Arnaldo Danemberg celebra 40 anos de antiquariato
Com lançamento de livros, Arnaldo Danemberg compartilha suas experiências viajando pelo mundo à procura de raridades do mobiliário antigo
Rio de Janeiro, São Paulo, Londres, Paris, Bordeaux e Porto. Das metrópoles ao interior, Arnaldo Danemberg tem um roteiro profissional agitado. Aos 65 anos, ele roda o Brasil e a Europa dentro de um pequeno caminhão garimpando lojas, feiras e leilões em busca de raridades do design. Proprietário e criador do antiquário que leva seu nome, com venda no e-commerce do CJ Fashion, Danemberg é reconhecido internacionalmente como a maior autoridade em mobiliário histórico brasileiro, além de ser professor e pesquisador.
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A inquietude e a curiosidade em viajar o mundo acompanha-o desde pequeno. “Sempre gostei muito do estrangeiro, de viajar. Queria ser diplomata, para lidar com o mundo”, conta. Danemberg ingressou na faculdade de direito e tornou-se advogado, profissão que exerceu por cinco anos. O antiquariato entrou em sua vida há 40 anos graças ao pai, que também se dedicava ao garimpo de antiguidades. Juntos, eles abriram uma loja na Rua do Lavradio, centro do Rio de Janeiro – local que depois virou referência em objetos antigos.
As primeiras viagens foram modestas: Petrópolis, Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. “Eu viajava para estudar, por ter uma vida acadêmica muito forte, e para comprar móveis.” Anos depois, ele passou a ir a Londres, Paris (onde passou longas temporadas e levou uma vida cotidiana) e Bordeaux, onde está localizada a sede de um depósito permanente de seu antiquário, na França. Paralelamente, mantém um espaço para armazenamento no Porto, em Portugal.
O resultado de cada viagem é imprevisível. “O trabalho começa às 4h30 da manhã, estrada afora, antes do amanhecer. As histórias são muitas, das mais diversas e mais engraçadas.” O viajante recorda de uma cômoda que comprou em um leilão em Londres e que, quando chegou no depósito, encontrou um presente inesperado dentro: um sutiã cor-de-rosa. “Voltei até a leiloeira e mostrei, o pessoal caiu na gargalhada.”
Em outra ocasião na França, quando ainda não havia GPS e as viagens eram feitas com mapas, Danemberg parou para pedir uma informação a um sapateiro. “Ele viu que eu gostava de antiguidades e me mostrou suas ferramentas antigas de sapataria. Comprei todas. Ainda me mostrou um móvel que adquiriu em outro antiquário. Também comprei.” Essas e outras histórias estão presentes no livro em dois volumes autorais (O Viajante e O Antiquário) lançados neste ano, em comemoração aos 40 anos do Arnaldo Danemberg Antiquário.
Qualquer aquisição é bem-vinda em suas experiências. “O que mais me fascina é o que ainda não sei, o que vai me levar além”, diz. “Os baús são uma marca minha. Móveis de convento também me atraem muito. Escadas, mesas de aparato, cômodas, todo o mobiliário.” Sua vida acadêmica foi primordial para o entendimento das peças, permitindo uma análise profunda de época, estilo, materiais e potencial de restauração dos móveis. “É uma relação paternal, como se fossem meus filhos. Trago-os para a oficina, eles são ajustados e seguem para outra vida.”
Há seis anos sua base fica em São Paulo e sua oficina, no Rio. Danemberg mantém contato diário com a unidade carioca, a francesa e os fornecedores de ambos os países. Antes da pandemia, realizava quatro viagens de garimpo à Europa por ano, e a expectativa é de retorno ainda neste ano.
Arnaldo Danemberg possui a mesma energia de 40 anos atrás. “Tenho uma vitalidade imensa. Estou sempre a mil, não paro”, comenta. “Quando trabalhamos com história, vivemos renascendo. O antiquário está cercado de memórias, de lugares e de povos. O antiquariato é o avião da memória.”
Por Mattheus Goto | Matéria publicada na edição 120 da Versatille