Conforto e consciência: conheça o movimento Sou de Algodão
O Brasil é o maior fornecedor de algodão sustentável do mundo, mas pouco se sabe sobre sua cadeia produtiva e as vantagens socioambientais de vesti-lo
Não é novidade que os hábitos de consumo vêm sendo alterados e a preocupação em torno da sustentabilidade nos mais diversos mercados passou a ser obrigatória. A moda, contudo, ainda ganha destaque negativo no cenário de movimentações, principalmente por não conseguir fugir de dois fatos: é uma das indústrias mais poluentes (até mais do que navios e aviões) e também é apontada como a maior exploradora de trabalho escravo no mundo, como foi revelado por uma pesquisa realizada em 2018 pelo The Global Slavery Index. Na contramão dos fatos, surgiu em 2016, no Brasil, o movimento Sou de Algodão, que busca despertar uma consciência coletiva sobre a moda e o consumo responsável.
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Júlio Busato, o presidente da Associação Brasileira dos Produtos de Algodão (Abrapa) e produtor, revela que, dos 3 milhões de toneladas da fibra produzida no Brasil, quase 80% apresentam o selo de Algodão Brasileiro Responsável (ABR), o que faz do país o maior fornecedor de algodão sustentável do mundo. O ABR é uma certificação dada aos produtores que cumprirem com 178 critérios sociais, ambientais e de segurança do trabalho exigidos pela Better Cotton Initiative (BCI). “Por meio do Sou de Algodão, queremos mostrar aos consumidores que essa é uma fibra natural que tem sustentabilidade em sua produção, o que podemos comprovar pelo selo ABR”, afirma.
Atualmente o movimento conta com 468 empresas filiadas, que transmitem a informação aos consumidores por meio do selo estampado na etiqueta de suas roupas. Só em 2020, houve um aumento de 143% no número de adesões. No segmento de alto padrão nacional, por exemplo, seguindo a declaração “o novo luxo é ser sustentável”, feita por David Wertheimer, herdeiro da Chanel, destacam-se as marcas Ginger, Martha Medeiros, Ângela Brito, Reinaldo Lourenço, João Pimenta e Fabiana Milazzo. Inclusive, o Sou de Algodão teve lançamento no São Paulo Fashion Week de 2016, o que lhe garantiu bastante visibilidade no ramo da moda.
O presidente da Abrapa explica que a maior atenção aos impactos ambientais por parte dos consumidores foi um potencializador para a expansão e aderência ao movimento. “Hoje existe a cobrança não só em nível nacional, mas também mundial, de comprar produtos que sejam ecologicamente corretos e tenham sustentabilidade. Quando alguém for adquirir uma camisa de algodão, queremos que tenha certeza de que ela foi produzida de uma forma responsável”, explica Busato.
Além dessa responsabilidade ambiental, ele revela que a fibra passou a ser ainda mais valorizada em tempos de quarentena: “Ao ficar mais tempo em casa, as pessoas precisaram usar roupas mais aconchegantes e até hoje não se inventou nada com maior conforto do que uma camiseta de algodão”. Por ser oca e 100 vezes mais fina em relação a um fio de cabelo, a fibra facilita a entrada e saída de ar e, consequentemente, a troca de calor com o meio ambiente, o que gera maior sensação de frescor, segundo Busato. Visto que é biodegradável, ou seja, evita a poluição de ecossistemas terrestres e marinhos, o algodão se encaixa perfeitamente nos requisitos dos consumidores.
“As adesões vão crescer muito mais, todos querem entrar porque realmente é uma vantagem”, afirma Busato. Por se estruturar em um trabalho voluntário, o Sou de Algodão teve o custo absorvido pelos produtores, que desde o início entenderam a importância de seguir um caminho sustentável. “Nós demos isso ao mercado primeiro pela necessidade de organizar melhor a cadeia produtiva do algodão e, segundo, porque já víamos que os consumidores exigiriam isso com o passar do tempo.”
Apesar de ainda existir uma forte competição com os tecidos sintéticos, o salto das adesões tem permitido ao movimento intensificar suas campanhas de divulgação por meio de influenciadores, com as próprias marcas parceiras e até instituições de ensino. Em outubro do ano passado, foi lançada a segunda edição de um desafio para estudantes das universidades brasileiras desenvolverem moda a partir de algodão visando a incentivar ainda mais o uso responsável dessa fibra natural.
A maior estratégia para fortalecer a visibilidade está no projeto que o movimento pretende lançar até o fim deste ano baseado em QR Codes informativos. “Nosso objetivo é instalar o ABR de ponta a ponta. Há 17 anos temos um sistema de rastreabilidade da Abrapa que registra onde cada fardo de algodão foi produzido, por qual produtor e quem foi beneficiado. Agora, queremos englobar nisso a indústria que faz o fio, quem confecciona o tecido, quem costura a roupa e onde ela é vendida”, explica.
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O projeto de fato saciará a sede de informação dos consumidores em relação à transparência. Por fim, para Busato, tudo converge no propósito de incentivar os consumidores a valorizarem como o algodão é produzido no Brasil e seus inúmeros benefícios ao meio ambiente.