A história do Brasil contada por seus Patrimônios Culturais da Humanidade

Os patrimônios históricos podem estar mais perto do que você imagina: só no Brasil temos 22 pontos nessa seleta lista

Rio de Janeiro

A Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – é a responsável por listar e classificar esses locais mundo afora como Patrimônios Mundiais, ou seja, que considera de “valor universal excepcional” para a humanidade.

 

A organização trabalha impulsionada pela chamada Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, desenvolvida pelo Comitê do Patrimônio Mundial em 1972, com o objetivo de garantir que os locais classificados sejam protegidos e conservados, fazendo o meio de campo e a supervisão com os estados responsáveis. Oferece inclusive assistência financeira por meio de um fundo criado para esse fim.

 

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Mas quais são esses patrimônios culturais e por qual motivo estão nessa seleta lista? Os chamados Patrimônios Mundiais da Humanidade são classificados em culturais, naturais ou mistos. Os culturais são monumentos, grupos de edifícios ou sítios que possuem um valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico, de acordo com esse regulamento. Podem ser obras arquitetônicas, praças, esculturas ou até mesmo construções, que, por sua estrutura, unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência.

 

Separamos os 14 lugares brasileiros que integram essa lista e que trazem em seu DNA muita história e curiosidades e oferecem uma verdadeira viagem no tempo. Vamos lá?   

Rio de Janeiro: paisagens cariocas entre a montanha e o mar

“Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara. Rio, seu mar, praia sem fim. Rio, você foi feito para mim”: o trecho da canção “Samba do Avião”, composta por Tom Jobim em 1969, fala das belezas das paisagens da cidade maravilhosa muito antes de elas serem consideradas Patrimônio da Humanidade, em 2012. Dos pontos altos das montanhas do Parque Nacional da Tijuca até o mar, passando pelo Jardim Botânico, pelo Morro do Corcovado e pelas colinas ao redor da Baía de Guanabara, incluindo também as extensas paisagens projetadas ao longo da Baía de Copacabana, tudo faz do Rio de Janeiro um cenário único que já serviu e ainda serve de inspiração para tantos músicos, escritores e artistas. A Unesco destaca o desenvolvimento da cidade, que ocorreu por uma fusão criativa entre natureza e cultura. Segundo a organização, o Rio “não é o resultado de processos tradicionais persistentes, mas antes reflete um intercâmbio baseado em ideias científicas, ambientais e de design que levaram a criações paisagísticas inovadoras em grande escala no coração da cidade durante pouco mais de um século”.

Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

O mais recente Patrimônio Cultural da Humanidade localizado no Brasil foi inserido em 2017 por sua importância e seus vestígios históricos. O sítio arqueológico Cais do Valongo está localizado no centro do Rio de Janeiro – na Praça do Jornal do Comércio, antiga zona portuária da cidade. Lá foi construído o antigo cais de pedra para o desembarque de escravos no começo do século 19. Quase 1 milhão de africanos chegaram ao continente por ali. Segundo a Unesco, é a evidência física mais importante associada a esse período, de um dos crimes mais cruéis da história da humanidade. Os arredores do Cais do Valongo se tornaram uma arena para várias manifestações que celebram a herança africana e não deixam esse episódio terrível ser esquecido.

 

Centro histórico de Olinda, Pernambuco

Segundo Patrimônio Cultural brasileiro – incluído em 1982 –, Olinda, no estado de Pernambuco, foi fundada em 1535 por portugueses e tornou-se símbolo da produção de açúcar. Era uma das cidades mais ricas – se não a mais – do Brasil colônia. Seu conjunto paisagístico, urbanístico e arquitetônico é reflexo disso. Ela foi saqueada e queimada pelos holandeses e teve de ser reconstruída. Os critérios para seu centro ter recebido o título é toda essa importância histórica e também a série de edifícios que ganha destaque pelos estilos arquitetônicos – desde o colonial até o neoclássico, após sua reconstrução. A Catedral Alto da Sé e a Igreja de Nossa Senhora da Graça são alguns desses exemplos. Jardins, conventos, igrejas barrocas e capelas estão espalhados pela cidade, que possui também casas simples, pintadas com cores vivas e revestidas de azulejo. Esse contraste, juntamente com a paisagem de floresta tropical, traz uma surpreendente harmonia e sinergia para a cidade, que foi construí­da no alto de colinas – o que ainda garante uma visão privilegiada do oceano visto de cima.

 

Centro histórico de Salvador, Bahia

Quem já foi a Salvador, sem dúvida, ouviu falar ou viu o Olodum tocar na ladeira do Pelourinho. O “Pelô”, juntamente com outros pontos de seu centro histórico, foi considerado Patrimônio Cultural da Humanidade em 1985. A mistura de culturas africanas, europeias e indígenas americanas encontrada na cidade, considerada a primeira capital do Brasil, pode ser notada por qualquer pessoa que pisa em suas ruas e foi um dos critérios da Unesco para esse título. Outro ponto foi a arquitetura renascentista adaptada ao sítio colonial, vista nos coloridos prédios espalhados pelo centro. A chamada Cidade Alta, com atividades administrativas e residenciais, dá vista para a Cidade Baixa, onde atividades comerciais giram em torno do porto. Foi lá também o primeiro mercado de escravos do Novo Mundo, com negros chegando para trabalhar nas plantações de açúcar. Vestígios desse passado sobrevivem até hoje nesse conjunto histórico e estrutural, tangível ou não, mas que traz tanta bagagem cultural.

 

Cidade histórica de Ouro Preto, Minas Gerais

As ladeiras e os paralelepípedos são inesquecíveis e característicos da cidade que respira história e cultura. Ouro Preto foi a primeira integrante brasileira da lista da Unesco (em 1980) e há inúmeros motivos para receber o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, com valores materiais e imateriais. Palco da Inconfidência Mineira, principal movimento de contestação à coroa portuguesa, ponto central da corrida pelo ouro nos anos áureos da mineração no país e dona de um conjunto arquitetônico único, com belíssimas pontes, chafarizes e igrejas – muitas com identidade única e colaboração do escultor barroco Aleijadinho –, a cidade é uma mistura do passado com o presente. Visitá-la é como viajar no tempo. A sensação é de estar em uma cidade cenográfica, com itens centenários de uma conservação digna de patrimônio histórico.

 

Plano Piloto de Brasília, Distrito Federal

É natural pensar em Brasília quando o assunto é arquitetura. Projetada pelo urbanista Lucio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a cidade é considerada um “marco na história do urbanismo” pela Unesco. Ainda segundo a organização, a estrutura urbana de Brasília inclui todos os elementos necessários para demonstrar um valor universal excepcional. É uma realização artística singular, uma criação primordial, representando, em escala urbana, a expressão viva dos princípios e ideais propostos pelo movimento modernista. Ela foi criada para ser a capital do país e fez parte do projeto de modernização nacional do presidente Juscelino ­Kubitschek, reunindo ideias de grandes centros administrativos e espaços públicos com novas propostas de vida urbana, organizada por setores. Inovação e criatividade encontradas na organização da cidade e nos projetos arquitetônicos de Niemeyer, como os edifícios dos três poderes (Palácio Presidencial, Supremo Tribunal Federal e Congresso), foram determinantes para que a cidade ganhasse o título de Patrimônio Histórico em 1987 – que, até então, só tinha sido concedido para cidades construídas antes do século 20.

 

Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí

Com pinturas rupestres de até 25 mil anos em paredes rochosas, mostrando a vida, os costumes e a cultura do povo da época, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, concentra os sítios arqueológicos mais antigos da América do Sul. Ele cobre cerca de 129,140 hectares e tem uma circunferência de 214 quilômetros. Segundo a Unesco, o local é um testemunho excepcional de uma das populações mais antigas a habitar o continente. As análises e datações das evidências e dos artefatos encontrados no parque servem para confirmar a presença milenar do ser humano. O parque foi aberto em 1979 e ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela organização em 1991.

 

Conjunto moderno da Pampulha, Belo Horizonte

Um visionário projeto de cidade-jardim, pensado em torno de um lago artificial, fez com que a Pampulha se tornasse um centro cultural de lazer e cultura. Oscar Niemeyer aparece novamente como um dos protagonistas de um Patrimônio Cultural da Humanidade, dessa vez em Belo Horizonte. Niemeyer, Burle Marx e Portinari entregaram coletivamente um conjunto paisagístico composto de formas ousadas, que refletem a influência das tradições locais e uma nova linguagem arquitetônica, que serviu para afirmar novas identidades nacionais na América Latina, ponto fundamental para a Unesco incluí-la em sua lista. A Igreja de São Francisco de Assis, com painéis de Cândido Portinari, a marquise e os jardins que circundam a lagoa, a Casa do Baile e o Museu de Arte da Pampulha compõem o conjunto que é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade desde 2016.

 

São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul

As ruínas localizadas no sítio arqueológico São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, são vestígios das missões dos padres jesuítas dos séculos 17 e 18 junto ao povo guarani. Lá, eles abrigavam e catequizavam os indígenas. Essas ruínas, que foram tombadas pela Unesco e reconhecidas como Patrimônio da Humanidade em 1983, fazem parte de um conjunto arquitetônico encontrado e reconhecido também na Argentina. As ruínas da Igreja de São Miguel constituem a estrutura mais intacta e completa entre os patrimônios da época. Segundo a Unesco, entraram na lista por “representarem exemplos notáveis de um tipo de construção e de um conjunto arquitetônico que ilustram um período significativo na história da Argentina e do Brasil”, além de ser o testemunho do esforço de evangelização dos jesuítas na América do Sul.

 

 

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Centro histórico de Diamantina, Minas Gerais

Ladeiras íngremes, casarões coloniais e igrejas centenárias situadas em ruas de pedras enchem os olhos e preenchem o coração dos turistas com tanta beleza e calmaria. Diamantina está localizada a cerca de 300 quilômetros de Belo Horizonte, na região do Vale do Jequitinhonha, e tem mais de três séculos de fundação. A cidade possui um amplo patrimônio arquitetônico, cultural e natural, que garantiu a seu centro histórico o título da Unesco de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1999. Diamantina recebe o título também por seu conjunto urbano e arquitetônico “perfeitamente integrado a uma paisagem agreste”, sendo um belo exemplo de espírito aventureiro aliado a uma busca pelo requinte tão típica da natureza humana.

 

Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Minas Gerais

Parada obrigatória para os fãs de Aleijadinho e arte barroca, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, localizado em Congonhas-MG, entrou na lista de patrimônios da Unesco em 1985. Ele foi construído a partir da segunda metade do século 18. As escadarias com estátuas espalhadas dos 12 profetas feitas pelo artista em pedra-sabão levam à igreja, com interior em estilo rococó. Outras esculturas de Aleijadinho, que retratam cenas da Paixão de Cristo, estão espalhadas pelas seis capelas do local. De acordo com a Unesco, o complexo arquitetônico e escultórico do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos representa uma realização artística singular, além de marcar uma encruzilhada na evolução da arquitetura religiosa no final do século 17, critérios que o fizeram entrar na seleta lista da organização.

 

Centro histórico de São Luís, Maranhão

O conjunto arquitetônico, composto de mais de mil casarões seculares, ajudou o centro histórico de São Luís, no Maranhão, datado do século 17, a conquistar o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1997. Traçados lineares nas ruas, com desenhos geométricos, e quadras bem desenhadas são admirados pelos visitantes, que fazem uma verdadeira viagem no tempo ao visitar o local. As influências portuguesas são perceptíveis em todos os lugares. Os azulejos utilizados nas fachadas e nos interiores das construções conseguem fazer você viajar mentalmente até o bairro do Chiado, em Lisboa, em questão de segundos. Pelos critérios da Unesco, o centro histórico de São Luís entra na lista “pelo testemunho da civilização colonial portuguesa”, “por ser um exemplo de cidade colonial portuguesa adaptada às condições climáticas da América do Sul equatorial” e “por ser também um exemplo notável de cidade colonial que preservou de forma excepcional sua malha urbana, harmoniosamente integrada a seu entorno natural”.

 

Praça de São Francisco, em São Cristóvão, Sergipe

Uma praça quadrada localizada em São Cristóvão, interior de Sergipe, conquistou o título de Patrimônio Histórico da Humanidade em 2010. A Praça São Francisco é um conjunto monumental composto de edifícios públicos e privados – civis e religiosos – que representam a fase de união das coroas portuguesa e espanhola. Aspectos arquitetônicos e culturais do período colonial e imperial brasileiro garantiram a entrada do local na seleta lista da Unesco. O complexo da Igreja e Convento de São Francisco a circunda. Segundo a organização, a praça exibe uma importante fusão de modelos urbanos, que ocorreu durante a unificação sob a coroa de dois impérios. É “um marco social da cidade e um local de importantes manifestações culturais e sociais”, além de “mostrar um paradigma de planejamento urbano racional integrado e adaptado às especificidades da topografia local”.

 

Centro histórico de Goiás, Goiás

Goiás foi criada em um vale, rodeada pela Serra Dourada e às margens do Rio Vermelho. Sua arquitetura colonial e os tipos de edificações não sofreram alterações em seu centro histórico, Patrimônios Culturais da Humanidade há 20 anos. De acordo com a Unesco, ela é um exemplo notável de uma cidade europeia admiravelmente adaptada às restrições climáticas, geográficas e culturais da América do Sul central. Seu conjunto arquitetônico e o traçado da estrutura urbana, característico do povoamento colonial, formado por casas, igrejas e monumentos históricos construídos com materiais e técnicas locais, também serviram como critério para a cidade carregar esse título. A casa da poeta Cora Coralina ganha destaque. A construção virou um museu que busca preservar e divulgar suas obras.

 

 

Por Tina Bini e Daniela Filomeno

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