latino-americano tem ainda mais a oferecer

Montanha colorida (Foto: Jack Lima)

Visitar as Sete Maravilhas do Mundo Moderno está na lista de grande parte dos viajantes assíduos. Para os brasileiros, depois de ver o céu se abrir no topo do Corcovado, aos pés do Cristo Redentor, o destino mais próximo para ticar da lista fica no Peru.

 

Não há voos direto para Cusco saindo do Brasil, então é necessário fazer uma escala em Lima, e a recomendação é que passe pelo menos alguns dias por lá. A cidade é apelidada – quase – carinhosamente de la gris (a cinzenta) pelos locais, por conta do céu nublado que domina o horizonte na maior parte do ano. Mas, assim como todo o país, a capital do Peru é repleta de cultura. Basta andar pelas ruas para encontrar sítios arqueológicos preservados entre prédios e avenidas, como o Huaca Pucllana.

 

LEIA MAIS:

 

Para os amantes de arte, uma visita ao Museu Larco é essencial. A coleção de Rafael Larco Hoyle, pioneiro na arqueologia peruana, é vasta: vasos, tecidos e ornamentos pré-colombianos estão expostos nos grandes salões para apreciação. Já para quem prefere aventuras, a capital é ponto de partida para destinos incríveis, como as Ilhas Ballestas, o santuário da vida marinha peruana, o Huacachina, um oásis no meio do deserto, e as Linhas de Nazca, os famosos geoglifos.

 

 

Museu Larco

 

Caso tudo isso ainda não seja suficiente para convencer você a fazer uma parada em Lima, a gastronomia pode virar esse jogo: a cidade está repleta de restaurantes que constantemente aparecem no Guia Michelin e no The World’s 50 Best. O Central – eleito em 2023 o melhor restaurante do mundo –, o Mayta, o Kjolle e o Maido são alguns exemplos. A reserva antecipada é recomendada.

 

O três-estrelas Astrid & Gastón, comandado pelo chef Gastón Acurio e pela pâtissière Astrid Gutsche, é escolha certeira para comer bem, mas, para esta que vos escreve, o El Bodegon é o must dessa lista. O restaurante casual também do famoso chef peruano é uma taverna alegre e autêntica, e o menu vai desde sanduíches tradicionais bem temperados a pratos de massas e milanesas fartos. A recomendação é colocar a dieta de lado e se deliciar com o bolo de chocolate perfeito deles, doce na medida certa e com a massa molhadinha.

 

A culinária peruana é rica: ceviche, ají de galinha e lomo saltado estão quase sempre presentes nos menus. Não deixe de experimentar a chicha morada, famoso suco de milho preto, e o pisco sour, alcoólico que você encontra em praticamente qualquer lugar. Aventure-se para escolher os restaurantes também; é quase impossível não sair satisfeito e feliz a cada refeição no país. Agora, se você é do tipo de pessoa que gosta de experimentar de tudo, espere chegar a Cusco para provar a carne de alpaca e o tradicional cuy (porquinho-da-índia).

 

A caminho de Machu Picchu

 

Machu Picchu

 

O voo para chegar a Cusco é de tirar o fôlego – não por conta da sua altitude de mais de 3 mil metros acima do mar, mas por sua paisagem composta das Cordilheiras dos Andes. Ao aterrissar, é possível observar as ruas marcadas pelo sincretismo cultural do Peru, misturando a influência espanhola com a tradição quéchua. O impulso de sair explorando a cidade deve ser contido, pois a aclimatação precisa ser levada a sério. Descanse bem após uma caneca de chá de muña e deixa a folha de coca para o começo do próximo dia.

 

O city tour é um passeio essencial para conhecer a base da cultura da região e a história da antiga capital do Império Inca e das civilizações anteriores a ela. Igrejas erguidas com pedras dos antigos waqas (templos), como Coricancha, devem ser visitadas, mas a magia está na exploração dos sítios arqueológicos. Percorra Sacsayhuaman, Qenqo, Pucapucara e Tambomachay para começar a desvendar o legado andino.

 

Para os aventureiros, existem dois passeios que são mais desafiadores: a Laguna Humantay e a Vinicunca. A primeira fica a 4.200 metros acima do nível do mar; já a segunda chega a impressionantes 5.200 metros – para grau de comparação, a cidade de São Paulo está a 762 metros acima do mar. Nessa primeira visita ao país, decidi conquistar Vinicunca, a montanha que possui diversas cores por conta dos diferentes minerais sedimentados ao longo dos anos. A caminhada até o cume não é longa, são apenas 2 quilômetros para chegar ao ponto mais alto. O trabalho árduo está na respiração. É importante manter um ritmo calmo e concentrado para que o passeio seja aproveitado ao máximo. Confesso que não foi fácil subir andando, mas a chegada ao topo foi recompensadora, do tipo que transforma a sua vida. Mas não se preocupe: se você tiver dificuldade para realizar o trajeto, é possível pagar para subir a montanha a cavalo e completar o passeio na garupa de uma moto.

 

Caso a aventura não seja a sua praia, o Vale Sagrado dos Incas aguarda você. A paisagem dos andes peruanos, desenhada por rios que percorrem as montanhas, já é motivo suficiente para a visita, mas os numerosos monumentos arqueológicos distribuídos pelo vale são a real razão pela qual você deve conhecer a região. Moray, o laboratório agrícola dos andinos, é impressionante. Muito antes da tecnologia atual, os povos que habitavam o Peru já tinham desenvolvido uma técnica para criar microclimas e estudar a vegetação e os alimentos. Graças a esses esforços, plantas medicinais e os milhares de variações de batata foram descobertos.

 

 

Laboratório agrícola Moray

 

Para saber mais sobre a famosa tecelagem peruana, a cidade de Chinchero é a escolha certa. Ao lado de povos indígenas que preservaram técnicas antigas, é possível ver como os tecidos e os ponchos tradicionais são feitos e, claro, adquirir várias peças autênticas para você. As Salineras de Maras e Písac completam o tour até chegar a Ollantaytambo, o esplendor da arquitetura andina.

 

Não é preciso ter olhos atentos para perceber que não há argamassa nas construções dos espaços sagrados para os incas. O encaixe perfeito das pedras, que até hoje nunca foi reproduzido, aproveita ao máximo a composição natural do espaço, homenageando a deusa Pachamama, a Mãe Terra. As paredes possuem uma inclinação de aproximadamente 9 graus que suportaram terremotos e a passagem do tempo. Todos os templos encantam, mas nada vai se comparar com Ollantaytambo. A fortaleza representa toda a técnica e a sabedoria do povo andino, tanto na arquitetura como na astronomia. Mais uma parada imperdível.

 

As Salineras de Maras

 

Joia peruana

 

A paisagem vai mudando a bordo do trem para Águas Calientes, última cidade antes de finalmente encontrar mais uma Maravilha do Mundo. O que antes eram montanhas rochosas e até nevadas se transformam na densa mata amazônica. O trajeto de ônibus até a maior cidade cerimonial do Império Inca é sinuoso, mas encantador. A famosa montanha e a estrutura complexa de Machu Picchu impressionam ao serem observadas do alto, porém basta caminhar pelas ruas preservadas com um guia e mergulhar na história para descobrir que, no século 15, a construção era ainda mais majestosa.

 

A cidade, que estava incompleta quando foi abandonada durante a conquista espanhola, era um ponto de encontro para escambo e comemoração. Sacerdotes, ourives e artesãos se instalavam nas vilas para produzir tapeçarias e vasos e entoar cantos nos festivais. As paredes, que originalmente eram mais altas, estavam sempre decoradas, e peças de ouro adornavam o teto como parte da adoração ao Inti, deus sol.

 

Recomendo que escolha a rota 2 clássica, que cobre o platô da famosa foto e desbrava o complexo da cidade. Sem pressa, pare e observe, sinta a energia de Machu Picchu e sua importância histórica, veja com seus próprios olhos por que a cidade é uma Maravilha do Mundo Moderno. Garanto a você que não há nada igual.

 

O Peru ainda abriga diversos lugares encantadores como Puno, Arequipa e a Cordilheira Branca. Mal cheguei ao Brasil e já quero planejar uma segunda viagem para o país. A imensidão cultural e as belezas naturais são um convite para o retorno.

 

Por Marcella Fonseca | Matéria publicada na edição 136 da Versatille

Para quem pensa em ir para o Japão em busca de uma nova vida, também poderá procurar empregos aqui.