O que é e como encontrar um propósito?
Thaís Roque é expert em desenvolvimento de carreira. Nesta coluna ela explica o que é o tão falado propósito e orienta você a encontrar um para chamar de seu
A palavra propósito se popularizou muito nos últimos anos – estampou desde capas de revistas de negócios a livros de gurus que beiram a auto-ajuda. Tudo é válido quando um tema tem potencial. Mas… Por que tamanha popularidade? Por que vale a pena encontrarmos o nosso propósito na vida?
A primeira pergunta tem uma resposta clara e bem convincente: de acordo com um estudo feito pela Lancet em 2014, pessoas que levam a vida com menor senso de impacto na comunidade vivem menos do que as pessoas que dão significado e propósito à sua existência.
Para a pesquisa, nove mil pessoas acima dos 65 anos tiveram seu bem estar estudado ao longo de oito anos e meio, através de um questionário capaz de medir quanto controle eles sentiam ter sobre as suas próprias histórias, e o quanto achavam que o que faziam valia a pena.
Apenas 9% das pessoas que alegaram viver com propósito faleceram durante a pesquisa, ao contrário de 29% que viviam com menor senso de bem estar pessoal e impacto no mundo.
Em outras palavras: se você acredita que tem uma missão a cumprir, e que seu papel no mundo faz diferença, deve viver mais e melhor do que quem não enxerga um sentido claro na vida.
Meta é propósito?
É importante ressaltar: propósito não são metas e objetivos.
Esses, embora movam muito o dia-a-dia da sociedade moderna, têm dia e prazo para serem cumpridos. Comprar uma casa, juntar uma quantidade específica de dinheiro, emagrecer, fazer uma viagem e abrir uma empresa são importantes, mas quando alcançados deixam de fazer parte dos nossos pensamentos e de mover as nossas ações, sendo assim substituídos por novos “quereres”.
Já o propósito funciona como uma trilha sonora que dá tom a tudo o que fazemos. Como uma bússola, ele direciona pequenas e grandes ações que dão sentido e significado a nosso comportamento. Esse tom determina grande parte de como viveremos enquanto estivermos aqui, acima de o que teremos enquanto estivermos vivos.
Encontrar um propósito é abrir mão de tudo o que tenho?
De maneira nenhuma – e desde que não fira nossos valores pessoais, como honestidade, transparência, família.
Um exemplo claro de propósito é o da Apple (sim, empresas também têm propósitos!). Enquanto Steve Jobs estava no comando, “contribuir com o mundo fazendo ferramentas para a mente que façam a humanidade avançar” foi um deles, e “acreditamos que tudo o que fazemos desafia o status quo. Acreditamos em pensar diferente” foi outro. Mesmo mudando a frase, eles não dizem se esse propósito se limita ao marketing, ao setor jurídico ou comercial – pois vale para todos.
A Disney, que tem como propósito “levar felicidade a pessoas de todas as idades, em qualquer lugar”, limita-se a um segmento ou produto? Não. Parques, filmes, brinquedos, alimentos, hotéis e centenas de outros produtos da marca são criados com a mesma intenção: criar felicidade.
Como encontrar o meu propósito?
01. O que faz você feliz? Pessoas têm propósitos únicos, que normalmente se demonstram como intenções enraizadas em suas ações, mesmo que não as perceba. Se seu trabalho não lhe faz feliz, note em seu dia-a-dia o que você realiza que te dá grande senso de pertencimento e sentido. São as famosas tarefas que você “faria até de graça”, pois trazem satisfação.
02. Por que as pessoas procuram você? Elimine respostas que claramente não se aplicam ao propósito: pedir dinheiro, emprego, etc. Busque insights como: tenho facilidade em acolher sem julgar, agrego pessoas facilmente, consigo fazer com que as pessoas atinjam seu máximo potencial, entre outras.
03. Olhe ao seu redor. Analise as carreiras e pessoas que admira, e escreva o porquê. Por exemplo: admiro uma bailarina por sua capacidade de transformar sentimentos em movimentos; ou admiro astronautas por nos dar acesso a lugares nunca antes explorados. Vá além do óbvio (fama, dinheiro, estética); pense quais contribuições fariam você se sentir realizado.
04. Escute. Converse com pessoas realizadas profissionalmente e pergunte a elas o que lhes dá mais prazer no dia-a-dia (de novo, que não envolva salário, cargo, etc.). Pergunte a si e aos outros:
– Se tivesse certeza de que tudo daria certo e que haveria retorno financeiro, que atividade lhe faria mais feliz?
– Se soubesse que teria sucesso absoluto, focaria em quê?
– Se não tivesse o peso de “o que as pessoas vão pensar?”, qual seria seu formato de trabalho?
Em outras palavras: tirando o ego e o medo, o que move as suas ações? Quando nada mais o amedrontar, a ponto de fazê-lo parar, mais claro tende a ficar o seu propósito.
Por Thaís Roque (@meuproposito.com.br)
Imagem: Foto da obra Viewing Machine, de Olafur Eliasson / Reprodução Instagram