Luxo revolucionário: conheça a história de três produtos icônicos de grifes
Perfumes, tecidos e relógios: a quebra de paradigmas é uma constante na história dos modelos emblemáticos das grifes
Nesta seção de clássicos de luxo, a Versatille elencou três ícones de diferentes grifes que se destacam pelo papel revolucionário no período de criação e excelência na manufatura. Conheça as trajetórias do perfume Chanel N ° 5, coleções de seda da Salvatore Ferragamo e relógio Royal Oak, da Audemars Piguet.
Perfume Chanel N° 5
O Chanel N° 5, símbolo olfativo da grife francesa, é um sucesso desde sua criação, há 100 anos. Sinônimo de elegância e uma forma única de viver, a fragrância dourada envolvida por um frasco com linhas arquitetônicas resistiu à passagem do tempo sem perder sua modernidade. O perfume é uma criação radical em todos os sentidos, e pode-se caracterizá-lo como o gêmeo olfativo de Gabrielle Chanel, que representa um reflexo da personalidade da fundadora.
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Sua fragrância é abstrata e exala o aroma de uma combinação de flores. Quando Gabrielle Bonheur Chanel, mais conhecida como Coco Chanel, e o perfumista Ernest Beaux criaram o N° 5, em 1921, eles tinham em mãos muito mais do que uma nova fragrância, e sim uma revolução olfativa. O perfume foi desenvolvido no laboratório de Beaux em Grasse, uma pequena cidade na Riviera Francesa que representa um importante centro da perfumaria no país desde o século 17. Coco, uma designer de moda visionária e a primeira a dar seu nome a uma fragrância, rejeitou a ideia de que um perfume tinha de estar diretamente associado ao aroma de uma única flor.
Rompendo com a tradição da época, que privilegiava os “soliflores” (aromas florais únicos), ela pediu a Beaux uma fragrância artificial como um vestido feito a mão. “Eu sou uma costureira, não quero rosa ou lírio-do-vale, e sim um aroma composto, que tenha cheiro de mulher”, dizia. O perfumista projetou uma arquitetura olfativa constituída de 80 aromas cujas notas como rosa de maio, jasmim, ilangue-ilangue e sândalo foram misturadas pela primeira vez na história com aldeídos em proporções que exaltavam as fragrâncias. Esse “buquê” único foi responsável por inserir a produção de perfumes na era moderna.
Outra sacada de mestre da lendária estilista está na intitulação da fragrância. Ao contrário dos perfumistas do início do século 20, ela renunciou a nomes poéticos por um número de registro simples: “5”. Há relatos de que ele representa a quinta amostra apresentada por Beaux, mas foi também o escolhido por Coco – que se interessava por signos e símbolos – como seu amuleto da sorte. Como ela costumava apresentar suas coleções no quinto dia dos meses de fevereiro e agosto, a escolha não poderia ter sido diferente.
Salvatore Ferragamo
A marca foi sinônimo de sapatos femininos até 1950, mas seu fundador, Salvatore, sonhava que ele pudesse vestir uma mulher da cabeça aos pés. No fim dos anos 1950, com a ajuda de ilustradores experientes e até artistas, o estilista começou a produzir seus primeiros lenços de seda. Entre os temas preferidos, a arte e os monumentos deslumbrantes das cidades italianas, alinhados com a tendência da época de apoiar as criações contemporâneas e celebrar as tradições artísticas e artesanais do país.
No entanto, o sonho de Salvatore só foi realizado por sua esposa e seus seis filhos após sua morte, em 1960. Sua filha Fúlvia foi quem lançou a produção contínua de acessórios de seda para mulheres e homens com padrões personalizados, nos anos 1970. A começar por lenços e gravatas, as criações se diversificaram nos anos seguintes para cobrir todas as variações possíveis de tecido estampado, como bolsas, sapatos, almofadas, utensílios domésticos, camisas, ternos e vestidos.
Foi nessa época que a seda se tornou a marca registrada da Ferragamo e, consequentemente, as estampas aplicadas no material. Temas étnicos e acadêmicos criados como miniaturas e inspirados em ilustrações de livros antigos e artes decorativas são os elementos mais recorrentes nos laços produzidos pela marca. Nos lenços, a flora e a fauna exóticas. As criações também são influenciadas pela arte oriental, pinturas do século 20 e livros antigos sobre botânica e ciências naturais, que podem ser encontrados nas bibliotecas italianas.
Desde o dia 25 de março, tem sido transmitida pelo Museu Salvatore Ferragamo, localizado em Florença, uma exposição sobre a identidade da marca na criação de itens de seda. Além de ilustrar o longo processo criativo por trás da estamparia, o projeto engloba a restauração do salão de bailes do Villa del Poggio Imperiale (antigo palácio grã-ducal também situado na cidade florentina), a criação de vitrines especiais e o lançamento de um novo design de lenço, em edição limitada. Embora o atual formato seja virtual, a exposição poderá ser aberta ao público dependendo das condições pandêmicas, visto que estará em cartaz até 18 de abril de 2022.
Relógio Royal Oak, da Audemars Piguet
Em 1972, quando os primeiros relógios de quartzo estavam prestes a provocar uma crise sem precedentes na indústria relojoeira suíça, a Audemars Piguet desafiou as convenções com seu primeiro relógio esportivo de alta qualidade e feito de aço inoxidável, o Royal Oak. A história começou quando Audemars Piguet e o designer Gérald Genta se juntaram para pensar em uma categoria de relógios finos destinada a uma nova geração de clientes. O objetivo era criar um modelo esportivo luxuoso com design ultracontemporâneo, que pudesse ser usado todos os dias.
O acessório foi pensado para se enquadrar a um estilo de vida mais ativo do que na década de 1970, quando os esportes radicais começaram a se tornar populares. Também era preciso proteger o movimento automático mais fino da época (3,05 mm), desenvolvido por Audemars Piguet em 1967 com uma armadura resistente. O aço inoxidável, até então pouco convencional na alta relojoaria e muito mais difícil de trabalhar do que o ouro, exigia investimentos em novas ferramentas e técnicas a fim de atingir os acabamentos exigidos.
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O Royal Oak revolucionou os códigos de design da relojoaria com sua grande luneta octogonal, caixa em forma de barril de 39 mm (apelidada de “Jumbo” na época), parafusos hexagonais, pulseira de aço integrada com elos de tamanho decrescente e o guilloché inovador torneado. A caixa de aço e a pulseira do Royal Oak apresentam técnicas de acabamento tradicionais refinadas, que tornaram suas superfícies alternadas polidas e lustradas a mão a marca registrada do relógio.
O acessório vanguardista foi batizado de Royal Oak em homenagem ao nome do carvalho onde o rei Carlos II da Inglaterra se escondeu em 1651 para sobreviver na Batalha de Worcester, bem como dos antigos navios de guerra da marinha britânica com casco revestido de aço. O título, portanto, buscava transmitir por meio do relógio força, status e legado. Após passar por inúmeras interpretações, o Royal Oak continua a surpreender com mais cores, materiais e inovação. Suas estética e funcionalidades únicas são fundamentais para preservar a expertise histórica de manufatura e complicações atemporais da alta relojoaria.