Autor de um dos cliques mais famosos da pandemia conversa com a VERSATILLE
O jovem fotógrafo Yan Carpenter, de 26 anos, escancarou a realidade do trabalhador na pandemia com o retrato “avião do trabalhador”, que viralizou nas redes em junho. O registro mudou o curso de sua carreira
Por Estefânia Basso
Foram alguns poucos minutos entre o clique e a postagem da foto que transformaria o curso da carreira do jovem fotógrafo Yan Carpenter. “Avião do Trabalhador” foi a imagem que ele capturou dentro do BRT (sistema de ônibus de trânsito rápido), no primeiro dia da reabertura do comércio do Rio de Janeiro, e que viralizou.
Nela, não há espaço para distanciamento social: são diversos trabalhadores vestindo máscaras e apertados dentro de um ônibus, em um momento de ascensão da curva de contágio da covid-19 na cidade. Ao registrar a cena “tão cotidiana e altamente previsível”, em suas palavras, e compartilhá-la, ficou evidente a desigualdade de oportunidades entre os trabalhadores brasileiros diante das necessidades de isolamento trazidas pela pandemia.
“É uma cena comum. Quem precisa do transporte público vive aquilo, mesmo na pandemia. Fico feliz pelo alcance que a foto teve, mas também questiono: por que algo tão previsível precisa tomar esse porte para que a situação das pessoas seja debatida, tenha importância?”, pergunta.
O sucesso da imagem não só o fez mudar de endereço – da comunidade carioca de Rio das Pedras para o bairro do Pacaembu, na capital paulista – como o levou a expor seu trabalho pela primeira vez. Rodo Cotidiano reuniu até o m de outubro, no restaurante Figueira Rubayat, em São Paulo, além de “Avião do Trabalhador”, imagens que retratam a rotina do trabalhador que precisou sair de casa na pandemia para exercer seu ofício, além de outras com recortes do subúrbio carioca.
Foram cerca de 25 fotografias expostas – e todas vendidas –, com parte da renda revertida para a ONG Gerando Falcões. Esse olhar para o humano que Yan busca imprimir em seu trabalho vem também de sua graduação em história. “Eu tento fazer com que minha visão da sociedade, dada pela formação em história, consiga ser mais evidente pela fotografia”, diz.
Outra influência vem da música. Carpenter foi baterista de uma banda de rock e, quando saiu do grupo, vendeu seus equipamentos para comprar sua primeira câmera, uma Canon 60d. Viu uma oportunidade de carreira e passou a estudar por conta própria algumas técnicas. Começou a fotografar moda, fez retratos e uma série de trabalhos para compor portfólio e complementar a renda.
Mas a relação no passado com a música ele trouxe para a fotografia. “No cenário nacional tem muitos artistas que explicam em letras o que eu tento colocar em imagens”, conta ao falar que suas influências estão, principalmente, no rap. Nesse sentido, suas fotos registram, entre outras coisas, a vida em comunidades em todos os seus aspectos, como seus moradores, suas vielas, casas, o trabalho.
Com o sucesso da foto, Yan foi apadrinhado por Carol Maluf e hoje também atua como fotógrafo da ONG Gerando Falcões, de Edu Lyra, registrando ações em comunidades, entre outras atividades. O artista está pensando em sua próxima exposição, ainda com ideias iniciais, mas já incorporando as experiências transformadoras que esses poucos meses trouxeram em sua vida e em seu olhar de fotógrafo. “De São Paulo, quero conhecer outras culturas em outras regiões no país e depois no mundo”, diz.