Conheça duas empresas nacionais que trabalham com diamantes de laboratório
A ascensão de marcas como a Gaem e The Diamond reflete uma mudança do mindset dos consumidores e das joalherias
Entre as pedras preciosas, os diamantes se destacam, por seu brilho e beleza inconfundíveis. Estima-se que os primeiros se formaram há bilhões de anos no interior da Terra e chegaram à superfície por meio de erupções vulcânicas. Compostas exclusivamente de carbono, essas pedras ocupam o posto de mais resistentes do planeta, uma vez que suportam uma pressão de até 97 megapascals (cerca de 9 mil vezes a pressão atmosférica) antes de se romper e só podem ser riscadas por outro diamante. Não à toa, seu nome vem do grego adamas, cujo significado é “invencível”.
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Segundo o Museu do Diamante, localizado na Holanda, após serem encontradas pela primeira vez na Índia e negociadas, foi em 327 a.C., na Macedônia (Grécia antiga), que as pedras começaram a suscitar o desejo das elites pelo mundo. Antes de se tornar um objeto deslumbrante, o diamante passa por um processo extremamente trabalhoso e que gera diversos impactos ambientais e sociais. Sua jornada começa nas camadas mais profundas das rochas, de modo a ser expelido pela natureza ou escavado pelo homem. Depois, é submetido a inúmeros procedimentos meticulosos e mais suaves, como corte e polimento. Após todos os toques finais, a pedra, antes áspera e irregular, torna-se uma gema delicada raríssima.
Embora sua história seja marcada por esse árduo processo, a evolução tecnológica permitiu que o diamante pudesse ser adquirido sem qualquer tipo de impacto, ao ser formado em laboratórios. “Tudo no mundo tem carbono. A partir desse elemento, é possível reproduzir exatamente sua composição química natural por meio da ciência”, diz Mylena Cooper, diretora da The Diamond, empresa que produz diamantes de laboratório em Curitiba.
Para Julia Blini, cofundadora da joalheria Gaem, a maior vantagem de produzir o diamante desse modo é seu processo completamente sustentável. “Não existem conflitos éticos nem humanitários e você sabe exatamente de onde vem a pedra. Do laboratório, é diretamente entregue para nós, e depois, prontamente ao cliente. Não há riscos de ter vindo de uma mina ilegal ou zona de conflito, onde o dinheiro é usado para financiar qualquer tipo de violência.”
A preocupação com a sustentabilidade aumentou a busca por esse tipo de pedra, que tem ganho mais espaço no universo da joalheria. A Pandora, por exemplo, anunciou em maio deste ano que não usará mais diamantes naturais em suas coleções. Antes, segundo Mylena, poucas pessoas enxergavam a vantagem ambiental proporcionada pelos diamantes de laboratório, o que tem mudado drasticamente: “Quando trouxemos esse modelo em 2003, apenas 1% das pessoas adquiriam o produto por ele não prejudicar a natureza. Hoje em dia, mais de 60% dos clientes nos procuram porque já são consumidores de diamantes, mas buscam uma alternativa mais sustentável”, afirma.
De fato, os lab grown diamonds chegaram para ficar, e o meio ambiente agradece. Veja, a seguir, duas empresas brasileiras referências no segmento de diamantes feitos em laboratório e como elas evidenciam que seu valor vai além do comercial.
Gaem
Lançada em agosto deste ano pelas sócias Julia Blini e Luna Nigro, a Gaem é a primeira marca brasileira criada para oferecer joias feitas exclusivamente de diamantes de laboratório. O impulso para fundá-la surgiu da vontade das empresárias de atuar no universo da joalheria, mas com um modelo de negócio que se diferenciasse por seu propósito. “Tem a ver com a maneira como vemos o mundo, nosso cuidado e com tudo o que está acontecendo na sociedade agora”, diz Luna.
Naturalmente, os diamantes se formam a partir do carbono que fica embaixo da terra, combinado à pressão e ao calor. No laboratório internacional, do qual a marca importa as pedras na cor branca, o processo é reproduzido do mesmo modo. “É colocada uma sementinha de carbono no reator e a máquina produz o calor e a pressão. Depois, passa-se um período de seis a oito semanas para formar o diamante bruto”, explica Luna. Segundo a empresária, um gemologista não consegue ver a diferença entre a pedra natural e aquela feita no laboratório. “Não há qualquer diferença química, física nem ótica. É idêntico’’, diz Júlia.
A sustentabilidade não se limita ao processo de formação dos diamantes. Na Gaem, as embalagens são feitas 100% de papel e algodão orgânicos e reciclados. “A gente prioriza o cuidado em todas as etapas”, afirma Luna. Além disso, a cada 500 reais em vendas, a empresa se propõe a plantar uma árvore com a instituição One Tree Planted. Por serem feitos em laboratórios, os diamantes facilitam ainda a personalização, garantida pela opção de joias sob medida que a marca oferece.
The Diamond
O laboratório de diamantes da The Diamond se diferencia pela matéria-prima que dá origem às pedras preciosas. Fios de cabelos, cinzas e pelos de pets são as fontes de carbono utilizadas para criar um amuleto único. “A partir do momento que a pessoa começa a consumir esse tipo de diamante, ela já não vê mais significado nos outros”, afirma Mylena Cooper, diretora da empresa.
Os principais motivos para a procura dos clientes são homenagens e celebrações, a fim de eternizar momentos, pessoas e até companheiros de quatro patas. Noivados, aniversários, formaturas, primeiro corte de cabelo de um filho e o falecimento de entes queridos e animais de estimação são algumas das ocasiões que levam ao desejo de ter uma joia afetiva. “Esse diamante tem um valor inestimável para o cliente ou para a família. Apesar de não ser adquirido para a venda, ele não deixa de ter seu valor comercial, porque possui a propriedade da pedra natural, mas também tem um valor sentimental que é passado de geração a geração”, constata Milena.
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Com apenas 300 gramas de cinzas e uma quantidade de cabelo proporcional a uma colher de chá, já é possível produzir desde o diamante de 0.1 até o de 2 pontos (unidade de medida referente ao tamanho), que equivalem, respectivamente, a 0,001 e 0,02 quilate. Também é possível misturar os elementos para criar a pedra. Quanto mais tempo o material ficar na máquina sob alta pressão e temperatura, maior será o diamante. A The Diamond o produz nas cores amarela, incolor e azul, que é a mais cara. O prazo de produção é de apenas três meses, e a pedra é entregue junto a um certificado de autenticidade e especificação química.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 122 da Versatille