Como lidar com o crescente interesse de crianças e adolescentes por cosméticos e maquiagens

Influenciados pelas redes sociais, jovens buscam o mercado de beleza cada vez mais cedo; a dermatologista Carla Vidal explica quais são os riscos

Pexels/Karolina Kaboompics

Nos últimos meses, consumidores de produtos de beleza começaram a se queixar nas redes sociais de presença massiva de crianças e pré-adolescentes em lojas de maquiagens e cosméticos como a Sephora e a Ulta Beauty. No TikTok e no Instagram, a hashtag #sephorakids viralizou ao mostrar a quantidade de menores de idade testando produtos e deixando uma certa bagunça nos estabelecimentos. Mais do que um apreço pela organização, no entanto, o assunto acabou gerando reflexões sobre o interesse de pessoas tão jovens pelo mercado estético.  

 

Entre os produtos procurados pela geração alfa (os nascidos a partir de 2010) estão cosméticos que contêm ingredientes como retinol, ácido hialurônico e potentes ativos para minimizar os efeitos do envelhecimento. Cosméticos que são destinados a consumidores mais velhos, mas que ganharam status na internet pelas suas embalagens bonitas e pela forma “aesthetic” que são utilizados por influenciadores em suas rotinas de beleza e de skincare. Sem um controle real de idade nas redes sociais, esses conteúdos acabam gerando desejo de consumo em públicos não indicados.  

 

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O assunto abre um leque de discussões sobre quanto a exposição sem limites de jovens às redes sociais impacta no desenvolvimento de uma geração. Nesse caso, envolvendo o mercado de beleza, a busca pela perfeição desde tão cedo pode resultar em problemas de autoestima e consumo desenfreado. Na prática, também há problemáticas no contato de produtos destinados a um público mais velho na pele de crianças e pré-adolescentes.  

 

“A pele deles ainda não está preparada para alguns ativos. O uso desses produtos sem recomendação pode gerar dermatite de contato ou até aumentar a acne, um problema comum na adolescência”, explica a dermatologista Carla Vidal, que já percebeu o aumento de jovens em consultas na sua clínica. “O interesse deles tem um lado positivo, que é o cuidado com a pele. Muitos já sabem que o protetor solar é importante, por exemplo. Mas há uma linha muito tênue que os leva a consumir um excesso de maquiagens e cosméticos não adequados.”  

 

Segundo a doutora, a regra é simples e vale para todas as idades: antes de colocar qualquer coisa em contato com a pele, é preciso passar por um dermatologista para que ele avalie quais são os produtos ideais para cada paciente. A recomendação é ainda mais importante quando se trata da nova geração. “Nessa época, eles começam a lidar com hormônios, o que afeta a pele de formas distintas para cada um. A acne costuma ser mais agressiva na pele masculina, por conta da testosterona, mas tudo vai depender da genética. Cada paciente é um mundo. Nem todos vão se adaptar bem a um mesmo produto”, ressalta.  

 

Carla Vidal (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Na rotina do consultório, Carla também se preocupa com o uso excessivo de maquiagens pesadas. “Eles até podem utilizar uma maquiagem mais forte em alguma apresentação ou evento especial, mas não para ir à escola diariamente. Temos muitos casos de adolescentes com irritação no olho por causa do uso de cílios postiços no dia a dia, por exemplo”, revela. O que Carla Vidal gosta de recomendar para esse público são as marcas veganas, que saem com água e não costumam possuir fixadores, corantes nem parabenos. Já no quesito skincare, geralmente, apenas protetor solar e hidratante são suficientes.  

 

“Às vezes a mãe já falou várias vezes, mas a criança não segue, por isso é tão importante ter uma orientação médica para validar a informação. Eu sento com eles, mostro a pele e explico os detalhes. A internet atrapalha muito ao mostrar peles irreais, cheias de filtros e edições, mas com paciência e didática eles entendem que não podem usar qualquer coisa. Temos ótimas ofertas no mercado, mas precisam ser direcionadas para esse público”, avalia Carla.  

 

No Brasil, já é possível encontrar linhas de marcas veganas e tradicionais que podem ser utilizadas por crianças e adolescentes. No primeiro semestre de 2024, a marca francesa L’Occitane en Provence lançou a linha Source Réotier, que foi desenvolvida com foco na nova geração e reúne os benefícios da água termal em cerca de quatro produtos. Quando se observa o mercado de produtos veganos, também há diversas opções com fórmulas limpas de toxinas para todas as idades. É o caso da brasileira Care Natural Beauty e da Baims Natural MakeUp, alemã-brasileira.  

 

 

Ainda há muito a ser discutido sobre o assunto, mas fica o alerta: “O mais leve possível para uma pele iniciante. É assim que devemos nos guiar na hora de introduzir nossos jovens numa rotina de cuidado com a pele”, conclui a dermatologista. 

 

Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 135 da Versatille

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