“Gosto de pensar que cada leitor encontrará suas próprias erupções”, diz Aline Bei
Com sua segunda obra publicada, a finalista no Prêmio Jabuti conquistou o público com suas histórias sinceras
Para quem nunca teve a chance de ler uma obra de Aline Bei, deixo aqui um aviso: prepare-se, pois ela vai mudar sua vida. Encarar os livros bem escritos da jovem autora, de apenas 35 anos, é deparar com histórias de mulheres e se debruçar, sem nem mesmo perceber, no ser feminino.
A protagonista de sua mais recente obra, Pequena Coreografia do Adeus, é humana, com dores e aflições que, muitas vezes, são identificáveis. Conhecer Julia Terra é adentrar em um mundo sofrido, entrelaçar-se em sua infância conturbada pela separação dos pais, e torcer, com todas as forças, para que a felicidade a esteja esperando no fim da última página.
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Por meio de um ritmo cativante e do equilíbrio entre a beleza de sua escrita e a dor de suas personagens, Aline nos conduz pela história de forma leve, e, em poucas horas, as palavras impressas já foram devoradas.
Formada em letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em artes cênicas pelo Teatro-Escola Célia Helena, a autora foi vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Toca com sua obra de estreia, O Peso do Pássaro Morto. Neste ano, foi finalista do Prêmio Jabuti com Pequena Coreografia do Adeus.
Aline Bei responde às perguntas da Versatille com seu estilo único de transformar palavras em poesia. Confira, na íntegra, a conversa com a autora.
Versatille: Por que e quando você começou a escrever?
Aline Bei: o quando me aconteceu aos 21 anos, nos corredores da faculdade de letras. é algo mais fixo, o meu quando
por isso começo com ele.
o meu porquê
são muitos, estendo
a você
um deles: o teatro,
abandonei o teatro sem querer partir. deve acontecer algo parecido com os bebês no útero. por isso escrevo, porque me falta
tudo: a infância, o palco. a vida se desdobrando em vida. me faltam roupas confortáveis para fazer o aquecimento
antes de entrar
em cena, me falta o antes
da cena,
e ainda assim já não posso voltar.
por isso escrevo.
Escrevo sempre
a partir da falta.
V: Quem ou o que é sua inspiração?
AB: ah, o Corpo. veja que impressionante
isto de
morar em nós.
V: Em que momento de sua vida você escreveu Pequena Coreografia do Adeus?
AB: comecei a imersão depois
de entregar o Pássaro
2017 despontando em
2016.
V: Por que decidiu fazer de Julia Terra uma escritora?
AB: não é decisão, é Escuta.
V: O que você deseja que as pessoas sintam ao ler sua obra?
AB: gosto de pensar que cada leitor encontrará suas próprias erupções diante de um livro.
não desejo nada além de ser lida.
V: Você ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura com sua primeira publicação e agora é finalista na categoria romance literário no Prêmio Jabuti. Como está sendo a experiência?
AB: é uma espécie de pausa. por exemplo: quando alguém na montanha
para, alguém no cavalo
para, alguém
em um barco
para
e olha ao redor.
V: Você tem algum novo projeto em andamento? Se sim, pode falar um pouco sobre ele?
AB: o que posso contar é que descobri o livro que escrevo agora dentro da Pequena.
também descobri a Pequena dentro do Pássaro
e o Pássaro eu descobri dentro da morte.
Por Marcella Fonseca | Matéria publicada na edição 129 da Versatille