Conheça Hayao Miyazaki e o “mundo mágico” em sua filmografia
No ano em que se comemora o retorno da aposentadoria, apresentamos a história de Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli e um dos nomes mais importantes do cinema
Há certa magia por trás dos óculos arredondados de Hayao Miyazaki. Seu nome pode não soar familiar, mas suas criações marcaram – e seguem marcando – uma geração de crianças e jovens ao redor do mundo. São desenhos animados que vão muito além de ensinamentos infantojuvenis. A experiência de assistir a um de seus filmes é tocante e nostálgica, seja qual for sua cultura e vivência particular. Diretor, roteirista, animador, escritor e artista de mangá, Miyazaki cofundou o Studio Ghibli, um dos estúdios de animação mais importantes do Japão e do mundo.
Enquanto estúdios ocidentais como o Walt Disney Studios adotaram como protagonistas princesas e heróis, o cineasta apresentou em suas tramas a relação da humanidade com a natureza e a tecnologia, o valor do natural e a importância da arte em nosso cotidiano. A essência do Ghibli é levar a mensagem para crianças – e adultos – sobre como é bom estar vivo. As narrativas têm, em sua maioria, protagonistas femininas, “corajosas e autossuficientes, que não pensam duas vezes para lutar pelo que acreditam com todo o coração. Elas precisarão de um amigo ou de alguém que lhes dê apoio, mas nunca de um salvador”, como o próprio criador já as descreveu.
Hayao Miyazaki nasceu na região especial de Bunkyo, Tóquio, no dia 5 de janeiro de 1941. Ele foi o segundo de quatro filhos de Dola, uma intelectual que questionava as normas sociais, e Katsuji Miyazaki, diretor da fabricante de peças para aviões de combate Miyazaki Airplane. Seus primeiros anos de vida foram atribulados, dado o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939. Quando tinha 3 anos de idade, em 1944, sua família foi evacuada para Utsunomiya. No ano seguinte, mudaram-se para Kanuma, após um bombardeio na cidade em que se encontravam. A vivência profundamente ligada à guerra deixou marcas no pequeno Miyazaki.
Formado em ciência política e economia pela Universidade de Gakushuin, em Tóquio, ele ingressou na Toei Animation em 1963 e começou a produzir longas-metragens e séries para a televisão. No decorrer dos anos, passou por diversos estúdios desenvolvendo cenários e adaptações, mas conquistou sua marca na indústria de animação com seu primeiro filme autoral, intitulado Nausicaä do Vale do Vento, lançado em 1984. Recorde de bilheteria, o filme foi aclamado pelo trabalho impecável e a riqueza em detalhes da animação, toda feita a mão. No ano seguinte, fundou o Studio Ghibli com Yasuyoshi Tokuma e Toshio Suzuki.
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O diretor construiu seu império com opiniões fortes e muita dedicação para atingir a perfeição em suas obras, tanto no aspecto técnico quanto no conteúdo das histórias. Batendo recordes atrás de recordes, Miyazaki conquistou, em 2001, a tão sonhada estatueta de ouro do mundo ocidental com o longa A Viagem de Chihiro, prêmio que se recusou a buscar por se opor aos ataques estadunidenses contra o Iraque. Em 2005, recebeu um honorário Leão de Ouro no Festival de Veneza e, em 2014, o Oscar de Honra da Academia no Governors Awards, um ano após anunciar sua aposentadoria.
Miyazaki continuou a trabalhar em pequenos curtas para seu parque temático. Neste ano, anunciou seu retorno à ativa com o desenvolvimento de um novo longa-metragem, chamado Como Você Vive?. Em entrevista à revista Entertainment Weekly, Toshio Suzuki disse que o projeto também será todo desenhado a mão e contará com mais frames do que os filmes anteriores, tornando a animação mais fluida. O diretor acredita que a produção levará mais três anos para ficar pronta, já que os desenhistas produziram apenas 36 minutos de filme nos primeiros três anos de produção. Tudo tem de estar perfeito para o retorno do mestre.
Enquanto aguardamos o que os críticos acreditam ser uma nova obra-prima, veja nas páginas a seguir os filmes da carreira de Hayao Miyazaki.
Nausicaä do Vale do Vento (1984)
Considerado um dos principais trabalhos de Miyazaki, que o consagrou como animador, o longa faturou mais de 2 bilhões de ienes no ano de lançamento e foi muito elogiado por representar o feminino como uma figura forte e independente.
O Castelo no Céu (1986)
A arquitetura da Grécia Antiga e a dedicação dos moradores de uma cidade mineradora galesa – a qual Miyazaki visitou antes de começar a desenhar – serviram de inspiração para o que viria a ser o filme animado de maior arrecadação do Japão no ano.
Meu Amigo Totoro (1988)
Aclamado pela crítica por representar de forma leve a interação da humanidade com a natureza, o filme não vendeu tanto quanto os anteriores, mas seu personagem principal dá vida ao logo do estúdio e se tornou um ícone de seus produtos.
Serviços de Entrega da Kiki (1989)
Adaptado do romance de fantasia de Eiko Kadono, o longa captou 2,15 bilhões de ienes na bilheteria e foi o filme de maior arrecadação do ano no país.
Porco Rosso (1992)
Inspirado na Guerra Civil da Iugoslávia e patrocinado pela Japan Airlines, o longa com teor mais adulto e antiguerra foi aclamado pela crítica e permaneceu por anos como o filme animado de maior bilheteria do Japão.
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Princesa Mononoke (1997)
Filme mais caro produzido pelo Studio Ghibli, foi o primeiro a utilizar animação computadorizada para desenhar algumas cenas. Além de arrecadar 14 bilhões de ienes, foi o primeiro a vencer o Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano.
A Viagem de Chihiro (2001)
A história que explora a ganância humana e o mundo espiritual é considerada um dos melhores filmes da década de 2000. Além de vencer o Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano, o longa conquistou o Oscar de Melhor Filme de Animação – o qual Miyazaki não foi buscar. Arrecadou 30,4 bilhões de ienes e permaneceu como o filme de maior bilheteria no Japão até 2020.
O Castelo Animado (2004)
Produzido digitalmente, mas todo desenhado a mão, o filme venceu o Prêmio Osella de Excelência Técnica no Festival Internacional de Cinema de Veneza e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação. A bilheteria mundial foi de 19,3 bilhões de ienes.
Ponyo: Uma Amizade Que Veio do Mar (2008)
Com 170 mil quadros e todas as cenas do mar desenhadas a mão por Miyazaki, Ponyo venceu o prêmio de Animação do Ano nos Prêmios da Academia do Japão e arrecadou 15,5 bilhões de ienes.
Vidas ao Vento (2013)
Inspirado em um romance homônimo de Tatsuo Hori, a história reflete a alma pacífica de Hayao Miyazaki. Seu último longa-metragem antes da aposentadoria também venceu o Prêmio da Academia do Japão e recebeu indicação ao Oscar de Melhor Filme de Animação. Sucesso de bilheteria japonesa, foi o filme com maior arrecadação do ano.
Por Marcella Fonseca e Mattheus Goto | Matéria publicada na edição 119 da Versatille