Moda circular impulsiona brechós de luxo no mercado

Conheça quatro brechós de luxo com curadoria de ponta que trazem a economia circular como destaque para o mundo da moda

Um dos brechós de luxo é a Pretty New
A loja física do Pretty New, no Lago Sul, em Brasília (Divulgação)

Foi no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 que as roupas de brechó começaram a ganhar força. “Isso sempre existiu, mas, com o término da Primeira Guerra Mundial e a gripe espanhola, houve muitas mortes e, consequentemente, sobraram muitas roupas no mundo”, afirma João Braga, professor de história da moda da Faap. Apesar de não ser uma realidade recente, a preocupação dos consumidores com a sustentabilidade, impulsionada pela pandemia, acelerou a assimilação dessa ideia e intensificou o surgimento de empresas que vendem peças usadas.

 

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Nos brechós de luxo, apesar de a exclusividade das roupas parecer distante em uma primeira impressão, na verdade está mais presente do que nunca. “Em teoria, no brechó, você não vai encontrar duas peças iguais, mas sim um produto que alguém garimpou, vendeu e você encontrou.” O historiador explica que o conceito de vintage também está conectado à proposta do modelo de negócio. “O termo significa usar algo que tenha sido expressão de moda em outra época. É uma roupa original. Eu não vou usar qualquer vestido tubinho, mas sim aquele assinado por Yves Saint Laurent, ou Emilio Pucci.” 

 

De fato, o movimento é crescente. Grifes como Gucci e Alexander McQueen já se posicionaram a favor da moda circular ao firmar parceria com marketplaces internacionais de revenda de produtos de luxo. A ideia é prolongar a vida útil de peças previamente adquiridas por clientes e reverter as vendas em créditos para serem utilizados por eles na compra de novos itens das marcas.

 

Para João Braga, os empreendimentos e estratégias que priorizam a preservação ambiental tendem a perdurar. “Independentemente de ser uma roupa de brechó ou nova, se estiver vinculada com aspectos que valorizam questões sustentáveis, se torna uma forma de fidelizar o cliente, e acredito que tenha uma durabilidade maior. Vai depender do conceito e não do produto.”

 

Confira quatro plataformas nacionais de revenda de itens de luxo que se destacam quando o assunto é achar verdadeiras joias nos armários alheios. 

Pretty New

A fundadora de um dos brechós de luxo Pretty New, Gabriella Constantino

A fundadora da Pretty New, Gabriella Constantino (Divulgação)

 

Após cursar international business na European Business School, em Londres, a brasiliense Gabriella Constantino fundou o Pretty New, em 2014. “Eu sempre amei moda e quis atuar na área, mas sem ser designer nem ter minha marca. Minha vontade era trabalhar com algo que gerasse impacto positivo na vida das pessoas.”

 

A sede está em Brasília, e, no último dia 19 de julho, inaugurou sua primeira loja física no bairro Lago Sul. Para vender um produto no Pretty New, é necessário cadastrá-lo pelo site ou enviar uma foto via WhatsApp. Depois, será feita uma pré-análise. Se a peça se enquadrar nos requisitos da avaliação, o cliente pode enviá-la à sede sem custo, e, no local, ela é higienizada, autenticada, fotografada e adicionada ao catálogo do site.

 

Segundo Gabriella, a curadoria das peças é um dos principais diferenciais do negócio: “Quando as pessoas compram no Pretty New, elas já esperam receber o produto com certa qualidade e que ele seja pretty new [bem novo]”. Outro destaque é a identidade visual, do perfil do Instagram e do site, que os assemelha a uma marca autoral. “Temos de gerar desejo pelo produto por meio da foto. Você nunca vai ver uma imagem malfeita, apresentando a peça de qualquer forma.”

 

Para o futuro, a empresária pretende atender clientes internacionais e deseja estar presente nos locais emblemáticos da moda. “Sonho com a nossa loja no Soho, em Nova York, ao lado dos grandes players do mercado”, conclui.

Fair Closet

As fundadoras de um dos brechós de luxo Fair Closet, Bel Pedroso, à frente, e Mailee Monteiro de Barros, atrás

As fundadoras do Fair Closet, Bel Pedroso, à frente, e Mailee Monteiro de Barros, atrás (Divulgação)

 

Depois de uma experiência lucrativa organizando um bazar, Bel Pedroso criou, em 2014, o Fair Closet, inicialmente como um perfil no Instagram para a revenda de produtos de luxo. Após comandar o negócio sozinha por aproximadamente um ano, lançou em 2015, com a sócia Mailee Monteiro de Barros, um dos primeiros e-commerces do tipo no Rio de Janeiro.

 

“A curadoria é toda feita por nós. A gente pega os produtos, fotografa, higieniza e os coloca para vender.” Os clientes que desejam anunciar suas peças no Fair Closet podem contatar a empresa pelos canais digitais, como e-mail, WhatsApp e site, ou então ir até o quiosque de captação de produtos no shopping carioca de alto luxo VillageMall.

 

Para Bel, a reputação do Fair Closet é o que o distingue: “Estamos há oito anos no mercado. Isso não se conquista da noite para o dia. A cliente não vai colocar uma bolsa Birkin, da Hermès, para vender por meio de alguém que ela mal conhece, ou que acabou de abrir um second hand”. Agora, o objetivo é transformar a plataforma em um marketplace de luxo com o maior acervo possível. “O mercado tem muita concorrência, mas está bastante fragmentado. Ainda não tem um líder no Brasil, como lá fora. Queremos ser a referência.”

 

O Fair Closet também se compromete a destinar as peças a quem mais precisa por meio do projeto Closet do Bem, que surgiu em janeiro do ano passado como uma proposta de evento beneficente, que reverte 100% do lucro das vendas para ongs. Angélica, Agatha Moreira e Rodrigo Simas já contribuíram com diversas roupas e a ação já reverteu mais de 100 mil reais para instituições carentes do Rio de Janeiro.

Peguei Bode

as fundadoras do Peguei Bode, Daniela Carvalho, à frente, e Gabriela, atrás

As fundadoras do Peguei Bode, Daniela Carvalho, à frente, e Gabriela, atrás (Divulgação)

 

Criada há dez anos, a plataforma Peguei Bode é uma das pioneiras no mercado brasileiro de revenda de itens de luxo. As irmãs Gabriela e Daniela Carvalho começaram vendendo suas roupas pelo Facebook e, com o passar do tempo, se profissionalizaram. “Criamos um blog e, na época, o pagamento ainda era feito por e-mail. Foi lucrativo desde o primeiro dia. Quando vimos que ia dar certo, corremos para registrar o nome e montar um e-commerce”, conta Gabriela.

 

Apesar de no início ainda existir o preconceito em relação aos brechós, a fundadora afirma que o posicionamento de algumas personalidades fez a diferença. “Nati Vozza e Thássia Naves foram algumas das primeiras clientes do site. A Lala Rudge também fez post, então uma foi incentivando a outra. Hoje em dia é até cool você falar: ‘Essa bolsa foi um achado! Paguei 50% a menos do que na loja!’”, diz.

 

O começo marcado por pouco avanço tecnológico contrasta com o atual método de inteligência artificial para avaliar o estado dos produtos. “Temos uma maquininha dos Estados Unidos chamada Entrupy, que se parece com um iPhone. Ela tem uma lupa e uma luz específica e, depois de passar pela peça, gera um certificado ou não.”

 

Segundo Gabriela, o Peguei Bode se destaca pela exclusividade da seleção de peças. “Nós temos novidades sempre. Por exemplo, ontem entrou uma bolsa da Chanel que é coleção atual, está na vitrine da loja e inclusive já foi vendida.” Apesar de as bolsas serem o carro-chefe do e-commerce, a empresária quer focar em outros produtos para expandir a variedade oferecida no site.

Resolvi Desapegar

Bruna Machado, cofundadora e CEO do Resolvi Desapegar

Bruna Machado, cofundadora e CEO do Resolvi Desapegar (Divulgação)

 

“O Resolvi Desapegar surgiu como uma brincadeira, algo bem despretensioso. Eu vendia artigos pessoais na Internet e percebi que, se estava conseguindo vender meus próprios itens, por que não montar o meu negócio e fazer a venda desses produtos sem o intermédio de terceiros?”, diz Bruna Machado, fundadora do e-commerce de revenda de produtos de luxo que já conta com mais de 100 mil seguidores no Instagram.

 

A empresária conta que viu uma oportunidade de negócio ainda não muito difundida no Brasil em 2014, quando criou a empresa junto ao marido, Marco Gonzales. “Percebemos um grande potencial nesse mercado, pois ele já era consolidado nos Estados Unidos e na Europa, mas não aqui. Além disso, tem o problema com os produtos falsos”, explica.

 

Segundo Bruna, o Resolvi Desapegar foi desenvolvido com o propósito de aumentar a vida útil de produtos usados, por meio de um portal no qual os compradores podem ter certeza absoluta que encontrarão itens originais. “O critério principal para que o produto seja vendido no Resolvi Desapegar é que ele seja um item autêntico. Essa é a regra número 1.” Após sete anos no mercado, o foco do e-commerce no curto prazo é a otimização de ferramentas para que o negócio mantenha sua evolução. 

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 121 da Versatille

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