Beleza alagoana e ótima gastronomia: como é se hospedar no Mahré Hotel, em São Miguel dos Milagres
Inaugurado no fim de 2023, o Mahré Hotel é o destino para quem busca contato com a natureza e a cultura local
Começo este texto sobre o Mahré Hotel, em São Miguel dos Milagres, da forma que ele merece: vivendo intensamente o aconchego da hospedagem. No momento, após uma massagem no quarto, tenho algumas horas disponíveis para aproveitar a suíte antes do jantar. Em um breve resumo, a acomodação onde estou agora, que estampa o número 3 na porta, é um verdadeiro parque de diversões da vida adulta: é extenso, mas já adianto a parte mais legal. De frente para a cama, na área externa, há uma piscina privativa tentadora.
Com sofás e um guarda-sol para chamar de meu, assumo que esse cantinho acabou me incentivando a começar o texto para tentar transmitir um pouco do clima local em palavras. Sentada com o computador no colo, é possível ver o caminho para a praia, que se esconde atrás dos coqueiros e guarda a beleza de seu mar azul — de um tom tão único que deveria ser batizado de “azul alagoano” — apenas para aqueles que chegarem mais perto.
LEIA MAIS:
- Uma viagem pelo Vale do Itata, região chilena com vinhos surpreendentes
- O que fazer em três dias de viagem pela Chapada dos Veadeiros
- Em Jaén, província espanhola conhecida como a capital mundial do azeite, turistas imergem no olivoturismo
A faixa de areia, em si, fica a alguns passos das suítes, mas o som, o cheiro e os barulhos da natureza são extremamente presentes. E é exatamente isso que a hospedagem, inaugurada no fim de 2023, busca oferecer. Dos mesmos proprietários da Pousada Haya, também em São Miguel dos Milagres, o Mahré Hotel foi criado para ser um refúgio, onde é possível aproveitar todas as comodidades com muita privacidade e calmaria, seja no quarto ou na praia, que é paradisíaca e silenciosa.
O terreno do hotel tem 40 mil metros quadrados, abrigando 30 suítes de diversos tamanhos — todas com piscinas privativas — ao redor de um grande lago que atrai pássaros durante o dia. Na área comum, mais uma piscina, com vista para o mar, que neste ponto aparece com toda a sua beleza para deixar os hóspedes encantados pela região, que faz parte da chamada Rota Ecológica, um trecho de 23 quilômetros composto de praias belíssimas integrantes do circuito da Costa dos Corais (a segunda maior barreira de corais do mundo, ficando atrás apenas da Austrália).
A poucos passos dali, também há um pequeno parquinho para crianças pequenas e, até o fim de 2024, espera-se a inauguração de uma academia, de um SPA e de uma quadra de tênis. Até o momento, para aqueles que não dispensam uma atividade física, é possível pegar bicicletas emprestadas para andar na praia ou jogar beach tennis em uma quadra montada diariamente pela equipe do hotel na faixa de areia. Já quanto à massagem, enquanto o SPA não abre, os serviços são oferecidos de forma privativa nas suítes.
“Queremos que vocês se sintam em casa”, disse Maria Gil, uma das proprietárias da hospedagem, em um dos primeiros momentos da viagem. E, por mais que essa seja uma frase comum, sinto que não é dita, de forma nenhuma, da boca para fora. Muito menos apenas por ser uma visita da imprensa. A questão é que o Mahré realmente foi pensado, em todo o seu design, arquitetura e paisagismo, para transmitir uma ambientação de “lar, doce lar” aos visitantes.
A hospedagem foi projetada pelos escritórios Agra e Lemos e João Armentano, mas muito da decoração passou pelo olhar de Maria Gil — como é o caso das almofadas dispostas na piscina da área comum. Mobiliários e artes também passaram por essa curadoria da proprietária, que deu extremo valor ao artesanato local. Na gastronomia não foi diferente. Quem assina o menu é o carioca Rafa Gomes, à frente dos restaurantes fluminenses Tiara, Itacoa e Tin Tin, mas toda a sua equipe é formada por profissionais da região. Para representar Alagoas com maestria, não podia ser de outra forma.
Entre tapiocas e frutos do mar
Responsável pelo menu do Tahí Restaurante – que, apesar de estar dentro do Mahré, é aberto também a não hóspedes mediante reserva —, Rafa Gomes visita o espaço mensalmente para acompanhar, ajustar e vistoriar a cozinha. Um esforço que ele faz com sorriso no rosto, já se afeiçoando pelo sotaque e pelos sabores da região. Embora tenha experiências no mundo todo, há algo de especial no toque alagoano. Algo que ele conseguiu imprimir ao criar o cardápio da casa.
Há muitos pratos bons disponíveis, mas alguns me encantaram mais. O primeiro deles é o bobó de camarão, servido em tamanho família (para quatro pessoas), acompanhado de arroz, farofa de banana e vinagrete para repetir quantas vezes quiser (ou até acabar). Uma comida feita com técnica, mas que representa a gastronomia da região. Um exemplo perfeito de como uma equipe local faz diferença.
Para petiscar na piscina, os tacos de camarão crocante com guacamole ou de carne de sol com queijo de coalho também reforçam a percepção de que é possível ser criativo enquanto valoriza os temperos locais. Em alguns dias hospedado no hotel, vale pedir o máximo possível do cardápio para experimentar de tudo, visto que os pasteizinhos de lagosta com tartare de banana também são de dar água na boca, e o cardápio de sobremesas não fica atrás, com um bolo gelado de coco molhadinho e nostálgico.
Tudo isso, é claro, sem contar o café da manhã, no qual é possível aproveitar tapiocas e cuscuz como se o horário do almoço não estivesse próximo. Além dos pratos e das porções, o Mahré conta com três bares com drinques autorais assinados pela especialista em destilados e cachacière Isadora Fornari.
Seja sobre a gastronomia ou a beleza da região, foi o chef Rafa Gomes o responsável por uma frase que marcou a viagem e definiu muito bem a visita a São Miguel dos Milagres: “Alguns veem essa paisagem e dizem: é o Caribe brasileiro. Mas é claro que não. Isso é Alagoas. É Brasil. E é por isso que é tão bonito”, reforçou. Por mais que estivesse falando sobre a transparência da água, esse pensamento pode ser utilizado para diversos outros contextos. Os sabores presentes em cada prato e drinque do Tahí são a pura representação de Alagoas e do Brasil. E isso já é elogio suficiente.
Além da suíte
Ao longo da minha estadia, além de aproveitar muito bem as comodidades, algumas experiências, que estão disponíveis a todos os hóspedes, foram oferecidas. Em um dos primeiros dias, um passeio de jangada pelas piscinas naturais que ficam próximas ao hotel. Para fechar a noite, um jantar à luz de velas na areia da praia, em uma espécie de luau. Nessa configuração, muitos casais podem agendar o serviço para comemorações especiais ou até pedidos de casamento (uma temática que faz sentido, visto que São Miguel dos Milagres é um destino muito procurado para cerimônias, mas isso é história para outro texto).
Também é possível fazer piqueniques ao pôr do sol à beira do Rio Tatuamunha, que é santuário do peixe-boi, e jantares especiais no rooftop do hotel, que tem vista privilegiada para o mar. Para quem está viajando de carro, vale a pena visitar o centrinho da cidade e alguns restaurantes especiais, como a tradicional Tapioca da Elisângela e o saboroso No Quintal, criado por um casal de paulistas que decidiu se mudar para a região em busca de calmaria. A cerca de uma hora e meia de Maceió, capital de Alagoas, o Mahré Hotel oferece um serviço que honra muito bem o local em que está instalado.
Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 134 da Versatille