Em expansão, a Cidade Matarazzo se torna um megacomplexo com experiências culturais e gastronômicas
O espaço, que abriga hotéis, clube privado e até centro cultural, consagra-se como um polo que exalta o que o Brasil tem de melhor
Nos últimos meses, tive a oportunidade de visitar o Rosewood São Paulo, hotel seis estrelas que integra o megacomplexo Cidade Matarazzo, por conta de eventos que aconteceram nas dependências da propriedade. Todas as vezes, sem exceção, a beleza do local virou pauta nas rodas de conversa. Pessoas encantadas com a arte, o design e o primeiro impacto causado pela entrada do hotel, que envolve os recém-chegados num corredor verde, que parece transportá-los para uma São Paulo diferente da que conhecemos, bem “cinza”.
Após uma entrevista com Alexandre Allard, responsável pela idealização da Cidade Matarazzo, as impressões que guardei na minha mente se confirmaram. Durante a conversa, percebi que a ideia do empresário francês de fato é transportar os visitantes para uma capital que esquecemos de enxergar: aquela repleta de oportunidades, belezas e experiências de bem-estar, cultura e gastronomia.
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“O complexo é um retrato do poder cultural e criativo de São Paulo – e todo mundo ganha com isso. Após a nossa inauguração, o preço médio de outros hotéis explodiu. Temos mais pessoas investindo e acreditando no país, por conta de nosso trabalho para mudar a atratividade da cidade. É um efeito com bilhões de impacto”, ressalta Allard. Para ele, a ideia é valorizar as riquezas que já temos disponíveis, mas que, por muito tempo, passaram despercebidas ou subaproveitadas.
O próprio complexo fica em um local histórico para a capital paulista, tendo abrigado, por décadas, o Hospital Umberto I e a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, que passou por um período de quase 30 anos de abandono. “Achavam que eu era louco por estar fazendo algo no ‘lado errado’ da Paulista. Era assim que as pessoas chamavam”, recorda o empresário. “Acho que isso tem muito a ver com a descrença dos brasileiros sobre a própria cultura e a falta de autoestima e entendimento do poder que este país tem. Agora, quando as pessoas veem que está tudo lotado, reconhecem o sucesso e começam a repensar.”
Assim como eu, jornalista que assina a matéria, diversos outros profissionais estiveram no Centro de Eventos do Rosewood São Paulo ao longo de 2024 – talvez até você, leitor. Digo isso por conta da enorme rotatividade do espaço. “Recebemos 1.400 eventos nos últimos 12 meses. Números inimagináveis. São mais de três eventos por dia”, reforça Allard. E, se isso não foi o bastante para atestar o sucesso do local, nos cabe citar outras conquistas, como o reconhecimento de melhor hotel da América do Sul pelo ranking The World’s 50 Best Hotels.
Além disso, a própria expansão do local é um atestado de que o projeto está saindo do papel com maestria. Em junho, o clube londrino Soho House foi inaugurado. Já em setembro, a Casa Bradesco abriu as portas ao público com uma mostra inédita do indo-britânico Anish Kapoor. Para 2025, o centro cultural ainda deve abrir três espaços especiais: a sala Acima, um clube de criatividade voltado para workshops; a sala Ali, focada em atividades infantis; e a Abaixo, com um salão que poderá ser usado para shows, palestras e exposições, com capacidade para até 1.500 pessoas.
Com o objetivo de impactar o entorno, o complexo também está vinculado ao projeto Sua Rua, em parceria com a prefeitura da cidade e com previsão de término até o fim de 2025. Nesse planejamento, a ideia é que um trecho entre as Ruas Rio Claro e São Carlos do Pinhal ganhe um bulevar para pedestres ligando a Cidade Matarazzo à Avenida Paulista. Além da passagem, o local promete abrir 11 minirrestaurantes de rua. “Isso tudo representa muito mais do que um polo gastronômico e cultural. É um polo de experiências e estilo de vida”, destaca o empresário. “Estamos criando referências nacionais.”
Criatividade à moda brasileira
Quando falamos sobre os projetos de sucesso na Cidade Matarazzo, torna-se impossível não citar a Soho House no Brasil. O clube privado é original de Londres e, apesar de extremamente discreto, está ligado a histórias de celebridades internacionais, como príncipe Harry e Meghan Markle, que se conheceram em uma das unidades do empreendimento. A inauguração do espaço em São Paulo veio para mostrar que até nesse universo o Brasil consegue se tornar referência.
O clube possui 45 casas em todo o mundo, mas foi em solo brasileiro que aconteceu um verdadeiro frenesi em torno de sua chegada. Com uma tarifa anual de mais de 1.500 dólares, apenas os sócios podem acessar o espaço exclusivo, o que criou uma lista de espera com muitos candidatos. “Todo membro potencial que completa a inscrição no site entra em uma lista de espera até que nosso comitê local possa avaliá-lo. Costumamos dizer que o candidato ideal tem uma alma criativa e incorpora os mesmos valores que a Soho House defende: diversidade, criatividade, gentileza e respeito”, explica Alicia Gutierrez, diretora de filiações latam.
Com o objetivo de unir mentes criativas e proporcionar a elas um espaço para relaxar, comer, beber e encontrar outras pessoas, o local conta com 32 quartos, academia, spa, piscina com bar, restaurantes e áreas para reuniões ou descanso. “Nossa chegada marca a abertura da primeira casa na América do Sul em 30 anos de história. São Paulo, uma cidade com arquitetura de ponta, música, arte, além de áreas criativas como moda e design, que crescem rapidamente, foi a escolha natural e fortalece nosso compromisso de expansão”, completa a executiva. Além de ter um forte impacto na capital paulistana, o local ajuda a levar a essência do Brasil para o resto do mundo.
Membros do clube podem pagar uma adesão que lhes permite visitar qualquer uma das 42 casas ao redor do globo. Com isso, muitos estrangeiros têm visitado o espaço, levando um pouco da criatividade brasileira no retorno para suas terras de origem. “Cada Soho House conta uma história, e é isso que as torna únicas. No projeto de São Paulo, incluímos uma mistura de materiais locais, como madeiras de imbuia, cumaru e jequitibá. Além de preservar a história arquitetônica do edifício, nosso time colaborou com artesãos locais para que todas as peças fossem fabricadas no país.”
Antes da coroa, o cocar
O Complexo Matarazzo, como um todo, é adornado por peças, obras e materiais brasileiros. Para Alexandre Allard, isso é de altíssimo luxo. Ao longo da entrevista para a Versatille, sua pulseira com cores vibrantes chamou atenção. Feita por artesãos do Xingó, seus desenhos representam a jiboia, um animal poderoso na sabedoria ancestral. “Eu me inspiro na jiboia. Tenho paciência, força e capacidade de adaptação a novos ambientes. Se eu perder essa pulseira, perco meu poder”, comenta o empresário.
Em meio às mais de 450 obras de arte que compõem a decoração do Rosewood, também é possível encontrar o desenho de uma jiboia que circunda todo o estacionamento. “Ela foi pintada pelo povo indígena pataxó e fica embaixo da capela, para mostrar que, antes da coroa, existia o cocar. A característica mais poderosa do Brasil não é o colonialismo, é a ancestralidade”, destaca. “Por isso essa pulseira é tão luxuosa. Vendemos no hotel e eu também ofereço a todo mundo que encontro: o presidente francês Emmanuel Macron tem duas. O papa e os cantores The Weekend e Bruno Mars também já ganharam.”
Foi a partir dessa linha de pensamento que Allard criou a identidade do complexo. “Há demanda para o luxo brasileiro – e ele é muito diferente do que vemos no Hemisfério Norte. A questão é que o desejo de consumo tem um teto. Depois de 80 sapatos e 20 bolsas de grife acumuladas no armário, você alcança um limite. As novas gerações se atraem muito menos pelo material. Elas querem experiências com significado e propósito”, explica.
“O consumo de uma bolsa traz um prazer momentâneo. Já o bem-estar gerado por uma experiência pode marcar você para sempre, e o Brasil é o local perfeito para isso, com uma enorme riqueza cultural. Vamos mostrar isso ao mundo. Esse é o meu trabalho”, finaliza Allard, que confessa o que seu sonho atual é: tirar férias após mais de dez anos de trabalho.
Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 137 da Versatille