Museus devem estar entre os primeiros espaços culturais a reabrir no Brasil

Conversamos com Renata Motta, presidente do comitê brasileiro do Conselho Internacional de Museus, sobre as expectativas de mudanças nos museus após a pandemia.

A pandemia de coronavírus provocou o encerramento de exposições de arte e fechamento de museus em todo o mundo. Desde então, instituições pelo mundo vêm planejando um novo cenário para a reabertura.

Alguns museus já voltaram a receber visitantes na Europa e na Ásia, mas o que podemos esperar das instituições culturais em um mundo pós-pandemia no Brasil? VERSATILLE conversou com Renata Motta, presidente do comitê brasileiro do Conselho Internacional de Museus (ICOM), sobre as perspectivas das exposições e da arte, no nosso país.

 

 

“No Brasil já estamos trabalhando na preparação dos museus para a reabertura. É interessante observar que os museus devem estar entre os primeiros espaços culturais a serem reabertos, pois conseguem estabelecer um fluxo mais controlado e podem prescindir de um contato direto”, Renata conta.

 

As perspectivas de mudança são vistas para as áreas de logística, segurança e higiene. Na Europa, por exemplo, os museus criaram sistemas online de vendas de ingressos com turnos de visitação, em busca de prevenir a formação de multidões, e visitas em grupo foram canceladas. Outras instituições cortaram o uso dos guias em áudio, e solicitam que os visitantes tragam seus próprios fones de ouvido.

 

Em alguns locais, barreiras de plástico transparente foram instaladas para proteger os funcionários. Além disso, os visitantes são encorajados a usar estações instaladas ao longo das exposições para desinfecção constante das mãos.

 

No cenário nacional, Renata Motta acredita que a arquitetura das exibições deve mudar, mas inicialmente o maior impacto deve ser a redução de grandes exposições, com obras internacionais, que se tornaram tão habituais para o público brasileiro.

 

Renata Motta, Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus

 

No primeiro momento, o ICOM se preocupa com o profundo impacto econômico da pandemia nas instituições, seus profissionais e a sustentabilidade futura das instituições culturais.

 

A Associação Americana de Museus apontou que 30% dos museus americanos correm risco de não reabrirem; o ICOM e a UNESCO também divulgaram nesta semana pesquisa indicando que 13% das instituições podem não reabrir.

 

Mas, segundo Renata, uma das maiores preocupações são os modelos em que os museus e o sistema cultura, como um todo, funcionam.

 

“Será importante rever a gestão econômica, as formas de operação devido às restrições sanitárias (que podem permanecer, ainda que flexibilizadas, por um longo tempo). Mas gostaria de chamar a atenção para a dimensão social das nossas instituições culturais. Diante dos desafios sociais que a pandemia explicitou tão contundentemente – milhões de brasileiros sem saneamento, por exemplo -, precisamos que a cultura tenha uma ação mais solidária e socialmente engajada“, reflete.

 

 

Renata conta que os museus já vinham ampliando muito a presença digital. Ela cita o exemplo de alguns museus internacionais de grande porte como o Rijksmuseum, em Amsterdam, que ficou vários anos fechado para um grande restauro: “a estratégia digital se tornou central na instituição”.

 

Para a presidente do comitê brasileiro do ICOM, as experiências virtuais terão cada vez mais relevância, mas servirão como um complemento. “O virtual nunca substituirá a experiência da visita presencial, em que ativamos nossos sentidos diante da obra material”.

 

A pandemia, de uma maneira geral, vem expondo as fragilidades e desigualdades da nossa sociedade. “Acredito que a arte e cultura terão sim um novo lugar no mundo pós-pandemia, pois são uma dimensão criativa e transformadora importante para podermos elaborar uma sociedade mais solidária e igualitária”, conclui Renata.

 

Por Sofia Tremel 

Fotos: Reprodução Instagram

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