Das páginas às vitrines: a trajetória de Marina Larroudé
Após construir uma longa e bem-sucedida carreira no mercado editorial, Marina se estabelece como empresária de sucesso na indústria da moda
Visionária, criativa e destemida são bons adjetivos para apresentar Marina Larroudé, cofundadora da marca de moda feminina que leva seu sobrenome. Apesar de nova, a label fundada no fim de 2020 já se destaca no mercado pelos produtos com identidade ousada e inovadora, que refletem fielmente a personalidade de sua CCO – Chief Commercial Officer. Engana-se, no entanto, quem pensa que sua experiência é derivada de croquis e desfiles. Na verdade, a empresária trilhou um longo e bem-sucedido caminho nos meios editorial e de varejo, que foi desviado no momento certo, para que a Larroudé pudesse ganhar vida.
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Quando cursava comunicação na Faap, Marina conseguiu um estágio em produção de moda na Vogue Brasil, onde começou sua trajetória nesse mundo. Lá, ela permaneceu durante dois anos até finalizar a faculdade e mudar-se para Nova York, com seu marido, em 2004. Após fazer cursos focados em marketing de moda no FIT – Fashion Institute of Technology – e na Parsons School of Design, ela recomeçou sua carreira na cidade e foi, aos poucos, ascendendo. “Aqui eu comecei a fazer tudo de novo, porque não conhecia ninguém. O estágio me levou a uma vaga de assistente e nela eu fiquei bastante tempo até subir de cargo”, conta Marina. Ela trabalhou na Condé Nast por mais de 12 anos, onde desempenhou direntes cargos na Vogue americana e Teen Vogue, empresa que deixou para se tornar diretora de moda da loja de departamentos Barneys, posição que assumiu antes de criar seu business atual.
Na Larroudé, é possível encontrar bolsas, roupas e sapatos, que são o grande destaque da marca. Cores e estampas nada convencionais adornam os produtos, que deixam qualquer look mais interessante. Com entrega para o mundo todo, eles podem ser adquiridos no site da marca ou em e-commerces parceiros. No Brasil, os itens serão vendidos com exclusividade no Iguatemi 360, a partir do meio de agosto. Já em pontos físicos, as peças estão disponíveis nas lojas americanas Intermix e Nordstrom e em algumas butiques especiais.
Desde que surgiu, a Larroudé chama a atenção pela unicidade de suas criações, o que é atestado pelas colaborações. Em março, a marca lançou com a Barbie a primeira coleção na história feita para seres humanos, o que incluiu uma bolsa e um sapato usados pela boneca icônica. Já a última parceria firmada foi com a Melissa, label presente nas memórias de infância de Marina, quando fazia compras com sua avó, vestindo os sapatos cheirosos.
Para a cofundadora, o diferencial da Larroudé está justamente na ousadia e no conteúdo por trás das peças: “Eu acho que somos bem corajosos no sentido de fazer um produto que tenha identidade. A gente sentia falta de uma marca que conversasse com alguém, que contasse histórias das pessoas. Nós entrevistamos todas as modelos que fotografamos, queremos saber a história delas. Todas têm um porquê. Fazemos questão de estar sempre conversando, de não ser uma empresa que está só impondo. A ideia é ser uma marca mais informativa, de informação de moda, e trazer o mundo ao redor da Larroudé”, explica Marina. Ao que parece, seu olhar editorial até pode ter se transformado, mas nunca foi embora.
Em entrevista à Versatille, a empresária compartilha detalhes sobre sua trajetória profissional e sua marca. Confira a seguir.
Versatille: Quando decidiu migrar e como foi o processo de mudança do mercado editorial para fundar o próprio negócio?
Marina Larroudé: Parte do meu trabalho antigamente era ver designers e trabalhar em conjunto com eles para lançar suas coleções. Quando eu estava na Barneys, uma das experiências que me deram o know-how foi observar como o mercado americano funcionava, o que performava e o que não dava resultado. Eu sempre tive o desejo de ter o próprio negócio, mas também fui muito sortuda porque consegui os empregos dos sonhos. Então, era difícil deixar um trabalho que era garantido para empreender. No começo da pandemia, eu perdi meu emprego. Me vi desempregada, em casa, fechada… e eu, que sempre tive um network gigantesco, porque conhecia todo mundo da imprensa, colunistas etc., não conseguia aproveitá-lo muito naquele contexto. Então, enxerguei a situação como o momento para fundar a Larroudé, juntar tudo o que eu podia e correr atrás do meu sonho, ou ir atrás de um plano B ou C. E foi isso que a gente fez. De um sapato, virou uma coleção que mostramos a alguns hosts sailors e amigos para ter um feedback, e o negócio foi indo.
V: Você sempre soube o tipo de produto que gostaria de vender?
ML: Quando eu comecei, tinha um amigo que era dono de uma marca de jeans em Los Angeles e a gente fez uma colaboração. A Larroudé sempre foi pensada para ser – e ainda é – uma lifestyle brand, ou seja, mais do que só um sapato. A gente queria incluir outras categorias. Trabalhamos com jeans em primeiro lugar, depois o sapato, e foi algo orgânico porque um amigo meu, designer, se tornou nosso sócio. Então, começamos a desenhar uma coleção, também fizemos uma bolsa, e foi andando.
V: Qual é o propósito da Larroudé?
ML: O propósito é trazer um produto de altíssima qualidade com um preço mais acessível do que qualquer marca de luxo e levar alta moda para o consumidor. Eu sentia que principalmente na indústria de sapato – falando do mercado americano, que eu conheço bem – esse espaço estava meio que aberto. Tinha apenas marcas ultracaras ou mais baratas, sem a nossa qualidade. Queríamos muito um sapato com a qualidade do Manolo (Blahnik), por exemplo, mas que fosse mais acessível para o consumidor de uma maneira geral e para a mulher. A gente não queria fazer uma fast fashion de jeito nenhum, mas sim uma marca da qual as pessoas pudessem comprar um produto e com o qual fossem muito felizes durante um tempo maior.
V: Como funciona o processo de criação dos produtos?
ML: A gente cria se baseando no que está acontecendo na cena cultural. Eu acho que, na parte de sapato, todo mundo faz a mesma coisa. Se a moda é usar tênis, de repente todo mundo tem um tipo de tênis. Se é plataforma, todos usam e produzem o mesmo estilo. A gente queria um produto que tivesse identidade, que fosse chique, clássico e tivesse modelos simples, mas com uma identidade, estampa e algo mais provocativo, que introduzisse o início de uma conversa.
V: Todos os sapatos apresentam um QR Code na parte de baixo. Como surgiu essa ideia e com qual objetivo?
ML: Cada sapato tem um QR Code que é único. Depois de escaneá-lo, você registra o produto no seu nome. Quando, por exemplo, alguém pergunta onde o modelo foi comprado, é possível enviar seu link daquele sapato que já está cadastrado. Se a pessoa comprar, ela ganha 20 dólares de desconto e você ganha 20 dólares de crédito na conta. O Ricardo, meu marido, é superbrilhante. Ele está sempre pensando em coisas diferentes. Na época da pandemia, quando os menus passaram a ser acessados por meio de QR Code, a gente estava em um restaurante e a minha filha, que tinha 12 anos, falou: “Por que vocês não colocam isso no sapato?”. O Ricardo ficou pensando em como ele faria isso, e veio com essa ideia.
V: Apesar de ser nova, houve mudanças no conceito ou estrutura da marca até hoje, tendo em vista o contexto pós-pandêmico?
ML: O que tem de diferente é que, hoje em dia, a marca segue um rumo de acordo com o interesse do consumidor: o que cada um gosta, o que cada um quer, e isso toma uma vida própria. A gente começou a fazer sapatos com flores, mas, se o mercado não tivesse respondido de uma forma legal, teríamos ido para outro caminho. O que as pessoas querem da gente é esse senso de inovação, daquilo que é diferente e único. Elas não querem mais do mesmo e sim algo que só a gente vai ter.
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V: O que você diria que aprendeu nesses últimos anos depois de ter aberto seu negócio?
ML: No sentido prático da palavra, eu aprendi sobre logística, finanças, marketing digital, como desenhar um site, porque fizemos tudo “dentro de casa”. Eu mesma faço as vendas para os host sailors nos nossos atacados. O meu forte era moda, editorial, criação de produto, toda a parte criativa, e eu não tinha tido muita experiência com toda a parte de business; por isso, se eu puder dar um conselho para alguém bem mais novo do que eu, recomendo aprender um pouco de tudo, o tempo inteiro, e não ficar só em uma área. Quando abrimos a Larroudé, estávamos em três pessoas, então aprendi na marra. Eu achei que todas as experiências foram excelentes, mas realmente trabalhamos 16 horas por dia, todos os dias, de segunda a segunda.
Por Laís Campos Matéria publicada na edição 126 da Versatille