Um roteiro inesquecível pelas cidades de El Calafate e El Chaltén, na Patagônia Argentina

O território extenso de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados é conhecido mundialmente como um destino de natureza de belezas únicas

Muitas histórias envolvem a Patagônia, território extenso de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, conhecido mundialmente como um destino de natureza de belezas únicas, que, desde o seu descobrimento, em 1520, impacta profundamente quem a conhece. 

 

Com destino à Patagônia Argentina, especialmente para desvendar El Calafate e El Chaltén, parto de São Paulo, para o aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, onde aguardo a conexão para o Aeroporto de El Calafate, na província de Santa Cruz, trajeto que demora 3h20. Ambos os voos são das Aerolineas Argentinas. Já é noite quando chego ao destino inicial, o que me impede de ver a paisagem dos entornos, algo que me fez ficar de boca aberta durante todos os dias.  

 

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El Chaltén 

 

Acordar para desvendar o desconhecido é, de certa forma, empolgante. Após uma noite de sono, parto para, enfim, El Chaltén. Lembro-me de que a primeira coisa que me falaram, nas vésperas da viagem em questão, é que a cidade é o destino mundial do trekking e recebe turistas do mundo inteiro, que buscam desvendar as suas trilhas. Mas não somente. Muito mais do que isso, El Chaltén é um destino recomendável àqueles que apreciam boa hotelaria, gastronomia e, até mesmo, história.  

 

Glaciar Huemul, em El Chaltén (Giulianna Iodice)

 

A Patagônia Argentina é cercada por glaciares, que compõem o Parque Nacional dos Glaciares. São mais de 140 deles, que, quando vistos de “perto”, são ainda mais impactantes – as cores, o derretimento, as dimensões. O mais famoso de El Chaltén, definitivamente, é o monte Fitz Roy, batizado em homenagem a Robert FitzRoy, capitão que levou Charles Darwin em sua viagem de exploração do mundo. A trilha que chega a ele é recomendada para aqueles que já possuem certa experiência, o que não é meu caso. Prefiro observar, então, o tão falado com certa distância, passando por pontos imperdíveis do parque – que é gratuito – como as diversas lagunas, como a Capri, numa distância de 4 quilômetros.  

 

Mesmo entre os meses mais “quentes”, que são de outubro a março, a época mais recomendada para viagens, El Chaltén é imprevisível. Vivi, no período de um dia, sol, chuva, ventos fortes, garoas. O tempo muda muito e de forma muito rápida. Levar roupas que se adaptem é a recomendação para atravessar as possíveis mudanças climáticas.  

 

O vilarejo de El Chaltén (Giulianna Iodice)

 

As opções de hotelaria são diversas, com várias categorias de hospedagens. O Los Cerros del Chaltén Boutique Hotel me recebeu muitíssimo bem, sempre me relembrando, devido à abundância de janelas envidraçadas e panorâmicas, o destino único em que estava. Os quartos são divididos em quatro categorias. A categoria Superior, em que me hospedei, tem opções com vista para a aldeia ou para o vale – destaque para essa, que me permitiu acordar durante dias “imersa” na natureza.  

 

A gastronomia foi algo surpreendente. São muitos os ingredientes locais, que extrapolam os peixes de água geladíssima, como a truta, que já me eram conhecidos. As carnes, como o cordeiro patagônico, são típicas, e, dependendo da época, os huemus. No Los Cerros, o restaurante El Viento tem ambiente elegante. É lá que são servidas todas as refeições, como o café da manhã, disposto num bufê, almoço e jantar. O bar, bem ao lado, conta com diversos lounges confortáveis, ideais para um drinque entre ou após as refeições.  

 

Em um dos dias, um almoço agradável no glamping Chalten Camp me revelou uma nova forma de explorar o destino. Mais afastado do centro do vilarejo, o local é focado em uma experiência de luxo, imersa na natureza e com baixo impacto ambiental. São apenas 12 tendas que mais se assemelham a casas, afastadas uma das outras.  

 

Rota 40, entre El Calafate e El Chaltén (Giulianna Iodice)

 

Para quem é amante de história, lugar tão “inóspito” traz muitas questões. Ventilada pela natureza, conheci a casa de Andreas Madsen, o que aflorou a imaginação. O escritor dinamarquês é autor do clássico Patagônia Vieja. Pisa a primeira vez na Argentina em 1901, período em que era marinheiro de embarcações. Volta a Dinamarca após alguns anos, casa-se com Stefanny Thomsen e, em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, retorna ao país, especificamente para El Chaltén, lugar em que constrói a sua casa e tem quatro filhos. São muitas as histórias e possivelmente lendas em torno desse homem notável. Ver de perto a casa onde viveu, a primeira da cidade, e escreveu livros é, de certa forma, tentar entendê-lo. A visita é guiada e altamente informativa, podendo ser complementada por um almoço. 

 

Casa de Andreas Madsen (Giulianna Iodice)

 

El Calafate 

 

Após três dias, retorno à primeira cidade, para cumprir partes obrigatórias para alguém que explora a região pela primeira vez. Havia escutado, com certa frequência, em idas à Argentina, sobre Perito Moreno – ou Pascaio Pascasio Moreno –, o maior dos exploradores argentinos. Tão conhecido a ponto de ter um glaciar gigante batizado com o seu nome, um dos mais famosos mundialmente. 

 

Geleira Perito Moreno (Giulianna Iodice)

 

Com 18 mil anos de idade, o seu paredão de 60 metros – equivalente a um prédio de 20 andares – é chocante. Para visitá-lo, é possível ver pelas passarelas, que foi o meu caso, mas também em embarcações, o que deve ser ainda mais surreal, devido à proximidade. É uma profusão de tons de azul, que se misturam ao branco, e o Lago Argentino, que tem um turquesa profundo.  

 

O dia foi muito bem aproveitado no Eolo Hotel, membro da Relais & Chateaux, com muita personalidade. Inserido numa paisagem bucólica, bem no estilo “quiet luxury”, de forma perfeita com o seu entorno. Foi no restaurante, sob o comando do chef Juan Pablo Bonaveri, que tive uma refeição esplêndida e vegetariana, com até mesmo os cogumelos morilles. Harmonizada com vinhos argentinos, que, aliás, são supremacia na propriedade, foi a despedida perfeita da viagem mais singular da minha vida. 

 

Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 135 da Versatille

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