“Costumamos dizer que o baiano não nasce, ele estreia. Acho que sou assim”, diz Aletania Meinberg

A empresária e influenciadora detalha sua empreitada no universo da moda circular e compartilha sua relação com as cidades de sua vida: São Paulo e Salvador

Nascida em Ipirá, município baiano a cerca de 200 quilômetros de Salvador, Aletania Meinberg sempre se manteve próxima da moda. Era o tipo de jovem que folheava revistas, selecionava seus looks preferidos e depois desenhava peças que poderiam ser reproduzidas em casa com uma máquina de costura. Hoje, como influenciadora e empresária do segmento, ela estampa o editorial e a capa da nova edição da Versatille – com certeza, a Aletania do passado, que admirava matérias de moda, estaria orgulhosa. 

 

Numa conversa sobre a sua trajetória e seus projetos, a empresária discorreu sobre o AcervoA, business focado no aluguel de peças de luxo, que acaba de inaugurar um espaço físico. Cada vez mais ativa na pauta de moda circular, para ela, é importante ter essa consciência quando se trabalha em um setor com muito volume de produção e consumo, com descartes que impactam diretamente no bem-estar do planeta.  

 

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Com uma visão clara sobre o seu papel no ecossistema da moda, que agora vai além da produção de conteúdo digital, ela compartilhou também a sua relação afetuosa com as cidades de São Paulo e Salvador. Confira o bate-papo completo.  

 

Vestido Area do Acervo A

 

Versatille: Quando você começou a se relacionar com a moda? 

Aletania Meinberg: Minha mãe sempre costurou, bordou e pintou. De tanto vê-la colocando a mão à massa, eu me inspirei. As roupas que estavam em alta demoravam para chegar na minha cidade, então eu via nas revistas e desenhava modelos parecidos para tentar fazer em casa. Na hora de escolher uma carreira, acabei cursando nutrição, porque me diziam que era um caminho mais seguro. Não adiantou. Meu coração sempre esteve na moda, e eu acabei não exercendo a minha formação. Quando os blogs surgiram, comecei a me entregar ao que realmente amava. Inicialmente não dava lucro, mas eu sabia que um dia ia dar certo. Funcionou [risos]. Hoje, já fiz cursos sobre o assunto no Brasil e no exterior. Consegui me estabelecer na área.   

 

V: Atualmente, qual o papel da moda na sua vida?  

AM: Para mim, a moda é uma forma de expressão muito forte e bonita. Ela diz muito sobre quem você é e reflete o estado de espírito de cada dia. A maneira como estou me sentindo impacta no estilo de roupa que vou escolher. Então é isso. Ela nos ajuda na comunicação com o mundo.  

 

Vestido The Attico do Acervo A

 

V: E quanto à veia empreendedora? Ela sempre esteve presente?  

AM: Sempre tive uma veia comercial e uma inquietação que não me deixava ficar parada. Consegui enxergar potencial no blog na época em que era terra de ninguém, então acredito que isso tem uma relação com o meu lado empreendedor. Na juventude, costumava vender coisas. A família de uma amiga tinha uma fábrica de roupas, e eu conseguia algumas peças para vender na escola. Fazia isso com bijuterias também.  

 

V: E como você pensou e desenvolveu a ideia do AcervoA? 

AM: Durante a pandemia, eu entrava no meu closet e ficava incomodada com a quantidade de roupas e de acessórios. Era o meu sonho, mas começou a gerar desconforto. Foi aí que comecei a me aprofundar na temática da moda circular. Fiz grupos com amigas para que a gente vendesse roupas que não estávamos usando. Vi que isso gerava muito interesse e comecei a ter alguns insights sobre outros modelos de negócio, como o aluguel de roupas. Na era digital em que vivemos, costumamos postar fotos de peças que usamos em festas e eventos e depois evitamos repeti-las. No fim das contas, a roupa é usada apenas uma vez. Um gasto desnecessário. Por que não alugar e fazer com que ela seja reutilizada? Foi a partir desse questionamento que o AcervoA nasceu.  

 

Terno YSL e sandálias Aquazzura

 

V: Como você enxerga a moda circular? Qual é a importância, em seu ponto de vista? 

AM: Precisamos falar cada vez mais sobre a moda circular. Eu gosto de comprar, mas também sei como o consumo desenfreado impacta negativamente no meio ambiente. Nessa cultura das marcas fast-fashion, muitos compram sem ao menos ter um desejo real pela peça. Um comportamento incentivado por tendências, o que acaba resultando em várias roupas paradas dentro do armário. É tudo tão descartável. Não podemos fazer isso.  

 

Look do Acervo A: blazer Balmain, short YSL, luvas Mugler, meia Wolford e sapatos Prada

 

V: Quais são os planos para a expansão do AcervoA? 

AM: O objetivo é ter um negócio com peças selecionadas e que sejam, de alguma forma, exclusivas. O primeiro passo foi criar um espaço físico no Itaim, onde as clientes podem marcar um horário e provar as roupas. Fazemos essa logística de horários para darmos um atendimento exclusivo, com privacidade, atenção e assessoria de moda. Mesmo ganhando visibilidade, a intenção não é fazer uma divulgação massiva.  

 

V: Para você, o que é luxo? 

AM: Hoje, luxo é ser desapegado e ter consciência do próprio consumo. Por que você está comprando aquele produto? Você sabe reconhecer e entender os motivos por trás daquela compra?  

 

Vestido YSL do Acervo A

 

V: Falando um pouco sobre sua trajetória pessoal. Como foi a sua transição da Bahia para São Paulo? 

AM: Vim para São Paulo aos 19 anos. Tinha uma tia morando na cidade, que sempre me chamava, então aceitei o convite. Cheguei com a intenção de estudar e um dia voltar para a Bahia. Fui me acostumando, formando família, e acabei ficando. No início me sentia muito sozinha e com saudade dos meus pais, mas aos poucos aprendi a amar a cidade. Não saio mais daqui, embora a Bahia seja meu lugar preferido no mundo. Tenho apartamento em Salvador e estou sempre lá, mas minha rotina funciona muito bem em São Paulo.  

 

V: Há algo que você carrega da Bahia no seu dia a dia em São Paulo? 

AM: Eu carrego a alegria e a autenticidade. Às vezes, falo muito o que penso, e acredito que seja por conta da minha origem. Aqui em São Paulo, todo mundo pisa em ovos, e lá acredito que somos mais diretos. É sem maldade. Pura autenticidade. Eu tenho isso enraizado em mim. Não vou falar algo para agradar se for mentira. Além disso, o handmade do Nordeste também me inspira demais. O bordado, a peça feita à mão com carinho… o lado criativo que eu herdei muito da minha cultura.  

 

 

V: Como as duas cidades impactam na sua vida pessoal e profissional? 

AM: Costumamos dizer que o baiano não nasce, ele estreia. Acho que sou assim [risos]. Estou sempre querendo fazer coisas novas e ser vista. Creio que seja uma característica baiana do meu lado profissional. Já São Paulo me ensina todos os dias. Se você não aprende a ser gente grande aqui, não aprende em mais nenhum lugar do mundo. Esse lugar faz você lutar com um leão por dia. É difícil, mas nos motiva a sempre buscar crescimento e melhorias. Junta as características das duas cidades em uma pessoa e vira isso: esta baiana arretada.  

 

Corpete Mugler, brincos Emar Batalha

 

 

texto: beatriz calais 

fotos: renam christofoletti 

direção de arte: marcella fonseca 

direção de moda: dudu farias 

filmmaker: gustavo viola 

produtora executiva: deborah park 

beleza: pablo felix e nadja vasconcelos 

produtos: shiseido 

tratador de imagem: Everaldo guimarães

studio: cena village 

agradecimento: gastronomia mf

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