O brasileiro por trás de umas das mais raras coleções de Air Jordans
Bruno Faucz materializa sua paixão pelo basquete em seu acervo de 186 pares exclusivos
Cano alto, cores marcantes, o símbolo da Nike na parte superior do calcanhar, logotipo “Wings” (asas) na lateral e a silhueta de Michael Jordan com as pernas e os braços abertos na lingueta: é tarefa fácil reconhecer o modelo clássico Air Jordan. Lançado em 1985 nas cores preta e vermelha, em colaboração com o lendário jogador de basquete, o tênis icônico é um sucesso desde então. Apesar da nova onda de fãs fervorosos – que incluem celebridades dos mais diversos campos de atuação e, principalmente, a geração Z –, para alguns, o modelo é muito mais do que apenas o must have do momento, caso do designer de mobiliário Bruno Faucz, que possui uma coleção preciosa de Air Jordans.
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Os 186 pares exclusivos fazem parte da decoração de seu lar, em São Bento do Sul, no norte de Santa Catarina. Escritório, closet, quarto, estantes: cada canto da casa é adornado com um pouquinho de sua paixão, que teve início aos 12 anos, quando começou a jogar basquete. “O meu pai nunca foi muito de esporte, mas, por algum feliz motivo, decidiu colocar uma tabela de basquete em casa. Eu pirei com a modalidade, comecei a treinar e virou o esporte da minha vida. O tênis é o artigo do basqueteiro. Você até pode estar jogando com qualquer roupa, mas o tênis tem de ser legal”, conta.
Como qualquer aficionado por basquete, a atenção aos Air Jordans, especificamente, aconteceu pela admiração por Michael Jordan. Faucz, todavia, é um dos fãs que captam a genialidade do jogador além de sua habilidade esportiva. “Ele se envolvia muito com a criação, tinha muita visão de negócio e queria que seus tênis fossem criados para que pudesse sair do treino usando jeans e o mesmo calçado. A ideia era criar uma cultura para a galera fora da quadra, e ele conseguiu desenvolver um item atemporal.”
Em 2001, o designer conseguiu seu primeiro par. A sensação única de tê-lo em mãos, no entanto, foi mais difícil do que imaginava. O modelo era um Air Jordan 13, na cor cherry, branca e vermelha com detalhe da sola preta. O catarinense havia comprado o tênis por um preço baixo pelo Mercado Livre, de um colecionador brasileiro que morava na Bolívia. “Ele chegou em uma embalagem muito esquisita em casa, cheia de fita na caixa. O tênis estava com a sola separada do cabedal”, relembra.
Apesar da decepção, ele queria tanto aquele par que, mesmo podendo descartar o danificado e escolher qualquer outro do colecionador, recorreu a um sapateiro para reconstruí-lo. “Eu usei por anos aquele tênis. Ele era do lançamento original de 1998, um Santo Graal. Não importava que estava surrado, ter aquele par era essencial.”
Depois da entrada inusitada no mundo dos Air Jordans, a coleção começou a tomar forma em 2005, quando passou a trabalhar para ajudar seus pais a pagar a faculdade. Ainda assim, conseguia comprar poucos pares e só após alguns anos, já com seu escritório de design, pôde tornar seu conjunto robusto e inigualável. “Não é nada barato colecionar tênis. Para isso, é preciso estar bem estabelecido financeiramente. Mesmo antes, eu economizava cada centavo, mas ainda assim não podia comprar um grande volume nem ir atrás daqueles mais raros”, relata.
Apesar de hoje não precisar limitar suas aquisições, o designer mantém um olhar cuidadoso, que prioriza a unicidade em detrimento da quantidade: “Se você não for seletivo, torna-se só um acumulador e passa a querer comprar tudo sem critério algum”. O principal requisito para um Air Jordan ser elegível para sua coleção são tons originais, ou seja, aqueles utilizado pelo jogador nas quadras. “Eu os tenho nas mesmas cores que ele usou quando jogou de 1985 a 1998. Vai do Jordan 1 ao Jordan 14.” Além disso, há também espaço para edições limitadas e colaborações especiais, como aquelas com artistas e grifes, as quais, segundo Faucz, trazem um fôlego novo e oferecem mais exclusividade, além de elevar o patamar da coleção.
Embora todos os pares colecionados se destaquem por ser raros, há um modelo que ninguém mais no mundo possui, produzido por Dominic Ciambrone, conhecido como “The Shoe Surgeon” (O Cirurgião dos Sapatos). Seu estúdio, localizado em Los Angeles, já produziu tênis para diversos jogadores da NBA e artistas como LeBron James e Travis Scott, além de realizar projetos da própria Jordan Brand. “Ele constrói o tênis do zero com os materiais que você quer. Eu mandei o desenho de um Jordan 1. Assim que recebe o projeto de alguém, é um de um, não executa para mais ninguém”, explica.
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Diferentemente de coleções em que os objetos são mantidos intactos, nessa, a parte mais legal é a estreia dos pares: “Eu uso todos. Muita gente fala que tem de esperar um momento especial para inaugurar. Para mim, esse momento é quando o tênis chega. Eu abro a caixa, dou aquela cafungada para sentir o cheiro de tênis novo e coloco no pé. Esse cheiro é a melhor coisa! Eu só queria uma essência de ambiente para espirrar no carro e nas cortinas e deixar a minha casa com esse aroma”. De fato, o amor é verdadeiro.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 123 da Versatille