Muitos Nordestes: Gabriel Gontijo
O influenciador digital veste peças da marca Depedro, integrante do projeto Nordestesse
Brasil, país de dimensões continentais e que abriga uma pluralidade de culturas única, o cenário perfeito para a efervescência de mentes criativas fazerem o que fazem de melhor: criar. Mesmo com tantos talentos, marcas passam despercebidas, muitas vezes pela falta de olhar para determinadas regiões.
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A plataforma Nordestesse, fundada por Daniela Falcão, promove uma curadoria cautelosa e fomenta e divulga o trabalho de empreendedores oriundos dos nove estados nordestinos, apoiados em cinco pilares: moda, design, artes visuais, gastronomia e hotelaria. Sem cair nos clichês, marcas demonstram seus DNAs por meio do design autoral e do resgate de tradições, saberes e matérias-primas – caso das labels presentes no editorial: as baianas Adriana Meira e Ateliê Mão de Mãe, a cearense Açude e a potiguar Depedro. Os convidados Carollina Lauriano, Gabriel Gontijo, Gustavo Narciso e Luanda Vieira posam em fundos coloridos, esbanjam personalidade nas peças e discorrem sobre a importância da moda brasileira e de seus desdobramentos.
Gabriel Gontijo é influenciador digital no segmento de moda masculina. Em seu perfil do Instagram, acumula mais de 95 mil seguidores engajados em seu conteúdo, que também aborda turismo e gastronomia. Formado em publicidade e propaganda, já trabalhou no departamento de marketing da grife Iorane e atualmente é do time de influenciadores da plataforma Iguatemi 365.
Versatille: Qual é a função da moda para você?
Gabriel Gontijo: Além de trabalho, é a forma de expressão que assumo diariamente. Desde o dia que eu tenho algum evento, trabalho, alguma coisa pontual que me faz elaborar com certa antecedência até o dia mais banal e corriqueiro. Eu acho que a moda está encaixada no dia a dia. É essa coisa ambígua: de trabalho e expressão diária.
V: Como você se expressa pela moda?
GG: Eu sou muito aquela pessoa não só de roupa, mas de itens de casa, de perfume, de sapato. Sempre fico esperando uma ocasião para me vestir. Quando fui me descobrindo e tendo certa autonomia de ter os meus itens e comprar coisas de marca, era muito montado, consumia bastante, e eram peças mais chamativas. De um tempo para cá, eu me identifiquei muito com o normcore, que é um estilo mais básico, blasé, bege. A gente também teve vários episódios na pandemia, em que as ocasiões que tínhamos para nos vestir foram todas pausadas. Acho que, por essa pausa dos últimos tempos, estou mais básico. Agora tenho retomado os meus momentos de expressão mais criativos.
V: Como você se conecta com a marca Depedro?
GG: Quando a gente fala que moda é uma forma de expressão a partir das peças que escolhemos, temos de levar em consideração que a peça também tem expressão. Uma peça da Depedro não é feita em larga escala nem naquele mesmo circuito das labels que a gente sempre vê, mas produzida por uma marca que tem uma história no nome. Eu tive o privilégio de o próprio criador vir me explicar o processo criativo das roupas. Ele deixa os bordados aparentes ao invés de fazer aquele mesmo acabamento. As peças são quase artesanais. É muito bonito ver que o Marcus preserva as tradições dele seguindo tendências. Ter conhecido uma marca rica culturalmente, fora dessa Região Sudeste ou internacional, foi especial. Ele deixa a marca da história de como a peça foi criada.
V: O que a moda brasileira tem de único?
GG: Eu sou de Minas Gerais, que é um celeiro de muitos criativos da parte da moda. Eu vejo que a gente tem muita referência no nosso país, que é continental: a fauna, a flora, os ambientes, a geografia e as cores. De ponta a ponta, a gente encontra um lugar diferente. Na moda brasileira, quando a gente se inspira nisso ou no lifestyle mesmo, nas próprias modas daqui de São Paulo, do Rio de Janeiro, que são cidades mais cosmopolitas, surgem resultados muito legais. Inúmeras marcas de muitos segmentos, tanto de festa quanto de beachwear, casual, extraem isso. Se a gente pega as labels brasileiras e coloca lado a lado, é incrível ver a sua pluralidade.
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V: Complete a frase: em um mundo ideal, a moda seria…
GG: Para mim, já é, mas, acredito que em um mundo ideal a moda seria uma forma de expressão livre e acessível. A gente fala muito da moda como se fosse uma possibilidade muito fácil de comprar algo, ter acesso a uma peça ou consumir rapidamente uma tendência. Muitas vezes, quem está ali assistindo, dando audiência, não tem acesso a isso. Surgem então questões muito específicas e até problemáticas de comprar algo similar, de uma mão de obra que não se sabe de onde veio. Criar e produzir moda aqui no Brasil é bem difícil e moroso. O ideal seria ter a acessibilidade e a possibilidade de se expressar, tanto para quem produz quanto para quem consome e veste.
Por Laís Campos
Fotos: Muraca
Tratamento de imagem: on retouch
Styling: Raoni Vieira
Assistente de styling: Sarah Fialho
Assistente de set: Luiza Borges
Maquiagem, grooming e hair: Bruno Nascimento
Convidados: Carollina Lauriano, Gabriel Gontijo, Gustavo Narciso e Luanda Vieira
Matéria publicada na edição 125 da Versatille