O renascimento da Balenciaga a partir de Demna Gvasalia

Confira momentos icônicos da trajetória do designer georgiano que transformou a marca no hype do momento

O diretor-criativo da Balenciaga Demna Gvasalia
O diretor criativo da Balenciaga Demna Gvasalia (Getty Images)

É inegável que a Balenciaga tem estado no hype (termo que remete ao que está sendo muito repercutido), chamando a atenção das pessoas – há um tempo e parece que ela não perderá logo o posto de marca tão falada e desejada. Apesar de ter extrema relevância na modernidade, seu legado é antigo e não é exagero dizer que ele resulta de dois nomes: Cristóbal Balenciaga, seu fundador, e o atual diretor criativo, Demna Gvasalia. Mesmo atuando em épocas muito diferentes, ambos representam visões vanguardistas.

 

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Cristóbal decidiu abrir seu primeiro ateliê homônimo em 1917, aos 22 anos, em San Sebastian, na Espanha – seu país de origem. Em 1937, devido a Guerra Civil Espanhola, ele fechou seu ateliê espanhol e viajou para a França, onde abriu a Casa Balenciaga na prestigiada Avenida George V. Em 1938, aos 42 anos, apresentou sua primeira coleção e, desde então, foi sempre reconhecido e aclamado pela mídia.

 

Durante sua carreira, Balenciaga se aperfeiçoou na construção de silhuetas com formas mais simples e puras, as quais se tornaram sua grande assinatura. Essa criação o fez receber os títulos de “escultor de roupas” ou “arquiteto da moda”. Após uma jornada de sucesso, em 1968, o designer decidiu fechar as portas para se aposentar.

 

Depois da marca ser reaberta em 1986 como propriedade da companhia familiar de cosméticos The Bogart Group e ter sido comandada pelos diretores criativos Michel Goma, Joseph Thimister e Nicolas Ghesquière, pode-se dizer que, em 2015, o renascimento da Balenciaga, quando Gvasalia assumiu o posto, começou.

 

Nascido na década de 1980, na Geórgia, o designer vivenciou a guerra civil no país durante os anos 1990 e se dirigiu à Alemanha. Além de falar sete idiomas, ele é formado em economia e em moda pela Royal Academy of Fine Artes, localizada na Antuérpia. Antes da Balenciaga, Demna já havia passado pela Maison Margiela, na Louis Vuitton, e pelo coletivo Vetements, onde foi indicado ao prêmio LVMH.

 

Nesses sete anos na liderança da direção criativa da marca, o designer escreveu uma trajetória única, não apenas pela criação de peças icônicas como o sapato-meia Speed Sock, e o “tênis feio”, Triple S., mas também por desenvolver a forte cultura e hype que envolvem a grife. Cenários distópicos em seus desfiles, formas moldadas, proporções exageradas da alfaiataria e materiais futuristas são assinaturas do estilista. Confira, a seguir, alguns dos marcos da era de Demna Gvasalia na Balenciaga.

 

 

Abordagens múltipla e antifashion

 

Ao contrário da maioria dos estilistas, Gvasalia se tornou uma potência comercial ao adotar uma abordagem intencionalmente antifashion. Na Balenciaga, seu trabalho incorporou ícones banais do mainstream como sacolas de compras da marca Ikea e os calçados Crocs. A partir desse posicionamento, o estilista transforma itens da vida cotidiana em objetos de desejo e abraça todas as idades, gêneros, convenções e estranhamentos.

 

Sapato da Balenciaga no formato do Crocs

(Divulgação)

 

Debut na alta-costura após 53 anos

 

O renascimento da alta-costura da Balenciaga, a partir da coleção de julho de 2021, foi descrito pelas críticas como uma união excepcionalmente bem-sucedida da visão de Gvasalia com a do fundador da marca. Ele apresentou designs sofisticados que fundiam a herança da grife com seu trabalho no desenvolvimento de tecidos e estilo contemporâneo. Os destaques incluem os jeans com botões de prata feitos manualmente com um tear vintage (máquina utilizada para tecelagem) dos Estados Unidos, os tricôs de cashmere e os tuxedos refinados.

 

Look de alta-costura da da Balenciaga

(Divulgação)

 

Aliados influentes

 

A estratégia de se juntar a pessoas influentes da moda e música é crucial para reforçar a cultura e hype da marca. Mas como tudo que o designer faz, este é um movimento bem pensado, não óbvio e que instiga. Um exemplo foi a aparição de Kim Kardashian no Met Gala de 2021 usando um vestido preto de alta-costura da Balenciaga com uma máscara e cauda que combinavam. O look foi diferente de tudo que a socialite – ou qualquer outra pessoa – já usou no evento, de modo a esconder  suas feições e físico famoso, conferindo a ela algo completamente inusitado: o anonimato.

 

Kim Kardashian no Met Gala de 2021

(Getty Images)

 

Presença nos games

 

Em 2020, para lançar sua coleção de Outono/Inverno 2021, a Balenciaga criou o game “Afterworld: The Age of Tomorrow”, que retratava um cenário fictício de 2031. Já em setembro do ano passado, o designer fez uma coleção para o jogo Fortnite, da Epic Games. A parceria ultrapassou os limites virtuais da loja de itens do jogo para uma linha de roupas física, que foi disponibilizada no site oficial da Balenciaga.

 

Game “Afterworld: The Age of Tomorrow”, da Balenciaga

Game “Afterworld: The Age of Tomorrow”(Divulgação)

 

Os Simpsons de Balenciaga

 

Em outubro do ano passado, a grife apresentou sua coleção de prêt-à-porter Primavera 2022 no formato de um episódio de 10 minutos de “Os Simpsons”, exibido no Theatre du Chatelet, de Paris. Na produção, Bart, Lisa, Marge e Homer, além de outros personagens, vestiam peças da grife e houve ainda a participação de Anna Wintour, Kanye West, Kim Kardashian e o próprio diretor criativo Demna Gvasalia como animações.

 

Bar no episódio de Os Simpsons, da Balenciaga

(Divulgação)

 

Distopia e incômodo

 

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Apesar de constantemente explorar tais pilares, a campanha de vídeo para a coleção de Verão 2020 da Balenciaga talvez seja a mais bizarra e perturbadora. A marca criou um telejornal surreal, em que homens e mulheres se moviam e falavam como marionetes. A temática visual da sociedade distópica e a crítica à linguagem vazia da política e da imprensa foi transmitida por meio do uso da cor azul da União Europeia, a qual esteve presente tanto no cenário do desfile, quanto na campanha fotográfica. As fotos, por sua vez, se assemelhavam a pôsteres de propagandas políticas nos quais havia pessoas de diferentes etnias e mensagens positivas e genéricas. A estética tinha um estilo corporativo grotesco, o qual exibiu até cartões de crédito transformados em brincos.

 

Foto da campanha da coleção de Verão 2020 da Balenciaga

(Divulgação)

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