“A matéria-prima do trabalho da atuação é o que a gente é e tem para dar como pessoa”, ressalta Johnny Massaro

Em entrevista, o ator e diretor reflete sobre os aprendizados de uma vida cadenciada pela arte da atuação

É inegável que algumas pessoas têm o poder de fugir do senso comum mesmo perante questões mais básicas da vida. Pelo menos foi isso que me veio à mente logo ao chegar ao local da entrevista com Johnny Massaro, personagem da capa, que me recebeu em uma casinha florida e silenciosa, em pleno caos da região central de São Paulo.

 

Do lado de fora, uma ruazinha de paralelepípedos. Dentro, uma decoração quase nostálgica, com quintal e café fresco saindo na hora. Essa foi apenas a escolha do ator para hospedar-se em sua passagem por São Paulo, mas é difícil não relacionar o local a sua personalidade, principalmente após uma conversa. Depois de crescer e amadurecer como ator mirim, Massaro, de 31 anos, carrega diversos aprendizados nas esferas pessoal e profissional, que hoje refletem em muitos traços de autoconhecimento. 

 

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Seja como ator ou diretor, busca não silenciar suas emoções. Já na vida pessoal, em momentos de lazer, procura espaços mais silenciosos e com mais contato com a natureza para que consiga desconectar-se. No dia da entrevista, estava com as malas prontas para seguir para um retiro de meditação em silêncio, com duração de dez dias. “É claro que vou fazer isso por mim, para melhorar como pessoa, mas não deixo de pensar que, se minha vida pessoal está bem trabalhada, minha parte profissional também fica mais interessante”, revelou, animado com a experiência. 

 

Com um extenso currículo como ator e diretor de filmes e telenovelas, sua carreira é interessante por si só, mas é claro que sua personalidade a enriquece ainda mais. Confira.

 

Versatille: Qual é sua relação com a atuação? Você sempre teve vontade de ser ator? 

 

Johnny Massaro: Como comecei muito cedo, aos 11 anos, tenho dificuldade em apontar conscientemente o momento em que decidi ser ator. Lembro que gostava muito da novela Chiquititas e queria fazer parte daquilo. O ator que fazia o Pedrinho, do Sítio do Picapau Amarelo, estudava na mesma escola que eu, então a minha mãe perguntou para a avó dele como tinha sido o processo. Pegou a indicação de um curso de teatro e de uma agência de atores mirins. Eu comecei a estudar teatro e cerca de um ano depois fiz um teste para Floribella e passei. Foi assim que tudo começou. 

 

Colete e calça Ellus; e joias Guerreiro

 

V: Como foi crescer nesse meio? A carreira impactou de alguma forma seu desenvolvimento?

 

JM: Todo o meu processo de amadurecimento está 100% ligado ao fato de eu ter trabalhado como ator desde cedo. Eu gravava todos os dias e mantinha os estudos no colégio, então isso definia a minha rotina e personalidade. Com 12 anos, eu convivia com pessoas de todas as idades durante as gravações. De 8 a 80 anos. Para uma criança, essa convivência com a diversidade etária define muitas coisas no processo de desenvolvimento. Na época, acho que isso me deixava menos paciente para pessoas da minha idade. Lembro de pensar que algumas questões e atitudes eram muito imaturas (risos). 

 

V: E atualmente? Quais são os maiores ensinamentos que você carrega? 

 

JM: Nunca estudei teatro formalmente, embora tenha me graduado em cinema. Minha escola foi o trabalho. São muitos ensinamentos, mas um dos maiores é perceber que serei um eterno aprendiz. Toda vez que trabalho com pessoas incríveis e com anos de ofício, elas demonstram ter esse mesmo sentimento sobre a atuação. Isso é muito belo, porque é verdadeiro. Se você acha que já está pronto, isso provavelmente faz de você um ator medíocre.

 

V: Em algum momento você teve dificuldade de separar sua vida pessoal da vida de seus personagens?

 

JM: No começo, eu tentava traçar um limite entre o meu personagem e a minha vida. Com o tempo, fui percebendo que isso era uma besteira. Na verdade, a matéria-prima do trabalho da atuação é, inevitavelmente, o que a gente é e tem para dar como pessoa. As experiências que reunimos e como lidamos com o nosso corpo e com a nossa voz. Isso tudo é a matéria-prima do ofício do ator. Não preciso que um personagem seja muito diferente de mim para ser considerado um bom ator. Hoje, tento entender qual parte dentro de mim pode ajudar a construí-lo. 

 

Jaqueta e calça Ellus

 

V: Acha que isso é um forte exercício de autoconhecimento? 

 

JM: Com certeza. E deixa a atuação muito mais rica. Todo mundo tem tudo dentro de si. Das melhores às piores coisas. Como Johnny, eu conheço a raiva, o medo e a inveja, assim como a alegria, o amor e a felicidade. E aí vamos entendendo como cada personagem lida com essas emoções que também fazem parte da gente. 

 

V: Qual parte do trabalho faz seu coração bater mais forte? 

 

JM: A primeira coisa que me vem à cabeça é o momento em que eu pego um roteiro e leio a cena mais desafiadora do projeto. O ápice emocional, psíquico e físico do personagem na trajetória. Eu leio e percebo que vou ter que fazer essa cena em algum momento. Isso já faz meu coração palpitar. Quando chega o dia de gravar, tudo fica em função disso. Desde o acordar até a escolha do café da manhã. Resumidamente, o momento em que meu coração palpita é quando eu vou levar o coração do personagem ao seu máximo também. 

 

V: Você já fez cinema, televisão, teatro, direção… o que ainda almeja conquistar na carreira? 

 

JM: Um dos motivos que me trouxeram para São Paulo foi o meu próximo projeto de direção, então com certeza essa parte está me instigando muito. Nessa passagem pela cidade, aproveitei para visitar a oficina de teatro onde fiz um workshop com o Zé Celso quando tinha 17 anos. Na época, eu olhava para ele e pensava: esse é o auge de onde posso chegar como ator. Ao visitar a oficina novamente, eu senti vontade de voltar a frequentar esses espaços. 

 

Jaqueta e calça jeans Ellus; e relógio Montblanc

 

V: O que é mais importante para você quando pensa na vida?

 

JM: A primeira palavra que me veio à cabeça, neste momento, foi respeito. Uma vez estando na Terra, estamos em relação com outras pessoas. Não vivemos sozinhos. Somos animais coletivos. Nesse sentido, acho que o mais importante é conseguirmos nos conhecer para nos respeitar e também respeitar o outro.  

 

texto beatriz calais | Matéria publicada na edição 131 da Versatille

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