De bunker na Segunda Guerra Mundial à conexão com James Bond: a história do clássico hotel The Dorchester

Com 93 anos de funcionamento, a hospedagem em Londres foi palco de diversos acontecimentos históricos

Foto: Divulgação

Hospedar-se no The Dorchester, localizado em Mayfair, sofisticado bairro de Londres, é um sonho para aqueles que gostam de uma boa história. Cada parede, carpete e quadro da propriedade é capaz de esconder algum acontecimento memorável por trás de seus detalhes. O mármore rosa no banheiro da suíte Harlequin, por exemplo, foi instalado por conta de Elizabeth Taylor, que residia nesse quarto e tinha preferência pela cor rosa.

 

De repente, um banheiro tem o poder de imergir os hóspedes numa curiosidade de saber momentos vividos no hotel em décadas passadas. Para essas pessoas, a propriedade oferece passeios guiados com Christopher Astbury, gerente dos arquivos da casa, que revela segredos e fotografias históricas. Mas, para quem está curioso a distância, antes mesmo de voar para Londres e realizar o check-in, a reportagem traz boas histórias.

 

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TERRENO HISTÓRICO

 

O The Dorchester foi inaugurado em 1931 – o que faz dele uma hospedagem com 93 anos de idade –, mas o local em que foi construído já era histórico antes mesmo de se cogitar a criação de um hotel. No século 11, o terreno era parte da Mansão de Hyde, propriedade do rei William I. Uma terra que ele posteriormente deu de presente a Geoffrey de Mandeville, patrulheiro da Torre de Londres, que a entregou para a Abadia de Westminster.

 

Desenho histórico do hotel.

 

Aos cuidados de um dos edifícios religiosos mais notáveis do Reino Unido, o terreno se tornou uma terra religiosa. Séculos depois, em 1792, Joseph Damer, conde de Dorchester, comprou a casa que foi construída no local, fazendo com que ficasse conhecida como “Dorchester House”. O nome se manteve popular e imune à passagem do tempo – e é por isso que continuou sendo utilizado quando o hotel foi construído. Naquela época, o hotel que conhecemos hoje ainda estava longe de nascer.

 

Em meados de 1840, o terreno passou para as mãos do capitão Robert Staynor Holford, que construiu ali uma casa inspirada nos “palazzos italianos”, a fim de rivalizar com a Villa Farnesina, em Roma. A propriedade privada chegou a ser alugada pelo embaixador americano Whitelaw Reid, que em 4 de julho de 1907 convidou 4 mil pessoas para suas celebrações pomposas e exibidas.

 

Já em 1910, o local abrigou a Embaixada Americana – que foi eventualmente convertida em hospital durante a Primeira Guerra Mundial. Nada disso fez com que o popular nome “Dorchester House” se apagasse. Sendo assim, em 1929, sir Robert McAlpine, prometendo criar um hotel de luxo que seria “classificado como o melhor da Europa”, comprou o local do Gordon Hotels, por 500 mil libras. A ideia era construir uma hospedagem supermoderna, com telefones em todos os cômodos, concreto reforçado e paredes à prova de som. Sob essa premissa, o The Dorchester saiu do papel e iniciou um longo e movimentado capítulo próprio.

 

DE PORTAS ABERTAS 

 

Seja pelo discurso impactante de sir Robert McAlpine na inauguração do hotel, seja por mérito dos corredores e das suítes luxuosas, o The Dorchester logo começou a receber intelectuais, políticos e celebridades de peso, como o poeta Cecil Day-Lewis e o pintor sir Alfred Munnings.

 

Desenho histórico do hotel.

 

Durante a Segunda Guerra, pela fama de ser um prédio seguro feito de concreto reforçado, o local também passou a hospedar militares e membros do governo que se abrigavam em espaços convertidos em bunker. Em 1944, o general Dwight D. Eisenhower – que depois se tornou presidente dos Estados Unidos – estabeleceu o seu quartel-general no hotel enquanto planejava a invasão da Normandia. Hoje, há uma suíte batizada em homenagem ao comandante, localizada no primeiro andar.

 

No pós-guerra, chegou a vez da nata hollywoodiana tomar conta do local. Elizabeth Taylor, Barbra Streisand e Alfred Hitchcock eram nomes frequentes por lá. Também foi nessa época que a princesa Elizabeth de York – futura rainha Elizabeth II – deixou o seu marco na propriedade: ela compareceu a um jantar no hotel um dia antes de seu noivado ser anunciado, em 10 de julho de 1947. Um tempo depois, o príncipe Philip celebrou sua despedida de solteiro nas dependências do The Dorchester.

 

Suíte Prestige

 

Outra personalidade icônica que tem uma forte ligação com o hotel é o famoso agente 007 – sim, o personagem James Bond. Nos anos 1940, seu criador, Ian Fleming, na época funcionário da Inteligência da Marinha Britânica, era uma presença frequente no hotel, onde jogava bridge com os amigos. Anos depois, a Bond Street, uma rua da vizinhança, inspirou o nome do personagem.

 

Em homenagem a essa conexão, a propriedade criou o clássico Vesper Bar, no andar térreo, que leva esse nome em referência a Fleming, visto que o escritor foi o responsável pela invenção do drinque Vesper Martini, favorito de James Bond. Em 2023, o espaço foi reformado e ganhou móveis de veludo verde e azul e um terraço com vista para o Hyde Park. Glamouroso, mas sem perder a essência que remete ao universo de 007.

 

O Vesper Bar

 

Com uma história extensa e intrigante, o local pode ser apreciado como um verdadeiro passeio histórico, mas vale ressaltar que não vive apenas de memórias. O cuidado com os detalhes, a hospitalidade e o conforto das acomodações, além da localização privilegiada, são alguns dos pilares que mantêm a relevância do The Dorchester ao longo de tantas décadas. Uma propriedade pulsante, pronta para novas histórias, por muitos e muitos anos.

 

Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 137 da Versatille

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