Orkut, celulares como o Motorola V3 e os da marca BlackBerry, videolocadoras e sons de ícones como Simple Plan, Charlie Brown Jr., Shakira e Britney Spears tocando no MP3 são algumas das referências que nos levam diretamente para os anos 2000. Só de ler essas palavras é difícil não lembrar a década pós-profecias catastróficas. O mundo realmente não acabou e o principal responsável por trazer à tona o período histórico explorado a fundo pela moda, música e entretenimento é a geração Z.

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Com 2 bilhões de visualizações no TikTok, a rede social dominada pelos jovens de 13 a 24 anos – que representam a maior parcela de usuários, segundo uma pesquisa do site Infobase –,  a “Y2K” (abreviação de Year 2000) pode ser considerada uma das maiores tendências de 2021. Por meio da produção de vídeos criativos, as famosas trends dão destaque aos estilos de roupas e maquiagem e trazem de volta hits antigos como A Thousand Miles, de Vanessa Carlton, I’m Just a Kid, de Simple Plan, Sexy Back, de Justin Timberlake, e as inesquecíveis Oops!… I Did it Again e Toxic, de Britney Spears, que atualmente estão entre as mais tocadas na plataforma. 

Além de fomentar um clima nostálgico, o app também revela novas sensações da música. Esse é o caso de Olivia Rodrigo, uma atriz e cantora americana de 18 anos que tem sua voz presente em diversas trends atuais. Sua canção Good 4 U, lançada no dia 14 de maio deste ano, não só estreou no primeiro lugar da lista Hot 100 da Billboard como ainda permanece nessa posição e é a número 1 no ranking das mais ouvidas globalmente no Spotify. O clipe da faixa musical, que tem 90 milhões de views no YouTube, traz elementos dos anos 2000, com cenas que lembram produções cinematográficas da época. 

Olivia Rodrigo veste o figurino de cheerleader no clipe da canção Good 4 U (Divulgação)

O trecho em que a artista e os dançarinos vestem uniformes de cheerleader, por exemplo, remete ao Diário da Princesa, de 2001, e a série de filmes As Apimentadas, lançada ao longo da década. Já aquele em que Olívia se senta em uma sala de aula à frente de pessoas com celulares na mão parece com Audição, de 1999. Há ainda uma parte em que a cantora caminha em uma floresta nebulosa e mergulha em um lago escuro, de forma semelhante a uma cena de Garota Infernal, longa protagonizado por Megan Fox, em 2009. 

Cena do filme “O Diário da Princesa” (Reprodução)

As produções de entretenimento do início deste século ressurgiram também no gênero das sitcoms – abreviação da expressão situation comedy, ou seja, comédia de uma situação composta de personagens comuns. A série The Office, lançada em 2006 e finalizada há sete anos, foi a mais assistida pelos americanos em 2020 nos serviços de streaming, segundo uma pesquisa divulgada pelo grupo Nielsen Global Media. O especial Friends: The Reunion, por sua vez, estreado no dia 27 de maio nos Estados Unidos com os atores originais, matou as saudades dos fãs de uma das sitcoms mais queridas de todos os tempos, transmitida de 1994 a 2004. No Brasil, já está disponível na plataforma HBO Max.

O elenco original posa no especial Friends: The Reunion (Divulgação)

Outros lançamentos esperados pelos apreciadores dos anos 2000 são o revival de iCarly e reboot de Gossip Girl – ambas séries teen –, com estreias previstas para 17 de junho e 8 de julho, respectivamente. O primeiro formato consiste em trazer os mesmos personagens e intérpretes a viverem uma continuação de histórias já passadas anteriormente, mas com fatos narrados anos após o original. Já o segundo apresenta novas narrativas e atores.

Registro dos atores que participarão do revival de iCarly (Divulgação)

No universo da moda, a nostalgia também está presente. Shoulder bags (pequenas e fáceis de carregar), lenços, camisetas com estampas de personagens e logotipos, comprimento míni, moletons e até a polêmica cintura baixa são algumas das tendências que voltaram à moda. Muitas delas remetem ao estilo indie, o qual surgiu impulsionado pelo movimento indie rock no início dos anos 1990 e influenciou as roupas e o lifestyle da década seguinte. Ele não se refere somente ao visual mas também à atitude de quem não se importa com a opinião dos outros.

Historicamente, embora tenham sido precedidos de teorias conspiratórias sobre o fim do mundo e o medo coletivo do “bug do milênio”, relacionado à incompreensão e ao mau funcionamento da informática, os anos 2000 marcaram um período com muitos acontecimentos positivos. As criações do Facebook em 2004, YouTube em 2005 e o iPhone em 2007 foram alguns dos lançamentos tecnológicos revolucionários. Quanto à economia, o Brasil passou por um boom de prosperidade entre 2000 e 2010 devido a várias circunstâncias nacionais e internacionais, o que o levou a ser tema da matéria de capa da The Economist de 2009, com a imagem do Cristo Redentor representando um foguete e o título “Brazil takes off” (Brasil decola, em tradução livre).

Steve Jobs revela o primeiro iPhone em 9 de janeiro de 2007 (Getty Images)

“Foi a grande virada do milênio, né? Havia uma expectativa muito grande para aquele momento. O Brasil teve uma eleição emblemática de um discurso de esperança, os investimentos e olhares estavam direcionados ao país e existia aquele sentimento de ‘agora vai’ ”, diz Andreia Meneguete, especialista em comunicação, branding e marketing e pesquisadora de consumo e comportamento do consumidor. 

Segundo a profissional, eventos que causam mudanças significativas na sociedade são gatilhos para o desejo de retorno ao passado. “Cada momento que se revela como um divisor de águas, por exemplo a pandemia, representa o surgimento de algo novo com o qual não sabemos lidar.  Atualmente, a incerteza e a insegurança estão muito presentes e, ao enfrentá-las, é comum esperar que a gente reviva um passado e queira estar próximo do que tem história e tradição”.

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Ao analisar o contexto histórico das referências icônicas dos anos 2000, é difícil não sentir um calor no coração e saudades de tempos estáveis e esperançosos. É por isso que esse período tem a cultura tão explorada e permanecerá trazendo novas lembranças. “A moda, a publicidade, os canais de comunicação levam para as pessoas aquilo que foi culturalmente construído como um significado. Se a gente está com o desejo de mais leveza, a mídia vai trabalhar esse símbolo e nós vamos consumir aquilo que nos remete a ele”, finaliza. 

Por Laís Campos