O isolamento gerou uma maior atenção à forma como nos cuidamos. Não apenas nos aspectos individuais, como a aparência física, mas também nos hábitos prejudiciais à saúde e ao planeta. “Ficar em casa todo esse tempo nos fez parar para notar a quantidade de lixo que produzimos, o desperdício e até quanto não olhávamos para a gente”, explica Ana Lia, gerente de educação global da marca de beleza Biossance.

 

Para a cofundadora da Care Natural Beauty, Patrícia Camargo, os consumidores passaram a se atentar não só ao autocuidado, mas também ao fato de que a beleza está muito atrelada à saúde. “Cada vez mais eles estão olhando para onde compram, qual é a cadeia de produção por trás e quanto as empresas estão sendo éticas e transparentes”, afirma.

 

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Já Patrícia Lima, fundadora da Simple Organic, relata que a composição dos cosméticos também ganhou uma relevância indiscutível: “As pessoas estão se preocupando mais com os ingredientes dos produtos que colocam em contato com a pele. Dessa forma, a maquiagem natural e orgânica tem ascendido cada vez mais no mercado. A conscientização e aceitação são crescentes”.

 

Em meio ao cenário atual, as premissas de beleza limpa e natural ganham evidência. A primeira se baseia em cosméticos não necessariamente feitos de ingredientes naturais, mas que excluem qualquer ativo prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Já a segunda foca em componentes apenas naturais. Confira quatro empresas que se destacam quando o assunto é responsabilidade ambiental e o cuidado com a saúde.

 

Care Natural Beauty

 

Em 2018, as empresárias Patrícia Camargo e Luciana Navarro fundaram o e-commerce Care Natural Beauty. “A Care nasceu com três pilares muito importantes: a alta performance, sustentabilidade e impacto social. Isso faz parte do nosso DNA desde o primeiro dia, e a nossa missão é transformar vidas por meio do consumo consciente e da beleza limpa”, diz Luciana.

 

 

Segundo Patrícia, os valores sustentáveis permeiam a empresa por completo, desde a cadeia de produção e o fornecimento de matéria-prima, que é garantido por meio de rastreamento e certificação de que não há qualquer tipo de impacto ambiental, geração de toxina nem lixo excessivo. As embalagens, por sua vez, são feitas de papel, vidro e alumínio, que constituem materiais recicláveis. Já os produtos são todos multifuncionais para evitar o consumo desenfreado e prolongar a vida útil dos que  já foram desenvolvidos.

 

Um destaque da marca é sua linha de skincare colorido, ou seja, maquiagens que também têm a função de tratamento. Um exemplo são os batons que contêm em sua fórmula ativos naturais, como óleo de açaí orgânico, cera de carnaúba, cera de candelila e amido de tapioca. Luciana explica que os cosméticos passam pelo laboratório, a fim de garantir que eles são completamente puros, sem qualquer grau nocivo. Aliás, não há perigo algum se forem ingeridos acidentalmente. “A gente tem a premissa de que, se você não pode comer, não deveria passar na pele”, diz.

 

 

Para o futuro, as empresárias desejam inaugurar lojas físicas e expandir uma experiência de marca omnichannel – estratégia de conteúdo entre canais, com foco em conquistar ainda mais consumidores atualmente distantes do universo sustentável. “Nós somos obcecadas em trazer para a Care pessoas que não sabem absolutamente nada sobre beleza limpa, pois queremos realmente ser essa porta de entrada”, conclui Patrícia.

 

Guerlain

 

A Guerlain é globalmente reconhecida por sua trajetória sustentável, mas a linha Abeille Royale, em específico, se destaca: “Desde sua criação, em 2010, ela evoluiu com base em quatro pilares principais: inovação científica, estudo sobre o poder do mel, a expertise em pele jovem e a conservação das abelhas”, explica Cécile Lochard, diretora de sustentabilidade.

 

 

Segundo a executiva, cada produto criado pelas abelhas, seja mel, geleia real ou o própolis, é uma alquimia única e complexa que o homem não pode replicar. A Abeille Royale contém produtos apícolas (mel e geleia real), que são os ingredientes-chave das fórmulas antienvelhecimento. O mel Ouessant, por exemplo, produzido por uma abelha negra endêmica, pode amplificar o fenômeno natural de autorreparação da pele.

 

Felizmente, todo o potencial do ingrediente natural é explorado de forma responsável. “A Guerlain fornece suporte de longo prazo – geralmente um período de dez anos – para nossos canais de produção sustentáveis. Isso ocorre na forma de assistência financeira, suporte técnico, científico, de habilidades e até mesmo no compartilhamento de experiência entre nossas equipes de voluntários.”

 

 

Além da linha icônica, a multinacional francesa lançou em 2021 três inovações de maquiagem, duas com 96% e uma com 95% de ingredientes naturais. “Um dos nossos principais objetivos é reforçar a posição da Guerlain na liderança no mercado de beleza natural e limpa, a fim de se tornar a casa de luxo referência em termos de naturalidade. A meta é que, sempre que possível, cada nova fórmula atenda a um mínimo de 90% de ingredientes de origem natural”, conclui.

 

Simple Organic

 

No mercado nacional, uma marca que se destaca no cenário da beleza natural é a Simple Organic, que apresenta e-commerce e lojas físicas pelo país. Vegana, orgânica e sem crueldade animal, a empresa foi lançada por Patrícia Lima em 2017, após uma experiência de maternidade transformadora. “Foi quando percebi que não queria mais fazer parte de um mundo que não era consciente e não preservava o planeta que vai receber a geração da minha filha e as próximas”, diz.

 

 

Os cosméticos da Simple Organic não contêm produtos geneticamente modificados nem sintéticos, como parabenos, petrolatos, parafina, silicone, sulfatos, formaldeídos, aromas e conservantes. “Esses diferenciais asseguram ao consumidor um produto de qualidade certificada, que não agride a pele e mucosas ou pode causar alergias e irritações”, explica Patrícia.

 

Entre as diversas estratégias sustentáveis, a marca adota o selo “Eu Reciclo”  – de compensação ambiental –, com o compromisso de minimizar a produção de lixo e garantir 100% da reciclagem do volume gerado na venda dos produtos, que inclui os materiais das embalagens. Além disso, investe em uma dinâmica de logística reversa, na qual os consumidores podem devolver embalagens nas lojas físicas e quiosques e, como compensação, recebem 10% de desconto para a aquisição de um novo produto.

 

 

A Simple Organic defende firmemente seus valores em todos os processos: “Desde a extração da matéria orgânica, onde incentivamos o pequeno agricultor com extrativismo sustentável, até o posicionamento político. Nós levantamos muitas bandeiras, como igualdade de gênero e diversidade de corpos”. A marca, inclusive, foi a primeira no ramo da beleza nacional a fazer uma campanha com Maju de Araújo, modelo com síndrome de Down.

 

Biossance

 

A origem da Biossance está totalmente ligada à saúde e responsabilidade ambiental. A marca foi fundada em 2016 pelo grupo Amyris, criado em 2003 por três cientistas americanos que desenvolveram uma alternativa acessível e sustentável para a vacina contra a malária. Ela foi a primeira empresa do segmento de beleza do conglomerado, e inicialmente operava apenas no formato de e-commerce. Hoje, no Brasil, os produtos também são vendidos no site da Amaro, bem como nas lojas físicas da Sephora e Drogaria Iguatemi.

 

 

A marca desenvolve produtos de cuidados com a pele com base no óleo de esqualano, produzido de forma sustentável a partir da cana-de-açúcar brasileira. Originalmente, a matéria-prima é encontrada no fígado de tubarões, e, para extraí-la, a espécie era ameaçada. “O esqualano foi considerado o hidratante mais potente da biologia, então a pele o reconhece biologicamente. Além disso, ele é produzido em nosso corpo até os 20 anos. A Biossance utiliza o óleo em todos os produtos porque, se o corpo consegue reconhecê-lo, pode absorver todos os outros ingredientes misturados junto a ele. Funciona como um carreador”, diz Ana Lia.

 

 

Segundo a executiva, o modelo de produção bane mais de 2 mil ingredientes tóxicos, e a companhia é a única no Brasil com selo de verificação do EWG – Environmental Working Group –, que certifica marcas não prejudiciais à saúde nem ao planeta. A preocupação ambiental não se limita só aos materiais. Em outubro do ano passado, foi lançada a plataforma The Clean Academy no Brasil, que fornece conteúdo educativo sobre beleza limpa.

 

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“Nós entendemos que informação é libertadora para o consumidor. Quanto mais você tem, mais escolhas conscientes faz. A mudança acontece um passo por vez. Quando compartilhamos informação, não surgem pessoas que copiam, mas sim que caminham no mesmo movimento.” 

 

Por Laís Campos