Conheça 4 designers brasileiros que exploram a cerâmica de forma inovadora
Jovens designers encontraram na cerâmica um caminho para desenvolver seus traços e criar produtos autênticos
Utilitários cheios de personalidade ou obras de arte. Esses quatro designers, de diferentes estilos e técnicas, desenvolvem peças a partir de suas vivências, traçando um novo olhar acerca da milenar prática da cerâmica.
A paulista Maria Eugênia Antunes aplica paleta de cores divertida em diferentes objetos – um culto ao maximalismo e aos kitsch. Por outro lado, de pegada minimalista, o carioca Augusto Ribeiro, da Breve, molda acessórios de terracota, de casa e mesa, além de esculturas.
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A gaúcha Claudia Issa, da Konsepta, desenha vasos que escorrem sobre as superfícies, e a capixaba Heloisa Galvão reproduz, na porcelana líquida, pratos, tigelas e copos que, de tamanha leveza, parecem flutuar.
Confira mais detalhes sobre esses ceramistas.
Marô Antunes (@maroantunes)
Uma explosão de cores, animais, flores, bolinhas douradas e outros apetrechos se projeta para fora de vasos, canecas, tigelas e demais acessórios nas mãos da designer paulista Maria Eugênia Antunes.
Nome à frente da marca Marô Antunes, a jovem encontrou na cerâmica um meio de expressar seu apreço pelos animais e por uma estética psicodélica, kitsch, maximalista.
“Uma das linhas de que eu mais gosto e têm muito a ver comigo é a Pantanal. Sou muito ligada a animais, é uma das maiores paixões da vida”, disse.
Há ainda uma linha de potinhos envoltos em bolotas de diferentes tamanhos. Ela conta que se inspirou no Edifício Atomium, em Bruxelas.
A incursão de Marô pelo mundo da cerâmica começou em 2017, após ter feito aulas de pintura em porcelana em Araçatuba, sua cidade natal. “Eu me encontrei, fiquei apaixonada”, relembrou.
Depois, ela se mudou para Londres, onde buscou cursos especializados, e, de volta ao Brasil, em 2019, abriu seu ateliê no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo.
Hoje, acumula parcerias com as marcas de moda PatBo e Maria Filó, além da doceria Canelle&Co. Em breve, lançará uma coleção de luminárias com base de cerâmica.
“Quase todas as peças são feitas no torno, e o resto é manual”, contou. “Os bichinhos, fui eu que modelei, um a um. Sempre gostei de fazer meus moldes e esculturas.”
Breve Cerâmica (@breveceramica)
“Eu queria trazer esse material, a terracota, bem vermelha, mais rústica, para um tipo de produto sofisticado, com olhar contemporâneo”, disse o designer Augusto Ribeiro.
O jovem carioca é o nome por trás da marca Breve Cerâmica, aberta em 2019, que conta com um ateliê em Pinheiros, bairro na capital paulista. Ribeiro, que é formado em design industrial, começou a modelar a cerâmica em 2014, enquanto buscava um hobby e matéria-prima para um estilo autoral.
Atualmente, sua marca possui uma linha de utilitários como manteigueira, copos, moringa, xícaras e espremedor, além de esculturas.
O que as peças têm em comum, em sua maioria, é a cor pura da matéria, alaranjada – uma referência a terra batida, tijolo cru, artesanato popular, entre outros elementos que circulavam no imaginário de Ribeiro.
Muitas delas também têm um traço preciso e design minimalista, conquistados por meio da união da argila líquida com moldes impressos em 3D. “Eu peguei isso da indústria e pus no ambiente artesanal”, afirmou.
“Eu não consigo me prender a uma mesma técnica sempre, apesar de ter ficado conhecido por ela, e, até hoje, continuar produzindo e vendendo muito dessa coleção. Mas eu gosto de fazer esculturas manuais, explorar todas as técnicas possíveis. Gosto de variar.”
Konsepta (@konsepta_design)
Com passagens pela SP-Arte e semanas de design em Milão e Veneza, a Konsepta foi fundada em 2016, a partir de um desejo da gaúcha Claudia Issa por peças diferentes para decorar sua casa, algo que ela não encontrava no mercado de decoração. “Fiquei com vontade de desenvolver objetos”, disse.
Formada em artes plásticas e com experiência em design gráfico, Claudia resolveu ingressar em um curso livre de cerâmica na Faap. “Mexer com argila foi muito bom. Rapidamente entendi a técnica e me conectei. Depois de uma semana, comprei forno, torno, tudo o que você pode imaginar”, contou. “Eu falei: Agora eu vou me sentar aqui, na minha casa, e imergir nesse universo, me desenvolver’.”
Entre suas criações aparece a linha Disforma, na qual seus vasos, apesar de rígidos, parecem se esparramar em contato com a superfície. “Eu desenvolvi uma técnica no torno, misturando com a manual, de fazer aquela forma em que o vaso está caindo ou se desmanchando.”
Agora, ela planeja abrir um novo ateliê em Pinheiros, em São Paulo, que deve ser inaugurado no próximo ano, com espaço de exposição. “O que eu venho fazendo na Konsepta é a soma de tudo o que aprendi com moda, comunicação, como diretora de arte. Isso faz parte de mim. Não é uma coisa que você pensa, ela já está lá e sai naturalmente”, confessou.
Heloisa Galvão (@estudioheloisagalvao)
O primeiro encontro da designer capixaba Heloisa Galvão com a cerâmica foi em 1999, enquanto ela estudava artes plásticas na Universidade Federal do Espírito Santo. Na época, ela buscava uma forma de levar a fotografia para fora do papel, para criar objetos fotográficos. “Comecei a trabalhar com papéis e tecidos, mas eu queria um corpo mais tridimensional”, relembrou.
Ela se apaixonou pelo trabalho manual e pela terra. Abriu seu ateliê na cidade de Vila Velha e, depois de sete anos, mudou-se para São Paulo. Enveredou pela porcelana, como parte de seu mestrado. “Em 2010, eu fui para Boston para estudar cerâmica em Harvard”, disse. “Quando voltei, decidi focar a porcelana no meu estúdio em São Paulo.”
É em seu ateliê em Pinheiros que é possível encontrar algumas peças, para pronta-entrega, separadas em diferentes séries. Em 2012, desenvolveu a série Líquida, toda de porcelana, com pratos, copos e vasos inspirados em fluidez e leveza. Depois, veio a série Sólidos, com peças que lembram pedras, mas de enorme delicadeza.
“É composta de vaso, objetos e bowl, e faz esse contraponto entre a leveza e o peso”, afirmou.
Em Lagos, Heloisa trabalha com assimetria, como o movimento da água, para desenvolver pratos, copos, jarros, tigelas, entre outros acessórios. Mais recentemente, durante o Design Weekend, em São Paulo, lançou a linha Tectônica, feita de terra preta.
“Eu acho que fala muito sobre forças”, refletiu. “As séries têm uma coisa do trabalho, é sempre um diálogo com a vida”, disse.
Por Ana Luiza Cardoso | Matéria publicada na edição 129 da Versatille