Entenda como a pandemia ressignificou o ato de presentear
As empresas Nana Valle, Gio Sonda, VINGT e Theodora Home são experts quando o objetivo é demonstrar carinho por meio de presentes
A pandemia transformou costumes e reconfigurou a forma com que os humanos se relacionam. O isolamento social escancarou a importância da convivência coletiva e forçou um olhar mais cuidadoso para as interações, principalmente no que diz respeito às demonstrações de afeto, antes tidas como garantidas. O ato de presentear ganhou um novo significado com a distância, e as marcas passaram a ofertar algo bem além do material. Quatro empresas comandadas por mulheres – Nana Valle, Gio Sonda, VINGT e Theodora Home são experts quando o objetivo é demonstrar carinho por meio de presentes.
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A designer mineira Nana Valle, proprietária da marca homônima, vê na ausência do abraço um divisor de águas para a mudança no formato de presentear. Para ela, a demonstração física era a melhor forma de presentear alguém com afeto, até melhor que algo material. Giovana Sonda, nome por trás da Gio Sonda, define o propósito de sua marca como “levar amor todos os dias”. Em meio a tantas quebras de paradigma, ela afirma que os motivos pelos quais os clientes compram seus produtos estão ligados à intenção de demonstrar o carinho de quem os envia, e não ao valor em números.
A flower boutique VINGT, da economista Márcia Raposo, foi lançada em novembro de 2020. A proposta é ofertar algo além de uma floricultura usual. Márcia explica que quem recebe uma das caixas exclusivas pensa que há tudo dentro dela, menos um arranjo floral. O objetivo é surpreender. Já Marcela Caio, da Theodora Home, viu na ressignificação do ato de presentear uma ótima oportunidade para lançar produtos wellness. Os itens de bem-estar para uso em casa invertem a perspectiva que enquadra o lar como um ambiente de quarentena e o transforma num verdadeiro refúgio.
Nana Valle
A mineira Nana Valle fundou sua marca há 15 anos, motivada pelo prazer de receber amigos em casa e colocar a mesa. “As pessoas são o que me motiva e me inspira. Acredito que vivenciar momentos relevantes e emocionantes é o que move o mundo e cria memórias afetivas que sempre serão lembradas”, explica.
Seu core business sempre foi a curadoria de utensílios de mesa avulsos. Com a pandemia, a empresária desenvolveu uma linha especial, batizada de “ESTAR PRESENTE”. São oito modelos de caixas temáticas que buscam propiciar experiências significativas e fazer parte do cotidiano e que tentam, de alguma forma, suprir o vazio sentimental. Inspiradas nos hobbies de pessoas próximas que Nana admira, as caixas representam não só um momento especial mas também, de forma subjetiva, o próprio abraço, tão desejado no cenário atual.
Para ela, com a chegada da nova forma de presentear, mesmo após a normalização do cenário atual, a compra “óbvia” e impessoal será substituída por algo com maior sentido, acompanhado do carinho presencial. “Ninguém quer mais o que é efêmero, e receber um item do tipo traz a sensação de que o outro percebe você”, conclui.
Gio Sonda
A empresária Giovana Sonda passou a comercializar cestas de produtos garimpados a partir de sua paixão por presentear e por sua memória afetiva com a comida. “A gastronomia sempre foi algo muito presente em minha vida, desde criança. Sou de família italiana, do Rio Grande do Sul, então aquilo de estar todo mundo ao redor da mesa, comendo e festejando, é muito presente em minhas lembranças”, conta.
Outra característica pessoal refletida nos produtos da loja é o gosto de Giovana por poesia. Ela conta que todas as cestas são acompanhadas por uma etiqueta com uma frase relacionada ao sentido da lembrança. “Tenho muitos cadernos nos quais costumo anotar frases de livros, então para mim acaba sendo fácil conectar o sentimento com o presente”, explica, ressaltando também que esse é o detalhe especial que toca quem o recebe.
A diversidade dos produtos utilizados pela marca contribui para agradar a diversos perfis de pessoas, e é o garimpo que atribui o caráter único de cada cesta. “Desde que comecei, o que mais me moveu foi isso. Por exemplo, eu viajo para o Espírito Santo para buscar um embutido incrível em uma montanha que só uma família faz”, explica Giovana.
Apesar da multiplicidade, alguns itens estão sempre presentes. Um deles é o pão, que gera de imediato uma sensação afetiva. “É o alimento mais antigo do mundo, que todos trazem na memória. Ele leva você a um lugar quentinho do coração”, comenta a empresária.
Outro diferencial das cestas é conter um item atemporal, o qual contribui para reforçar o sentido do presente. Itens como a ampulheta, que remete à ideia da passagem do tempo e de aproveitá-lo, principalmente em meio ao contexto de incerteza, e a lupa, que no sentido figurado visa ampliar os sonhos e a felicidade do momento, são comumente vistos nas criações.
VINGT
A VINGT é uma nova floricultura-butique que reinventou a forma de ganhar flores. A fundadora, Márcia Raposo, transformou a tradicional demonstração de afeto em um verdadeiro luxo. O grande diferencial são as caixas que embrulham os arranjos. Elaboradas a partir das tendências de moda, design e arquitetura das marcas mais conceituadas, elas não são apenas embalagens e podem ser utilizadas até mesmo como peças de decoração.
“O principal impacto da escolha da VINGT como um presente é a própria caixa em si, ela já chama bastante atenção. Quem compra hoje uma caixa com flores é porque quer surpreender e encantar aquele que vai ganhar”, conta Márcia. As flores também não ficam para trás na sofisticação nem no cuidado. Os arranjos têm curadoria da renomada flower designer Eliane Frate, que busca estruturá-los de forma minimalista e caprichosa, para que o remetente conheça e tenha a experiência de apreciar cada tipo de flor. Para completar, as edições são limitadas, o que aumenta a expectativa e o desejo.
Outro aspecto que torna a compra especial é o atendimento, por meio de um concierge: “Ele atende de forma muito humanizada, personalizada e customizada e ajuda o cliente a escolher. Não é aquilo de só entregar o catálogo e direcionar para o site”, explica Márcia. Após a entrega, o concierge mantém contato com o presenteado, para explicar os cuidados necessários a fim de que o arranjo dure o máximo possível, prolongando a experiência do presentear.
Por fim, a empresária destaca que seu presente é atemporal, o que permite transmitir afeto independentemente de celebrações comemorativas ou épocas específicas. “Todos os dias você pode dar e receber flores. Por isso afirmo que nosso principal propósito é conectar as pessoas por meio da melhor experiência. A gente leva a emoção do contato com as flores, o que uma pessoa está querendo desejar para outra em qualquer data.”
Theodora Home
O e-commerce Theodora Home tem muitos traços da personalidade de sua fundadora, Marcela Caio – antes de empreender no segmento de decoração para a casa, ela atuava no mercado financeiro. “Eu não me via trabalhando naquilo a vida toda e passei a buscar algo que fizesse meu olho brilhar. Foi a partir daí que cheguei ao conceito inicial da Theodora, uma curadoria de objetos que eu gostaria de ter em minha casa”, introduz.
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Apesar de a marca existir há oito anos, a pandemia trouxe lançamentos, como a Wellness, apresentada em outubro de 2020. Desde equipamentos para meditação e géis de equilíbrio de chakras até aulas de mindfulness, os produtos visam a transformar a casa em um refúgio, de modo a aumentar a qualidade de vida dos dias no lar, principalmente durante a quarentena. “Os artigos são como ferramentas, pois servem como um meio de reconectar a gente e melhorar o bem-estar. Ao utilizá-los, você tira pelo menos um minuto de pausa”, explica Marcela.
Para ela, a mudança de mindset que 2020 trouxe foi muito clara no que diz respeito à forma como as pessoas enxergam a casa: “A gente não está mais falando só de nossa casa física, e sim do ser que habita nela, o qual também precisa de cuidados, mental e espiritual”.
Em sua visão, a experiência de se presentear está associada a cuidado e pessoalidade. “Eu vejo como um gesto de carinho. Sem dúvida nenhuma, a escolha na compra dos produtos foi ressignificada”, conclui.