Com o dólar alto, comprar importados no Brasil pode ser mais vantajoso

Com o dólar nas alturas, comprar no país tem se mostrado, em muitos casos, mais vantajoso – sem contar a possibilidade de parcelar e os mil e um mimos no atendimento

Comprar “lá fora” é uma prática comum para consumidores de itens de luxo brasileiros, acostumados com o sobrepreço dos importados vendidos por aqui. Mas, com o dólar nas alturas… Parece que o jogo virou, não é mesmo? Não que o público AAA tenha deixado de comprar no exterior, afinal visitar as maisons de grifes famosas faz parte de qualquer bom roteiro de viagem, assim como experimentar o menu degustação de um restaurante estrelado. Acontece que o mercado de luxo nacional tem algumas peculiaridades, que se tornam vantagens em situações como a atual, em que a moeda americana ultrapassou a marca de R$ 5, valor mais alto da história do Plano Real. E quais são?

 

A opção de parcelar é a primeira que vem à mente de (quase) todo mundo, e realmente é um diferencial. Mas não o único. O atendimento mais próximo e personalizado também conta, e muito. Além disso, não tem como não notar que o mercado do luxo se tornou mais atraente pela oferta de marcas que aterrissaram em território nacional. O Shopping Cidade Jardim é um desses lugares que receberam grandes marcas, e vê com positividade o ano que começa. “É um mercado que vem crescendo muito, acompanhando a repercussão da economia, impactado pelo que parece ser uma retomada. Estamos sentindo isso de maneira bastante palpável desde 2019 e já estamos nos movimentando no sentido de trazer novidades para o mercado nacional neste ano”, afirma Robert Bruce Harley, CEO da JHSF Malls. Entre elas está a inauguração, no shopping, da primeira butique Gianvito Rossi na América Latina, que acontece ainda no primeiro semestre, e a abertura de um novo empreendimento, o CJ Shops Jardins.

 

 

Segundo a última pesquisa da Euromonitor, empresa especializada em análise internacional de mercado, houve um crescimento acima de 25% no setor nos últimos seis anos. “Até 2023, o luxo movimentará R$ 29 milhões por aqui, aumentando em torno de 4% ao ano. O Brasil ainda é um mercado em crescimento, longe de estar maduro. Taxas altas de importação e enorme burocracia são alguns dos itens que impedem que os números sejam maiores”, diz Gabriela Otto, professora de educação executiva da ESPM-SP, especialista no assunto. Diante desse cenário, o CEO da Tag Heuer no Brasil, Freddy Rabbat, revela que, para conquistar o público que viaja muito e compara os valores, várias marcas acabam baixando o preço e diminuindo a margem de lucro. “Equiparando os preços no Brasil e no exterior, as empresas ganham market share. Querem se fixar no mercado, pois acreditam no Brasil e apostam em uma reforma fiscal e na ratificação de acordos bilaterais.”

 

 

DÓLAR NA ESTRATOSFERA

A alta do dólar entra no topo da lista dos motivos que fazem com que se opte por comprar aqui. “Com essa elevação, eventualmente pode até se pagar mais caro por uma compra no exterior do que no Brasil, por mais para – doxal que possa parecer. Atualmente, um Rolex comprado no revendedor brasileiro sai cerca de 10% mais barato do que o mesmo relógio comprado no exterior”, diz Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital, de São Paulo. Dono de uma pequena coleção de 48 relógios, o arquiteto Richard Porto, morador de Alphaville, em São Paulo, está dividindo seus gastos em peças entre São Paulo e Estados Unidos. “Da marca Movado, de cerâmica, eu comprava somente lá fora, por exemplo. Mas outro dia estava passeando em Curitiba, vi um na cor branca na Vivara e arrematei”, diz. Segundo Porto, o mesmo modelo custaria, em Miami, cerca de US$ 7 mil (ao converter, sem contar IOF, daria R$ 31.500). Aqui, saiu por R$ 19 mil, e ele ainda conseguiu parcelar a compra em oito vezes no cartão.

 

 

Não encontrar um modelo específico em território brasileiro é coisa do passado. As lojas estão abastecidas e os lançamentos acontecem de maneira simultânea. Mas, caso haja um “deslize” do tipo, a solução vem a jato, literalmente: a loja faz o pedido específico e a empresa manda o objeto por avião. Aconteceu exatamente assim com Porto, que foi até a Tiffany para escolher um modelo de aliança exclusivo para comemorar os seis anos de casamento com o contador Pietro Giovannini. O modelo de titânio preto com ouro branco que ele escolheu veio de Nova York para cá, via loja, a pedido do casal.

 

A alta do dólar também mudou o comportamento de Fernanda Pinazo, dona do Aigai Spa, em São Paulo. Proprietária de um apartamento em Miami, na Collins Avenue, aproveitou que os filhos pré-adolescentes queriam conhecer novos lugares – e a ascensão da moeda americana – para colocar o imóvel à venda. Uma vez por ano, pelo menos, ela visita a cidade e segue com os hábitos de compra por lá, mas não deixa de gastar em suas marcas preferidas, como Chanel e Cavalli, por aqui. Fernanda percebeu que houve uma mudança no timing de chegada das peças. “Havia itens que não se encontravam em São Paulo, mas hoje as compradoras das lojas estão ligadas no gosto das brasileiras, que conseguem antecipar os desejos para as consumidoras”, diz. A empresária conta que agora consegue montar um look inteiro aqui quando tem um casamento e precisa de um vestido novo, além de bolsa e sapatos especiais que marquem o momento. “Joias também valem a pena. Cartier e Tiffany são ícones. Posso comprar aqui uma peça clássica, que vou passar para minha neta, com preço similar ao de fora.”

 

 

PARCELAMENTO É BOM E BRASILEIRO GOSTA

Entender essa mudança de comportamento não é difícil quando se faz a conta na ponta do lápis. No exterior, o uso do cartão de crédito implica taxas, compras e saques, e ainda custa 6,38% de IOF (Imposto sobre Operação Financeira) ao consumidor. “Se a taxa de câmbio sobe, tanto faz comprar aqui ou no exterior, pois o preço será parecido. Por exemplo, um iPhone pode custar em torno de R$ 6 mil ou R$ 7 mil aqui, enquanto nos Estados Unidos não chega a US$ 1 mil. Mas há impostos e a taxa de câmbio, que podem reduzir significativamente a vantagem de comprar lá fora”, diz Jackson Teixeira Bittencourt, economista e coordenador do curso de economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Somado a tudo isso, há o grande atrativo de parcelar as compras, muitas vezes sem juros.

 

“Sou a rainha do parcelamento”, brinca Terezinha Hamann, moradora da capital paulista. Dona de um closet cheio de peças clássicas, como Prada e Chanel, e modernas, como Phillip Lim e bolsas Saint Laurent (sua atual paixão), ela acha que vale muito a pena comprar na capital paulista, onde mora. Mesmo viajando para o exterior pelo menos duas vezes ao ano, onde também faz seus roteiros de compras, vê um movimento propício para gastos em real. “De dois anos para cá, o dólar ficou muito caro. Aqui consigo dividir, o que pesa menos na hora de pagar a fatura. Fora que você já consegue comprar alguma tendência sem precisar esperar aquela viagem”, diz Terezinha. Suas últimas aquisições parceladas foram uma saia Prada verde-água e uma mule de salto baixo Aquazzura.

 

 

“TE AVISO PELO WHATS”

Outro atrativo para passar o cartão em caixas brasileiros é o atendimento personalizado. Com o WhatsApp das clientes salvo na lista de contatos pessoais, as vendedoras avisam antecipadamente sobre aquela peça-desejo, com direito a envio de foto e desconto no mês de aniversário, coisa que jamais aconteceria na Europa ou nos Estados Unidos, onde esse tipo de relação simplesmente não existe – todos são apenas mais um cliente, sem o bom e velho calor humano de nossas bandas. “O alto nível do serviço é certamente um quesito decisivo para fazer compras locais. É importante que as marcas ofereçam não apenas serviços complementares, como entrega em domicílio de produtos de luxo, mas também promovam eventos de prestígio, que criam a sensação de um ambiente exclusivo, como um clube para poucos”, opina a especialista em mercado de luxo Gabriela Otto.

 

 

A Tag Heuer, por exemplo, convida clientes até para assistir à Fórmula 1. “Aqui o consumidor ganha mais atenção, e até a amizade do pessoal da loja. Lá fora, você é um turista que o staff nunca mais vai ver. Além do serviço especial, nossos clientes são convidados para as ativações da marca, e isso os faz especiais”, diz Rabbat. A influenciadora digital de Belo Horizonte Camila Quintão, moradora de São Paulo há 12 anos, diz que o tratamento nas lojas brasileiras faz toda a diferença. “Já tenho relação com as vendedoras, que enviam pelo celular fotos das peças que vão chegar, assim posso fazer uma pré-reserva. E muitas mandam as roupas em casa para que eu possa provar sem me sentir pressionada”, conta ela, que é cliente de Dior, Chanel, Gucci, Prada e Louis Vuitton. Mesmo com viagem marcada para Paris, ela preferiu adquirir aqui um tênis Chanel e uma bota Gucci, as duas compras feitas com atendimento vip e parcelamento no cartão. Isso nem as verdinhas garantem.

 

COMPORTAMENTO por Manuela Aquino | Matéria publicada na edição 115 da Revista Versatille.

 

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