“Eu sou um pouquinho de tudo o que já fiz”, destaca José Loreto

Em entrevista à Versatille, José Loreto discorre sobre a relação entre persona e personagem e revela pontos desconhecidos sobre si

Foto: Anthenor Neto

Algumas entrevistas, mesmo que por telefone, têm o poder de transmitir uma parte importantíssima da essência de um entrevistado. Sem respostas decoradas nem questões previamente acertadas, fica o espaço para a naturalidade e a espontaneidade de uma conversa que pode revelar muito a partir de simples acontecimentos. Pode-se dizer que esse foi o caso da conversa com José Loreto, que dá vida a este editorial.  

 

Na correria das gravações, ele conseguiu um tempo para realizar a ligação enquanto voltava de carro para casa. Entre barulhos de seta ligada e uma breve parada no posto de gasolina para abastecer, foi possível perceber um pouco mais uma faceta muito interessante do ator global: o José por trás das câmeras.

 

Com notável sotaque carioca de quem nasceu e cresceu em Niterói, ele gosta de falar sobre a persona comum que dá voz a tantos personagens do teatro, do cinema e da telenovela. “São vários Josés em um só: ator, celebridade, pai, família e amigo”, destaca. Para equilibrar todos eles, é claro que a rotina envolve disciplina, mas também correria. 

 

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Conhecido pelo grande público desde 2005, quando estreou na televisão por meio de Malhação, Loreto já coleciona atuações em seu extenso currículo. Por mais que seu primeiro amor tenha sido o teatro, hoje ele também se diz apaixonado pelo cinema e pelo universo das telenovelas, que o aproxima de forma intensa dos telespectadores – algumas vezes, as pessoas até o abordam na rua chamando pelo nome dos personagens. 

 

Realmente são muitos Josés em um só. Em entrevista para a Versatille, o ator falou com mais detalhes sobre sua relação de equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Confira a seguir.

 

 

Versatille: Qual é sua relação com a atuação? Você sempre teve vontade de ser ator? 

José Loreto: Eu descobri as artes cênicas tarde. Foi na escola, no terceiro ano do segundo grau. Por mais que a minha mãe fosse professora, eu tinha uma ignorância cultural muito bruta. Quando conheci o teatro, em um exercício de escola, fiquei impressionado ao perceber que dava para viver disso. Meus pais não apoiaram de início, porque não tinham contato nenhum com a área. Para eles, eu precisava seguir carreiras mais clássicas, então acabei fazendo economia. Aos poucos fui migrando para o teatro. Meus pais foram vendo que eu me dedicava e realmente estava cheio de vontade, então as coisas foram dando certo. As oportunidades até vieram mais rápido que o normal. 

 

V: Qual parte desse trabalho fez seu coração bater mais forte? 

JL: Foi quando eu entendi o que era estar no palco. Quando comecei, a minha ideia era ser ator e ter aquela relação de emoção e proximidade com o público por meio do teatro. Todo o meu exibicionismo tinha um porquê em cima do palco, então essa era a minha paixão. A televisão e o cinema aconteceram por acaso. Eu queria mesmo era viver para o teatro. A minha intenção não era ficar famoso, nem mesmo ganhar dinheiro. Só queria ter o prazer de estar no palco. Era isso que me movia. 

 

V: E quem é o José Loreto por trás das câmeras e fora do palco? Como você é na vida pessoal? 

JL: Confesso que passo tanto tempo na frente das câmeras que fica até difícil definir quem sou (risos). Além disso, eu sou geminiano. Não somos muito retos e alinhados. Por exemplo: eu sou um pouco rural. Gosto de ficar tranquilo em uma casa de campo, mas ao mesmo tempo também amo sair com os meus amigos. No geral, gosto de estar com a minha filha, meus amigos e minha família. É isso que importa. 

 

 

V: O que você acredita que as pessoas não imaginam sobre você? 

JL: Atualmente, estou fazendo um personagem muito extravagante – o Lui Lorenzo, de Vai na Fé. Ele tem características minhas, mas é muito mais dilatado e potente. A partir disso, as pessoas se convencem que eu sou daquele jeito. Elas sempre se confundem, mas de uma maneira prazerosa. Muitas vezes encontro pessoas na rua que batem no meu ombro como se fôssemos amigos íntimos por conta do personagem. É maravilhoso, mas elas nem imaginam que eu não sou como aquele personagem. Na verdade, sou tímido. Por mais que não seja tímido em cena ou com meus amigos, sou um pouco calado. Posso ficar um dia inteiro sem falar quando estou sozinho em casa. Essa relação entre José e os personagens é um pouco confusa. Eu sou um pouquinho de tudo o que já fiz. 

 

V: Qual papel mais marcou você na carreira? 

JL: Tive sorte porque sempre fiz personagens muito legais. Eu não consigo destacar um, mas penso muito no Darkson, de Avenida Brasil, que foi um divisor de águas e me lançou no universo televisivo.Também sou muito grato ao José Aldo, que foi o meu primeiro protagonista em um filme de biografia com muita dedicação. 

 

V: Qual o sentimento quando a obra acaba e você deixa de fazer o personagem? Faz muita falta? 

JL: Super! Passamos meses pensando naquele universo, lendo sobre e vivendo as emoções da vida dos nossos personagens. Às vezes eu passo mais tempo do meu dia na história deles do que na minha (risos). Então, acredito que a gente acaba sugando um pouco de cada personagem vivido. Recentemente, eu fui dançar com a galera e, quando vi, estava dançando semelhante ao Lui Lorenzo, meu personagem atual. É um verdadeiro transe entre persona e personagem. Quando a relação acaba, sentimos luto, falta e até alívio. Passamos cerca de um ano dando vida a um personagem, é quase um divórcio. Uma relação que chega ao fim e precisamos superar. Mas, novamente, eu tive a sorte de encerrar ciclos com outros já em vista. Isso facilita o desapego. 

 

V: O que ainda almeja conquistar na carreira? 

JL: Quero continuar fazendo bons personagens. Gosto muito de biografias, mas também quero voltar para o teatro, que estou há bastante tempo sem fazer. Também quero estar no cinema, que me dá muito prazer. Eu realmente me sinto um calouro, mesmo sabendo que  já tenho uma trajetória e estou “rodado” na pista. Ainda tenho muito a realizar. 

 

 

V: Qual foi a maior dificuldade que precisou superar até o momento?

JL: A maior dificuldade é entender o que é ser artista e celebridade. Saber dosar quanto você se doa e se expõe. É muito delicado, e nós estamos em um momento de muitas mudanças. Temos as redes sociais muito mais fortes e, como artistas, também somos influencers. Eu uso isso para o meu trabalho, mas qual o limite? Respondo às fofocas que fazem sobre mim ou não? Quanto isso me afeta? Eu me sinto como um laboratório de mim mesmo, tentando entender como agir e como causar menos danos para mim e para os que estão à minha volta.  Quanto mais visibilidade você tem, mais julgamento aparece. Como artista, eu quero estar no mundo e ser visto, mas e como José? Quanto eu quero isso para mim? 

 

V: Na vida, o que é mais importante para você?

JL: Justamente o José que não é o ator. São vários Josés em um só: ator, celebridade, pai, família e amigo. Mas a minha maior realização da vida foi ser pai de uma criança incrível, que fez tudo ganhar um novo significado na minha vida. Então, o mais importante é ter momentos de qualidade no presente. Não sei quando vou embora. Daqui a 30 anos? 40? Amanhã? Não sei, então quero estar feliz com o meu presente e estar bem com a minha família. 

 

 

V: E como você organiza a vida com a correria do trabalho e da vida pessoal? 

JL:  Busco me organizar para ter tempo de qualidade. Posso estar gravando de segunda a sábado, mas de manhã, em uma quarta-feira com a agenda mais livre, eu tento treinar e nadar com a minha filha, por exemplo. Mesmo nessa correria, eu consegui fazer o aniversário da minha filha, que foi incrível. A melhor coisa que fiz no ano. A vontade, inicialmente, era só comer um bolinho simples em casa, porque é puxado organizar uma festa tendo que decorar 20 cenas por dia. Valeu muito a pena depois.  

 

 

Texto por: Beatriz Calais

 

 


 

 

Landscape com o Masp, por Paulo von Poser

 

“Aceitar o convite para retomar a moda na Versatille foi um delicioso desafio.

 

Foi fascinante pensar nesta edição de virada e manter o universo da arte como ponto de contato fundamental.

 

Quando iniciamos, as possibilidades eram infinitas, e tudo começou a tomar forma a partir da escolha dos personagens centrais: Sheron Menezzes e José Loreto. Uma dupla explosiva que vem arrebatando corações e a audiência da faixa das 19h, com a novela da Globo Vai na Fé.

 

Em seguida, o lindo e sempre inspirador trabalho do artista Paulo von Poser serviu como uma luva e foi o ponto de partida de um processo minucioso, para evoluir com os moodboards e avançar com a vocação do título em destacar a arte.

 

Para ela, a delicadeza e a silhueta do Rio de Janeiro, suas curvas e seus contornos, a Praia de Copacabana, o Copacabana Palace, a Belmond Hotel (não por acaso um dos principais endereços de distribuição da revista e local escolhido para o lançamento), além do Jardim Botânico e seu roseiral único. Para ele, a selva frenética de São Paulo, a potência do centro, o Masp e as rosas de pegada punk, que têm aspecto de grafite. Tudo sob medida e desenvolvido para enaltecer o melhor da moda.

 

A fim de encerrar a edição em alto estilo, um time de profissionais incríveis, que deram vida às histórias que contamos aqui.

 

Obrigado pela entrega e pelo empenho. Começamos com o pé direito, e isso é um ótimo sinal.”

 

Luis Fiod

 

Direção criativa e edição de moda: Luis Fiod

Fotos: Anthenor Neto

Ilustrações e pinturas: Paulo von Poser

Produção de moda: Zeca Ziembik

Grooming: Homero Mancilha 

Assistentes de produção: Giuliana Grandi e Igor Urban

Assistentes de fotografia: Pedro Kief  e Marcos Henrick

Camareira: Fabi Oliveira

Produção executiva: Andre Bona

Studio: W Born

Set design: Zeca Ziembik e Andre Bona

Tratamento de imagem: Nanda Canevalho

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