Luxo distintivo: conheça a história de três criações icônicas de grifes
Os códigos são o que tornam as marcas eternamente reconhecíveis
Nesta seção de clássicos de luxo, a Versatille elencou três ícones de diferentes grifes os quais representam códigos de diferentes formatos ou tamanhos que tornam as grifes eternamente reconhecíveis. Conheça as trajetórias da estampa Toile de Jouy, da Dior, ovos Imperiais, da Fabergé e símbolo Gancini, da Salvatore Ferragamo.
Estampa Toile de Jouy, da Dior
A estampa foi criada na mesma época em que se iniciava o império da Dior e deu início a uma transformação da estética feminina no pós-guerra. Sua origem está justamente na ambição de Christian Dior de devolver às mulheres o esplendor e o encanto perdidos durante a guerra. Em fevereiro de 1947, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a feminilidade voltou à tona com o revolucionário New Look do estilista. Na época, Dior projetou o cenário ideal para suas clientes: a sede histórica da grife, localizada na Avenue Montaigne, 30, em Paris, que inicialmente constituía um butique-ateliê. Seu desejo era de que o espaço se tornasse uma verdadeira “colmeia”, como dizia o designer, onde todos os cantos transmitissem excentricidade, beleza e prazer.
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Dior convocou então dois amigos para ajudá-lo a dar vida a sua ideia: o decorador Victor Grandpierre e o artista, ilustrador e designer Christian Bérard, conhecido como Baby. A dupla apresentou ao estilista alguns dos futuros códigos emblemáticos que compõem a estampa. Eles foram os responsáveis por caracterizar o local com o icônico cinza Trianon − cor simbólica da grife; as cadeiras de rattan (tipo de palmeira originária de países da Oceania e Ásia), típicas do século 18; e a famosa Toile de Jouy da grife. Na sede histórica, a estampa pode ser encontrada sobre todos os móveis.
As figuras pastorais usadas por Victor Grandpierre e Christian Bérard são uma obra de Jean-Honoré Fragonard, pintor do rococó e romantismo francês. Tal padronagem firma a estética da Dior ligada ao espírito Grand Siècle, período do século 18 na França em que houve restauração da autoridade real e o fim das guerras religiosas, com forte influência cultural. “Nosso querido Baby, de gosto infalível, veio para dar um novo ar à coleção… Foi ele quem nos aconselhou a decorar a loja com a Jouy… Em meio a uma aparente desordem, ele criou vida”, contou Christian Dior mais tarde em sua autobiografia Dior & Moi, publicada em 1956, um ano antes de sua morte.
Como uma estampa-chave no trabalho tão chique e pivotante de Dior, a Toile de Jouy nunca deixou de inspirar os sucessores do grande estilista. Desde John Galliano e sua interpretação barroca até Kim Jones e a atual diretora criativa, Maria Grazia Chiuri, tal símbolo sempre transmite a atemporalidade de sua sofisticação. Versátil e verdadeiramente icônica, a estampa se adapta a diferentes tipos de modas, linhas e época sem perder sua força e graciosidade.
“A ideia da Toile de Jouy me ocorreu no estúdio um dia, quando estávamos todos conversando. Os franceses na equipe não sabiam o que pensar. Mas eu, sendo italiana, vi essa pintura como algo exótico. A principal ressalva era que estávamos tocando em algo tão codificado que iria impedir a modernidade“, diz Maria Grazia Chiuri. Seja nas coleções-cápsula Dioriviera, seja na bela linha de louças criada a partir da fôrma de porcelana Limoges ou na recente coleção de loungewear Dior Chez Moi, a Toile de Jouy é marcante e invoca a força estética de um universo bucólico e fantasioso.
Ovos Imperiais, da Fabergé
A célebre série de 50 Ovos Imperiais foi criada para a família real russa no período de 1885 a 1916, quando a joalheria era dirigida por Peter Carl Fabergé. Eles acompanham toda a glória e o trágico destino da última família Romanov, vítima de fuzilamento. Os ovos foram a principal criação da renomada joalheria russa e são considerados as últimas grandes encomendas de objetos de arte. Dez unidades foram produzidas entre 1885 e 1893, durante o reinado do imperador Alexandre III, e outros 40 no decorrer do governo de seu filho, Nicolau II, que encomendava dois a cada ano, um para sua mãe e outro para sua esposa.
A série começou em 1885, quando o imperador solicitou um ovo a Fabergé como presente de Páscoa para sua esposa, a imperatriz Maria Feodorovna. Exteriormente, parecia ser um simples ovo de ouro esmaltado, mas sua parte interna tinha um valor inestimável: havia uma gema de ouro, que dentro de si possuía uma galinha, a qual, por sua vez, continha um pingente de rubi e uma réplica em diamante da coroa imperial.
A imperatriz ficou tão impressionada com o presente que Alexandre nomeou Fabergé o “fornecedor da corte” e passou a encomendar um ovo por ano, com a condição de que fosse único e contivesse uma surpresa. Seu filho, Nicolau II, deu sequência à tradição e anualmente presenteava sua esposa, Alexandra Feodorovna, e sua mãe. Assim que o tema era escolhido, uma equipe de artesãos começava a trabalhar no projeto. Diversos clientes particulares surgiram a partir da fama despertada pelos Ovos Imperiais.
Os materiais utilizados para a criação dos ovos de luxo eram os metais prata, ouro, cobre, níquel, paládio e platina, combinados em proporções variadas a fim de produzir diversas cores. Além disso, era empregada a técnica de esmaltagem plique-à-jour e adicionadas pedras preciosas como rubi, quartzo, diamante, jade e ágata.
Dos 50 Ovos Imperiais, atualmente existem 43 localizados em museus, instituições e coleções pelo mundo. O terceiro dos 50 Ovos, avaliado em 2 milhões de euros, foi descoberto em 2014 em um mercado de rua nos EUA. A peça contém um relógio Vacheron Constantin, que se encontra em seu interior, mede cerca de 8,2 centímetros de altura e foi oferecida na Páscoa pelo czar Alexandre III à mulher, Maria Feodorovna, em 1887.
Símbolo Gancini, da Salvatore Ferragamo
Em 21 de janeiro de 1972, a influente revista americana Women’s Wear Daily apresentou uma bolsa da Salvatore Ferragamo na qual o fecho era um acessório de metal em formato de gancho, que viria a se tornar uma das assinaturas da grife: o Gancini. A origem de seu design é desconhecida, mas a marca tem uma lenda de que a fonte de inspiração para a figura foi o portão de ferro forjado (fundido e malhado em um forno utilizado para aquecer os metais até tomar determinada forma) do medieval Palazzo Spini Feroni − sede da Salvatore Ferragamo em Florença − ou os anéis de metal usados para amarrar cavalos, presentes em sua famosa fachada. Para assegurar o símbolo, em 26 de julho de 1978 foi feito o pedido de patente nº 46069/78 referente ao desenho “Gancini”, o qual foi concedido em 23 de outubro do mesmo ano (patente nº 318701).
Independentemente da real história, o fecho Gancini tem sido cada vez mais utilizado em acessórios de couro e calçados. Seu sucesso deriva da forma como constrói um equilíbrio entre estilo e funcionalidade. Na coleção primavera/verão de 2019, por exemplo, a Salvatore Ferragamo apresentou um monograma inédito: o “Ferragamo Gancini”. Essa nova identidade visual foi a reinterpretação feita pelo designer Paul Andrew do emblemático logo de gancho duplo da grife italiana.
Desde seu lançamento, celebridades ícones de estilo globais, como Angelina Jolie, Lucy Hale e Jane Fonda, já foram vistas com peças feitas desse exclusivo jacquard de algodão. O Ferragamo Gancini passou então a estampar looks completos: bolsas, sapatos, lenços e outros acessórios masculinos e femininos.
A proposta do designer ao reinterpretar o símbolo da herança, artesanato e qualidade de produção da marca foi celebrar a união entre tradição, modernidade, diferentes gerações e, principalmente, a família Ferragamo e seus admiradores. O Gancini sempre representou na grife um ponto de conexão, tanto literal – adornando fechos de sapatos, cintos e bolsas – quanto simbolicamente.
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“Como designer, valorizo a elegância inata da refinada simplicidade do Gancini e a sensualidade de sua forma. Outro aspecto é sua dualidade: as fivelas que se conectam e se sustentam. A beleza do formato do Gancini é algo que trabalhei para enfatizar e enriquecer através da criação desse novo monograma”, disse Andrew.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 123 da Versatille