Fotografia: Walker Evans

No período de 26 de abril a 14 de agosto, o Centre Pompidou, em Paris, apresenta a primeira grande retrospectiva de um dos mais importantes fotógrafos americanos do século 20   Por sua atenção aos detalhes da

No período de 26 de abril a 14 de agosto, o Centre Pompidou, em Paris, apresenta a primeira grande retrospectiva de um dos mais importantes fotógrafos americanos do século 20

 

Por sua atenção aos detalhes da vida cotidiana e banalidade urbana, Walker Evans (1903-1975) ajudou a definir a visibilidade da cultura americana do século 20. Algumas de suas fotografias tornaram-se ícones nesse assunto. Os retratos de uma América em crise durante os anos 1930, os projetos publicados na revista Fortune durante os anos 1940 e 1950, e a definição de “estilo documentário”, tudo isso influenciou gerações de fotógrafos e artistas.

 

Concebida como uma retrospectiva do trabalho de Evans em toda a sua plenitude, a exposição destaca a fascinação do fotógrafo com a cultura “de vernáculo”. Nos Estados Unidos, “de vernáculo” define formas de expressão populares ou comuns empregadas por pessoas comuns para fins úteis. Isso quer dizer tudo o que é criado fora da arte e dos circuitos principais de produção. O que, especificamente, formou a cultura americana.

 

A primeira parte da exposição junta os principais temas do vernáculo constantemente buscado por Evans: a tipografia de uma placa de sinalização, a disposição de uma mostra, a janela de uma lojinha, etc.

 

A segunda seção mostra de que maneira ele mesmo adotou um modal operacional ou formas visuais da fotografia de vernáculo por ocasionalmente se tornar um fotógrafo de arquitetura, cartões-postais ou retratos de rua para o espaço de um projeto. Evans sempre trabalhava explicitamente de um ponto de vista artístico.

 

A retrospectiva olha para a carreira toda do artista, de suas primeiras fotografias no final dos anos 1920 até as fotos Polaroid dos anos 1970, as mais de 300 cópias de fotos vintage das principais coleções internacionais, e cento e poucos documentos e objetos. Devota, também, um espaço considerável para os cartões-postais, placas esmaltadas, recortes de imagens e efemeridades gráficas que Evans colecionou durante toda a sua vida. Frequentemente um museu chama o fotógrafo que está expondo de “uma das mais importantes figuras na história da fotografia”. Faz a gente pensar quantos fotógrafos assim poderiam possivelmente existir.

 

No caso de Walker Evans, contudo, a declaração é mais que justificada. A influência que Evans teve nessa mídia, particularmente no campo do documentário, é inegável.

 

Mesmo assim, não importa quão bem observadas e meticulosamente construídas sejam as fotos individualmente, o trabalho de Evans é ainda melhor quando visto como parte de seu contexto narrativo.

 

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Vindo de um histórico literário, Evans não era só um fotógrafo, mas um contador de histórias. Em seus aclamados livros American Photographs (1938) e Let Us Now Praise Famous Men (1941), mensagem e estética caminham juntas. Saudado por Gerry Badger como um dos livros de fotografia mais importantes já feitos, American Photographs foi lançado para acompanhar a exposição de mesmo nome no MoMA, em 1938 — a primeira mostra-solo de um fotógrafo feita pelo museu, numa época em que o mundo da arte tinha apenas começado a abranger essa mídia. Badger chama o livro de “um trabalho de literatura fotográfica”, no qual Evans não age apenas como um fotógrafo, mas, também, como um autor.

 

Let Us Praise Famous Men teve aspirações literárias ainda maiores: o livro é uma colaboração plena entre Evans e seu amigo, o escritor James Agee. Por meio de uma combinação de fatos e poesia, eles contam a história de três famílias de fazendeiros arrendatários sulistas durante a Grande Depressão, um assunto em grande parte invisível na época. O livro traz a fotografia mais icônica de Evans, também um símbolo daquele período de dificuldades: o retrato de Allie Mae Burroughs (1935/36). A mulher mostra sinais óbvios de pobreza, mas se recusa a aceitar piedade, olhando direta e confiantemente para a câmera. A foto foi apropriada em 1980 pela artista Sherrie Levine em sua fotografia After Walker Evans tornando-se um ícone de novo, dessa vez da era pós-moderna. A versão refotografada, que é exatamente igual à original, também levantou questões importantes sobre originalidade e copyright.

 

Embora não tenha sido produzida como parte da incumbência de Evans para a Farm Security Administration, FSA, o retrato é representativo do trabalho que ele realizou para a instituição durante aquela época (1935–1937). Graças a esse trabalho Evans tornou-se o fotógrafo mais influente da América rural pobre. Entretanto, ele não foi o primeiro: Lewis Hine (1847-1940) havia se empenhado em levantar a conscientização pelos menos privilegiados a fim de forçar mudanças e reforma social no início do século 20.

 

Uma ramificação única da produção de Evans nos anos 1930 é a série de retratos do metrô de Nova York. O fotógrafo andava de metrô, documentando seus passageiros, décadas antes de os fotógrafos da Magnum — Bruce Davidson (Subway, 1980) e Michael Wolf (Tokyo Compression, 2010) — mergulhassem no assunto. No papel de um passageiro normal, junto com a companheira fotógrafa Helen Levitt, Evans tirava fotografias cegas com uma câmera escondida como protesto contra retratos posados.

 

Com esse método, tinha pouco controle sobre o resultado final, mas, talvez o mais importante, os passageiros tampouco posariam para as fotografias, já que não sabiam que havia uma câmera fotografando. De acordo com Badger, por meio dessa série Evans almejava filtrar a própria voz expressiva.

 

Fotografia por Humberto Rodrigues | Matéria publicada na edição 96 da Revista Versatille

 

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