Mostra na Pinacoteca revela décadas de transformação na arte e nas cidades americanas

A a exposição "Pelas Ruas: Vida Moderna e Experiências Urbanas na Arte dos Estados Unidos – 1893-1976", conta com obras de artistas como Andy Warhol e Edward Hopper

Obra de arte "Eva the Babysitter"
Eva the Babysitter, por Emma Amos (Ryan Lee Gallery)

Pouco mais de 80 anos de transformações de cidades americanas, palcos de encontros e conflitos, de diferentes ritmos e sensações, sob o olhar de artistas como Andy Warhol, Edward Hopper, Emma Amos e Georgia O’Keeffe integram a exposição Pelas Ruas: Vida Moderna e Experiências Urbanas na Arte dos Estados Unidos 1893-1976, na Pinacoteca de São Paulo. Prevista para ocorrer de 27 de agosto de 2022 a 30 de janeiro de 2023, a mostra contará com 150 obras, entre pinturas, gravuras e fotografias de 16 diferentes coleções. A maior parte vem da Terra Foundation for American Art – que faz cocuradoria –, além do Whitney Museum of American Art de Nova York e o Museum of Contemporary Art Chicago.

 

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Previamente planejada para 2020 e adiada devido à pandemia, a exposição foi reformulada para conversar com o centenário da Semana de Arte de 22, além de trazer um olhar fresco acerca da modernidade. “Começamos a pensar como também nos Estados Unidos você tem uma narrativa que se torna hegemônica e como existem muitas outras histórias que estão imbuídas dessa modernidade americana que não foram privilegiadas”, diz Valéria Piccoli, curadora-chefe da Pinacoteca, que compartilhou a curadoria com Fernanda Pitta, professora-assistente do MAC-USP. “Fizemos adaptação cronológica e recortamos a exposição pensando justamente como essa cultura da vida urbana nos Estados Unidos vai se tornando uma espécie de objetivo, de norte, para pensar o que é a vida nas grandes cidades.”

 

A mostra preencherá sete salas do primeiro andar da Pinacoteca e terá sete núcleos de diferentes temáticas e momentos, nos quais predominam obras de arte figurativas. “Algumas tendem à abstração, como era inevitável, mas privilegiamos em todas as seções a figuração dessas relações sociais e do indivíduo com o espaço urbano.” 

 

Obra de Andy Warhol

(Andy Warhol)

 

Em “A cidade branca”, é apresentado o antigo ideal da cidade moderna, de arquitetura com referência europeia, representada por pinturas de artistas como o impressionista americano Childe Hassam. Na mesma ala, ergue-se a discussão sobre segregação, com fotografias de culturas não brancas ou ocidentais em território americano. 

 

“‘Experimentações artísticas’ tem a ver com esse momento, nos anos 1920, 1930 e 1940, em que você tinha uma geração de artistas informados obviamente pelas vanguardas europeias e que se valiam desse espaço construído, do ambiente urbano, justamente como um assunto e expressão ou investigação estética”, explica Valéria. 

 

Obra de arte "Eva the Babysitter", por Emma Amos

Eva the Babysitter, por Emma Amos (Ryan Lee Gallery)

 

Na seção “O individual e o coletivo”, é possível apreciar retratos de personagens anônimos em encontro com a cidade. A curadora destaca a pintura da artista Emma Amos, chamada de Eva the Babysitter (1973), de uma babá negra ao lado de uma criança branca, e ainda a gravura Night Shadows (1921), de Hopper, em que um sujeito anda por uma rua deserta. Do mesmo artista, também participará da exposição a obra Dawn in Pennsylvania (1942).

 

Pintura Dawn in Pennsylvania (1942), de Edward Hopper

Pintura Dawn in Pennsylvania (1942), de Edward Hopper (Nathan Keay © MCA Chicago)

 

“O que era interessante para a gente na pintura dele é menos ligado ao drama pessoal, da solidão individual, e mais a esse olhar para elementos específicos da paisagem urbana”, explica a curadora. “Ele não escolhe um grande edifício da cidade, mas um espaço corriqueiro, que tem uma característica mais industrial, um pedaço de trilho de trem e uma paisagem por trás.”

 

Já “Ritmos e padrões da cidade” tem relação com o trânsito e compasso que a vida urbana impõe. “Você tem o tempo de comer, o do transporte, e depois de se divertir, se reunir na praia ou nesses entretenimentos de rua”, afirma a curadora. “[Nesta ala] você tem algumas imagens de salões de dança, de Elizabeth Nottingham, por exemplo.”

 

Pintura The Big Jolt (1972), de Roger Brown

Pintura The Big Jolt (1972), de Roger Brown (Divulgação)

 

Em “A multidão anônima”, explora-se a sensação de ser um indivíduo perdido no meio do povo. Entre as imagens, aparecem exemplares dos fotógrafos Gordon Parks e Robert Frank.

 

No setor “Engajamento e separação”, figuram as manifestações de rua, a revolta de Stonewall e lutas por direitos civis de afro-americanos. Entre as obras de arte previstas, há uma gravura em preto e branco de Warhol de 1965, que exibe um policial incitando um cachorro contra um grupo de manifestantes negros. “É um artista tão identificado com certa frivolidade da cultura de massa, a massificação das imagens, das celebridades, que eu acho que era importante destacar esse momento muito específico de sua carreira, em que ele se volta para um assunto absolutamente crucial”, conclui Valéria. 

 

Pintura sem título (1948) de Beauford Delaney​

Pintura sem título (1948) de Beauford Delaney​ (Divulgação)

 

Por fim, em “Cidades reimaginadas”, aparecem artistas que repensam a noção de comunidade. “Tem imagens da Drop City, que é a primeira comunidade artística montada dos Estados Unidos, um protótipo das comunidades hippies dos anos 1960 e 1970, e é construída por artistas no sul do Colorado.” 

 

Por Ana Luiza Cardoso | Matéria publicada na edição 127 da Versatille

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